quarta-feira, 31 de julho de 2013

OS CONTRASSENSOS HUMANOS ANTE O CALOR DAS VIRTUDES E O FRIO DA INDIFERENÇA

Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br

Sabemos que “a virtude no seu grau mais elevado abrange o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, caridoso, trabalhador, sóbrio, modesto, são as qualidades do homem virtuoso.” (1) De tanto ver atirados nos entulhos das ruas de Mirassol-SP os livros clássicos da literatura (Machado de Assis, José Saramago e Érico Veríssimo), a virtuosa Cleuza Aparecida Branco de Oliveira, então semianalfabeta e catadora de recicláveis, que sonhava construir uma biblioteca para emprestar livros a pessoas sem condições de comprá-los, conseguiu implantar a biblioteca na associação de catadores da qual participa. O acervo já conta com centenas de títulos que são emprestados gratuitamente aos interessados. (2) Na verdade, uma pessoa simples que possui a virtude realmente digna desse nome não precisa dos estéreis lauréis humanos. “Temos de adivinhá-la, mas ela se esconde na sombra, foge à admiração das multidões (...) deixam-se levar pela corrente de suas aspirações, e praticam o bem com absoluto desinteresse e completo esquecimento de si mesmas.” (3)
A história de Cleuza Aparecida arremessou minhas recordações para os anos 90. Certa vez, executando minhas atividades de fiscal do Inmetro, tive o ensejo de conhecer Luiz Amorim, um incorruptível açougueiro de Brasília. Sua história impressionou-me à época. Contou-me que foi um simples funcionário que conseguