sábado, 26 de janeiro de 2013

SIMPLESMENTE KARDEC


SIMPLESMENTE KARDEC



... Não devo, entretanto, omitir uma censura que me foi endereçada: a de nada fazer para trazer de novo a mim as pessoas que se afastam. Isso é verdadeiro e a reprovação fundamentada. Eu a mereço, pois jamais dei um único passo nesse sentido e aqui estão os motivos de minha indiferença.

Aqueles que de mim se aproximam, fazem-no porque isto lhes convém; é menos por minha pessoa do que pela simpatia que lhes desperta os princípios que professo.
Os que se afastam
 fazem-no porque não lhes convenho ou porque nossa maneira de ver as coisas reciprocamente não concorda.

Por que, então, iria eu contrariá-los, impondo-me a eles?
Parece-me mais conveniente deixa-los em paz. Ademais, honestamente, carece-me de tempo para isto.

Sabe-se que minhas ocupações não me deixam um instante em repouso.
Além disso, para um que parte, há mil que chegam. Julgo um dever dedicar-me, acima de tudo, a estes e é isso que faço.

Orgulho? Desprezo por outrem? Oh! Não! Honestamente, não!
Eu não desprezo ninguém; lamento os que agem mal, rogo a Deus e aos Bons Espíritos que façam nascer neles melhores sentimentos. E isso é tudo.
Se retornam, são sempre recebidos com júbilo. Mas correr ao seu encalço, isso não me é possível fazer, mesmo em razão do tempo que de mim reclamam as pessoas de boa vontade, e, depois, porque não empresto a certos indivíduos a importância que eles a si próprios atribuem...

(Allan Kardec)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

REVISTA O ESPÍRITA PUBLICOU - ADULAÇÕES ELOGIOSAS SÃO PEÇONHAS NA FORMA VERBAL

Jorge Hessen / Brasília

O que uma pessoa tende a valorizar mais: satisfação sexual, dinheiro, comida, álcool, amigos ou elogios? “Pesquisadores avaliaram os desejos e gostos de alguns estudantes universitários sobre uma série de desejos e gostos e os resultados, para surpresa dos estudiosos, indicaram que os voluntários dão mais valor a um elogio ou uma avaliação positiva do que comer sua comida preferida, satisfazer-se sexualmente, beber, receber o salário do mês e até encontrar um melhor amigo.”(1)
Portanto, embora surpresos, os pesquisadores confirmaram que o desejo de se “sentir valorizado”, através de elogios, triunfa sobre qualquer outra situação prazerosa. Cremos que estamos observando gerações em que uma parcela gigantesca de cidadãos é constituída de adultos condescendentes, imaturos para os obstáculos, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e dotados de uma alucinante certeza de que o mundo lhes deve algo, por isso, exigem ser adulados.
Não há dúvida de que a ausência de palavras e frases motivadoras, cada vez mais incomuns nos ambientes domésticos, prejudica a relação parental. Raramente observam-se muitos homens estimulando com palavras edificantes suas mulheres e vice-versa, não se constata regularmente chefes estimulando com sinceridade o trabalho de seus subordinados, não é muito comum pais e filhos estimulando-se com palavras afetuosas.
Óbvio que o bom profissional, inobstante não almeje, valoriza uma palavra e estímulo , o bom filho gosta de ser reconhecido, o bom pai ou a boa mãe exultam de ser avaliados positivamente, o bom amigo, a boa dona de casa, a mulher que se cuida, o homem que se dedica, enfim, vivemos numa sociedade em que um precisa do outro; é impossível um homem viver sozinho, e as palavras motivadoras (que não pode resvalar para elogios) são a oxigenação de ânimo na vida de qualquer pessoa.
Desde que adentramos nos portais dos ensinos kardecianos, aprendemos que o elogio (ainda que bem intencionado) nos amolece e ilude. E nada existe de mais frágil que uma criatura iludida a seu próprio respeito. É verdade , os Benfeitores nos advertem a fim de que não percamos nossa independência construtiva a troco de considerações humanas (bajulações), posto que a armadilha que pune o animal criminoso é igual à que surpreende o canário negligente.
Até mesmo nos momentos de agruras de alguém, “nas horas difíceis, em que vemos um companheiro despenhar-se nas sombras interiores, não olvidemos que, para auxiliá-lo, é tão desaconselhável a condenação, quanto o elogio.” (2) Sussurra a prudência cristã que nunca cederíamos campo à vaidade se não vivêssemos reclamando o deletério coquetel da lisonja ao nosso egocentrismo doentio.
Invariavelmente ficamos submissos às injunções sociais quando buscamos aprovação (bajulações) dos outros, “quando permanecemos na posição de permanentes escravos e pedintes do aplauso hipócrita e do verniz, da lisonja, condicionando-nos a viver sem usufruir de liberdade de consciência, submetendo-nos a ser manipulados pelos juízos e opiniões alheias.”(3)
O elogio nos arremessa à presunção, a afetação nos remete à vaidade. Nesse insofreável desejo de chamar a atenção alheia, queremos ser
aplaudidos e reverenciados perante os outros. Atualmente adota-se assustadoramente o hábito dos dirigentes incautos de elogiar e exaltar oradores em público. Essas pompas e grandiloquências, observadas à volta de alguns oradores famosos, é bem a repetição dos faustos do cristianismo sem o Cristo.
A rigor, se alguém vem a público dizer que um orador é "maravilhoso", "fantástico", "brilhante", "inesquecível", "insubstituível" e outras bajulices, logicamente está elogiando e jamais estimulando ou motivando tal “homenageado”.
Por essas razões, importa vigiarmos as próprias manifestações, não nos julgando
indispensáveis e preferindo a autocrítica ao auto-elogio, recordando que o exemplo da humildade é a maior força para a nossa transformação moral. “Toda presunção evidencia afastamento do Evangelho.” (4)
É imprescindível não elogiar (adular)  as pessoas que estejam agindo de conformidade com as nossas conveniências, para não lhes criar empecilhos à caminhada enobrecedora, embora nos constitua dever prestar-lhes assistência e carinho para que mais se agigante nas boas obras. O elogio (adulação) é peçonha em forma verbal. Por essa razão, não esqueçamos que “ainda quando provenha de círculos bem-intencionados, urge recusar o tóxico da lisonja, pois no rastro do orgulho, segue a ruína.” (5)




Referências bibliográficas:


(1)‘Disponível no site http://super.abril.com.br/blogs/cienciamaluca/o-que-a-gente-valoriza-mais-sexo-dinheiro-comida-alcool-amigos-ou-elogios acessado em 24/03/2011

(2) Xavier, Francisco Cândido. Fonte Viva, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2000,  Cap 37
(3) Xavier, Francisco Cândido. Saudação do Natal – Mensagem “Trilogia da vida”, ditado pelo  espírito Cornélio Pires , SP: Editora CEU, 1996
(4) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1972,  Cap 18
(5) Idem cap 20

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

PESQUISAS SOBRE O UNIVERSO CONFIRMAM O ENCANTO CÓSMICO


Jorge Hessen
http://jorgehessen.net



A vida humana e o Universo são surpreendentes mistérios. Dádiva de Deus, que não podemos, nem vamos compreender de maneira tão bucólica. Uma das províncias científicas que mais têm crescido, desde os anos 50, fazendo audaciosas pesquisas, ampliando muito o acervo de seus conhecimentos, é a Astronomia. Dela derivam, ou com ela interagem, a Astrofísica, a Astroquímica e a Exobiologia (estudo da possibilidade de vida fora da Terra).
Em verdade, os astrofísicos prosseguem viajando pelo Universo ilimitado a fim de descobrirem os segredos do Cosmo. De tal modo, vão identificando estrelas, planetas, cometas, galáxias e composições singulares dos “buracos negros” (sabe-se que alguns são duplos e outros com massa de 10 e 20 vezes maior que o Sol). Nessa pugna, desvendou-se que uma em cada seis estrelas pode abrigar em sua órbita um planeta com as dimensões da Terra. Com base nesse dado, os pesquisadores afirmam que pode haver um total de 17 bilhões desses planetas na miúda Via Láctea.
Há investigação sobre possível vida fora da Terra.(1) Há 5 anos, o telescópio Kepler vem observando uma parte fixa do firmamento, captando mais de 150 mil estrelas em seu campo de visão. Ele detecta a diminuta redução na luz que chega de uma estrela quando um planeta passa em frente a ele, no que é chamado trânsito. Um dos quatro planetas, batizado de KOI 172.02, tem apenas uma vez e meia o diâmetro da Terra e gira em torno de uma estrela semelhante ao Sol (talvez a versão mais próxima já descoberta de uma "gêmea" da Terra).
A nanica Terra, embora pese mais de 6 sextilhões de toneladas e apresente uma superfície de 510 milhões de quilômetros quadrados, nem por isso tem presença expressiva para o Sistema Solar. Júpiter, por exemplo, é 1.300.000 vezes maior que nosso orbe. "Marte está distante de nós cerca de 56.000.000 de quilômetros, na época de sua maior aproximação; Capela é 5.800 vezes maior que nosso “planetinha”; Canópus tem um brilho oitenta vezes superior ao Sol".(2) Há estrelas tão brilhantes e cuja luz tem uma intensidade 1 milhão de vezes maior do que a luminosidade solar.
O Sistema Solar possui 9 planetas com 57 satélites. No total, são 68 corpos siderais. E, para que tenhamos noção de sua insignificância, diante do restante do Universo, "nosso Sistema compõe um minúsculo espaço da pequena Via Láctea"(3), ou seja, um aglomerado de aproximadamente 100 bilhões de estrelas, com pelo menos cem milhões de orbes, que, segundo Carl Seagan, no mínimo, 100 mil planetas com possibilidade de vida inteligente e mil com civilizações mais evoluídas que a nossa.(4)
O Espírito Emmanuel confirma que, "nos mapas zodiacais, observa-se, desenhada, uma grande estrela na Constelação do Cocheiro, que recebeu, na Terra, o nome de Cabra ou Capela. Magnífico sol entre os astros que nos são mais vizinhos, ela, na sua trajetória pelo Infinito, faz-se acompanhar, igualmente, da sua família de mundos, cantando as glórias divinas do Ilimitado. A sua luz gasta cerca de 42 anos para chegar à face da Terra."(5) Do sistema capelino vieram alguns seres humanos degredados para a Terra.
Segundo William Borucki, um dos líderes da missão do Kepler, "o homem está chegando à fronteira dos planetas que podem potencialmente ter vida".(6) “Acreditar que só haja vida no planeta que habitamos é duvidar da sabedoria de Deus, que não fez coisa alguma inútil. Aliás, nada há, nem na posição, nem no volume, nem na constituição física da Terra, que possa induzir à suposição de que ela goze do privilégio de ser habitada, com exclusão de tantos milhares de milhões de mundos semelhantes”.(7) Aprendemos com os Espíritos que “há mundos cujas condições morais dos seus habitantes são inferiores às da Terra; em outros, são da mesma categoria; há mundos mais ou menos superiores e, finalmente, há aqueles nos quais a vida é, por assim dizer, toda espiritual.”(8)
Noutra linha de investigação cosmológica, visando descobrir o que sobreveio logo após do surgimento do Universo, o telescópio espacial Hubble detectou um grupo de galáxias primitivas, formadas há mais de 13 bilhões de anos, portanto logo em seguida da explosão do Big Bang - que conforme calculam os cientistas da Nasa (agência espacial americana) - ocorreu há 13,7 bilhões de anos.
Em suma, quem ansiar por abranger a vida cósmica, idealize uma excursão solitária por uma alameda erma, contemplando a grandeza do espaço infinito, certamente dirá arrebatado: Eis que observo milhões de astros que cintilam! Porém submergirá na primeira ilusão, porque só se avista a olho nu aproximadamente 5 mil estrelas. Para ser mais exato - 2.500, porquanto as demais 2.500 estrelas estarão do lado oposto da Terra, onde viceja o Sol e não são visualizadas. Todavia se empregar de um binóculo simples poderá notar 15 mil estrelas; se valer-se de um telescópio caseiro poderá observar 150 mil estrelas, e se for buscar os recursos do telescópio de Monte Palomar poderá ver 30 milhões de estrelas em nossa galáxia. Se for ao observatório de rádio-astronomia da Alemanha, saberá que a minúscula Via Láctea tem mais de 100 bilhões de estrelas. E saberá também que é uma galáxia subdesenvolvida, porque existem trilhões de galáxias maiores do que ela.
A luz do Sol, viajando a uma velocidade de cerca de 300.000 km/s, chega até nós aproximadamente 7 minutos e 8 segundos depois de ter partido de lá. Alpha de Hércules é uma estrela tão grande, que se fosse colocada no nosso sistema solar, em substituição ao astro-rei, ocuparia o espaço do Sol, e ainda dos planetas Mercúrio, Vênus, Terra, Marte e outros, porque ela é cerca de 80 mil vezes maior do que o Sol.
Foram detectados quasares, os corpos mais antigos e brilhantes do Universo, que somente podem ser observados em toda a sua plenitude através da associação de vários radiotelescópios postados em diferentes pontos do planeta. Um quasar chega a ter uma radiação 300 bilhões de vezes mais potente que a do sol, mas o seu sinal é muito débil, porque a sua luz vem varando os espaços há mais de 15 bilhões de anos-luz para chegar até nós!
E, ao nos determos em tal contemplação, “saberemos que o Sol está caminhando para a morte. É que o nosso astro-rei, para manter em órbita os planetas Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão, converte centenas de milhões de toneladas de matéria em energia por segundo, de forma que, quando o sol não puder mais se manter, virá o desequilíbrio gravitacional. Mas não há motivo para nenhum tipo de pânico, porque, de acordo com o cálculo dos astrônomos, isso somente acontecerá daqui a bilhões de anos!(9)

Referências bibliográficas:
(1) Simon "Pete" Worden, astrônomo, que lidera o Centro de Pesquisas Ames da NASA, afirma que nós [na Terra] não estamos sozinhos, pois que há muita vida [pelo Universo];
(2) Xavier, Francisco Cândido. Roteiro, ditado pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 1994, Cap. 1;
(3) As últimas observações do telescópio Hubble (em órbita), mostram o número de galáxias conhecidas de 50 milhões;
(4) Em 1991, em Greenwich, na Inglaterra, o observatório localizou um quasar (possível ninho de galáxias) com a luminosidade correspondente a um quatrilhão de sóis;
(5) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, ditado pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 1994;
(6) Disponível em , acessado em 13/01/2013;
(7) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1994, Questão 16;
(8) Kardec, Allan; O Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro, Ed FEB, 2001, 3º Cap. itens 3 e 4;
(9) Morrison, Cressy. Disponível em , acessado em 13/01/2013.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

ANORMALIDADES DA MENTE E UMA REFLEXÃO ESPÍRITA


A mediunidade é um agente de moléstias mentais? Essa indagação foi dirigida ao psiquiatra espírita Alexander Moreira de Almeida (1), explicou que “a prevalência de problemas psiquiátricos entre os médiuns é menor que o encontrado na população geral. Os medianeiros são mais saudáveis, apesar de terem muitas vivências alucinatórias e de influência que normalmente são consideradas como sintomas clássicos de esquizofrenia.” (2)
No ano de 1911, Eugen Bleuer criou o termo "esquizofrenia" para designar um desconcerto entre pensamento, emoção e comportamento (esquizo/cisão e frenia/mente). Em 2004, no Japão, o vocábulo foi alterado de Seishin-Bunretsu-Byo (doença da mente dividida) para Togo-shitcho-sho (desordem de integração).
É uma patologia encarada não como uma moléstia singular, mas como uma coligação de enfermidades muito abrangente, cujos mecanismos etiopatogênicos o arsenal não se esgotou. É uma doença com vários componentes fisiológicos (3) e espirituais, com a presença acentuada de alucinações e delírios.
É urgente todo o cuidado com posicionamentos extremados e fanatizados de psiquiatras e espiritualistas tendenciosos, a observarem os quadros psicopatológicos apenas sob um ponto de vista (médico ou religioso). Para a fileira ortodoxa e céptica da medicina psiquiátrica, as alucinações seriam fruto de lesões de áreas fisiológicas. O médico especialista espírita assegura, no entanto, que o pensamento “materializa” em torno da pessoa imagens ajustadas ao seu campo mental, que quando são repetitivas e de amplo vigor, aparecem sob formas-pensamentos (“pensamentos materializados”) que muitas vezes assemelham-se a entes ou existências reais que, por não ser um componente do palco analítico dos pesquisadores ortodoxos, é um fenômeno avaliado como ilusório.
Sabe-se que os pensamentos sobrevêm da região do córtex pré-frontal dorsolateral, onde são cometidos os planos e as opções das múltiplas ações imagináveis da criatura. Sob o ponto de vista espírita, “o pensamento é um atributo do espírito, sendo portanto uma ação da própria essência do ser.(4) Os Benfeitores esclarecem que “a partícula do pensamento, embora viva e poderosa na composição em que se derrama do espírito que a produz, é igualmente passiva perante o sentimento que lhe dá forma e natureza para o bem e o mal”.(5)
Em tese, entender o que realmente é a mente e, por decorrência, a consciência, faz-se presentemente o maior desafio científico. Para Emmanuel, “a mente é o campo da nossa consciência desperta, na faixa evolutiva em que o conhecimento adquirido nos permite operar”.(6) André Luiz profere que “a mente transmite ao carro físico, a que se ajusta durante a encarnação, todos os seus estados felizes ou infelizes.(7) Perante a Lei de Causa e Efeito, qualquer doença da mente guarda a sua origem profunda no Espírito que delinquiu e que se torna subordinado a um corretivo. Padecem dessa forma no corpo físico disfunções de órgãos afetados que o impedem de se manifestar de modo pleno.
Meio século atrás, o diagnóstico de esquizofrenia era sinônimo de cerceamento social, internamento em hospitais psiquiátricos (manicômios) ou asilos, onde os pacientes permaneciam durante longos anos. No fastidioso período da Idade Média, a problemática mental era encarada como resultado da presença demoníaca. O desconhecimento quase que completo levou à busca de tratamentos dolorosos aos dementes.
Nas eras pós-medievais executava-se a trepanação (matriz das modernas lobotomias), que consistia em fazer nos pacientes perfurações cranianas de 2,5 a 5 cm de diâmetro, sem anestesia ou assepsia adequada. Os "doutores" buscavam, à época, remover a pierre de folie (pedra da loucura) que imaginavam existir nos cérebros dos insanos. Ainda hoje a diagnose da enfermidade tem sido apontada como excluída de legitimidade científica e ou credibilidade, e, em regra geral, a validade dos diagnósticos psiquiátricos tem sido objeto de críticas persistentes.
Em meados do século XX a intensa psiquiatrização dos tratamentos foi reforçada com o advento dos primeiros fármacos, caracterizando-se pelo uso abusivo e indiscriminado, tornando a doença mental crônica e incapacitante. Julgava-se que a moléstia era incurável e que se convertia, obrigatoriamente, em uma enfermidade recorrente e para toda a vida. Hoje, contudo, sabe-se que uma boa porcentagem de pessoas que sofrem desse transtorno pode recuperar-se por completo e levar uma vida social normal, como qualquer outra.
Em que pese os argumentos dos psiquiatras fiéis aos princípios mecanicistas, afirmando que no processo terapêutico o máximo que se consegue é obter controle dos sintomas com os antipsicóticos, é importante salientar o espectro abrangente e multifacetado do ser humano. Destarte, os recursos da terapêutica incorpórea podem e devem ser levados em consideração como todas as demais grandezas do experimento humano. A mediunidade, por exemplo, “é uma experiência que pode nos revelar muito sobre o funcionamento da mente e sua relação com o corpo.”(8)
Há desencarnados maléficos que “cercam suas vítimas [médiuns] encarnadas formando perturbações que se pode classificar como "infecções fluídicas" e que determinam o colapso cerebral com arrasadora psicose”.(9) É, sem dúvida, um processo composto de natureza espiritual, fisiológica e obsessiva,e com alcances psicossociais. Não há nenhuma razão para que se desaprovem os procedimentos espíritas na terapêutica dos casos evidentes de obsessão e auto-obsessão.
A despeito de persistirem conflitos entre a ala ortodoxa da Psiquiatria e o Espiritismo, os psiquiatras espíritas sustentam o diálogo entre corpo e espírito. Sabem eles que corpo físico é apenas o envoltório do Espírito. No mecanismo reencarnatório, “o Espírito conserva os atributos de natureza espiritual, e [naturalmente] o exercício das faculdades do Espírito depende dos órgãos que lhes servem de instrumento."(10) Indispensável portanto nesses casos, o habitual tratamento espírita com alicerce nos ensinamentos dos Espíritos Superiores, que, segundo acreditamos, em breve, fatalmente, constará nas recomendações médicas para a terapêutica de todas e quaisquer enfermidades.
A bem da verdade, “a ciência precisa distinguir as causas físicas das causas morais, a fim de poder aplicar às moléstias os meios correlativos.” (11)Observando que cada caso é um caso, Allan Kardec cita que “muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitavam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos.”(12) Contudo, uma experiência reencarnatória, onde memórias de vidas passadas podem apresentar-se à criatura, facilita ou dificulta determinadas provas existenciais, percebidas como psicopatias. O Codificador instrui adiante que “Espíritos malignos enxameiam ao redor da Terra. Sua ação perversa faz parte dos flagelos aos quais a Humanidade está exposta. Há desordens psicopatológicas que são consequências de vidas pregressas e contra as quais pouco auxiliam exclusivamente os tratamentos médicos, enquanto subsiste a causa originária. A doença mental igualmente deve ser encarada como reflexo de erros assumidos no passado. Um histórico de disputas e relações não resolvidas envolvem vítima e algoz [obsessão], agora em papéis invertidos."(13)
Em boa lógica, a instituição espírita deve respeitar as orientações dos profissionais da área de saúde, evitando equívocos tais como fazer diagnósticos, trocar e/ou suspender medicamentos e, às vezes, tornar o quadro clínico dos enfermos mais grave do que se apresenta. A terapêutica espiritual oferecida pelo Centro Espírita não dispensa terapêutica médica. A Doutrina Espírita, coligada às ciências médicas (no caso a psiquiatria), poderão se entender não se desmentindo, porém de mãos dadas, marchando em parceria, procurando todos os expedientes disponíveis no sentido de exterminar a agonia do paciente.
Ressalte-se que nas obsessões pertinazes (subjugações) a influência das entidades espirituais sobre as pessoas tende a levá-las ao quadro psicopatológico de alucinação e demência. Registra a história que Nabucodonosor II, rei dos Caldeus, sofreu com a licantropia; Calígula e Gengis-Khan demonstraram aberrações obsessivas e psicóticas; Nietzsche, sob o guante dos obsessores, perambulou pelos asilos de alienados; Van Gogh, insano, cortou as orelhas e as enviou de presente para sua musa inspiradora; Schumann, notável compositor, foi internado num hospício; Edgar Allan Poe tinha visões aterradoras e sucumbiu arrasado pelo alcoolismo.
O Espírito Emmanuel narra em “Mecanismos da Mediunidade” que “em Roma, no templo de Minerva, Pausânias, ali condenado a morrer de fome, passou a viver, em Espírito, monoideizado na revolta em que se alucinava, aparecendo e desaparecendo aos olhos de circunstantes assombrados, durante largo tempo. Nero, nos últimos dias de seu reinado, viu-se fora do corpo carnal, junto de Agripina e de Otávia, sua genitora e sua esposa, ambas assassinadas por sua ordem, a lhe pressagiarem a queda no abismo. Os Espíritos vingativos em torno de Calígula eram tantos que, depois de lhe enterrarem os restos nos jardins de Lâmia, eram ali ‘vistos, frequentemente, até que se lhe exumaram os despojos para a incineração.”(14)
Apesar de poucos informes científicos, há sobejas evidências de que a ação obsessiva (caracterizada por projeções, canalizações e interferências de fluidos sinistros) exerce papel de relevo na fisiopatogenia das várias doenças, no corpo físico e espiritual e, às vezes, evoluindo com quadros gravíssimos. Assevera o Espírito Manoel Philomeno que “a obsessão, sob qualquer modalidade que se apresente, é enfermidade de longo curso, exigindo terapia especializada, de segura aplicação e de resultados que não se fazem sentir apressadamente.”(15) O médico Bezerra de Menezes certificou que “a ação fluídica do obsessor sobre o cérebro, se não for removida a tempo, dará, necessariamente, em resultado, o sofrimento orgânico daquela víscera, tanto mais profundo quanto mais tempo estiver sob a influência deletéria daqueles fluidos.” (16)
Longe de sugerir aos pacientes portadores de anomalias mentais a abdicação dos fármacos indicados pelos psiquiatras, recomendamos igualmente o passe magnético (polarização de fluidos magnéticos visando a dissipação das energias nocivas). Indicamos, além disso, a água magnetizada (fluidificada), que é de grande eficácia para o reequilíbrio das estruturas neurológicas, considerando que no líquido vital são introduzidos fluidos impregnados das emanações magnéticas derivadas das irradiações de minerais, vegetais, animais e humanas. Há ainda os recursos do atendimento fraterno, da desobsessão, da oração e, vale aqui lembrar, do receituário homeopático, como ajudantes do tratamento.
Há outro recurso medicamentoso extraordinário – a implantação do Culto do Evangelho no Lar dos pacientes – considerando a oportunidade de leitura do Evangelho e a reflexão sobre seu conteúdo. No diálogo do Evangelho no lar, estima-se o convite para abandono de viciações e paixões inferiores, valoriza-se a vigilância do desejo, das palavras e das atitudes e muitos outros recursos poderosos que aos poucos vão aperfeiçoando a saúde integral do homem moderno.
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net


Referências bibliográficas:

(1) Alexander Moreira de Almeida é médico e doutor em psiquiatria pela USP – Universidade de São Paulo, coordenador do NEPER – Núcleo de Estudos de Problemas Espirituais e Religiosos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e diretor técnico e clínico do HOJE – Hospital João Evangelista.
(2) acesso em 06/01/2013
(3) As atividades cerebrais são reguladas pelos neurotransmissores (substâncias químicas secretadas pelos neurônios) e já foram identificados aproximadamente cinquenta deles. Alguns neurotransmissores vêm sendo colocados na implicação da fisiopatologia da doença, tais como a serotonina , noradrenalina e a dopamina. Este último controla os graus de excitação de várias regiões cerebrais. Os níveis elevados deste dopamina parecem estar associados ao surgimento da esquizofrenia e dos processos alucinatórios e delirantes. 
(4) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB , 1999, perg. 89
(5) Xavier, Francisco Cândido e Vieira Waldo. Evolução em Dois Mundos, Ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB 2003
(6) Xavier, Francisco Cândido. Pensamento e Vida, ditado pelo espírito Emmanuel, RJ: Ed FEB, 4ª edição, 1975.
(7) Xavier, Francisco Cândido e Vieira Waldo. Evolução em Dois Mundos, Ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB 2003
(8) Alexander Moreira de Almeida é médico e doutor em psiquiatria pela USP – Universidade de São Paulo, coordenador do NEPER – Núcleo de Estudos de Problemas Espirituais e Religiosos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e diretor técnico e clínico do HOJE – Hospital João Evangelista. acesso em 06/01/2013
(9) Xavier, Francisco Cândido e Vieira Waldo. Evolução Em Dois Mundos, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000
(10) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB , 1999, parte II, capítulo VII
(11) Menezes Adolfo Bezerra de. A Loucura sob um Novo Prisma, RJ: Ed FEB, 2ª edição, 1987
(12) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB , 1999– parte 2ª, cap IX, pergunta 474
(13) Allan. "Estudos sobre os possessos de Morzine", in Revista Espírita, São Paulo: Edicel, dezembro de 1862; Janeiro, Fevereiro, Abril., Maio. 1863
(14) Xavier, Francisco Cândido. Mecanismos da Mediunidade, ditado pelo espírito André Luiz, apresentação de Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1996
(15) Franco, Divaldo Pereira. Nos Bastidores da Obsessão, Ditado pelo Espirito Manuel Philomeno de Miranda, RJ: Ed. Feb , 1995, 7a edição.
(16) Menezes, Adolfo Bezerra de Menezes – A Loucura sob um Novo Prisma, 2ª edição, 1987, FEB-RJ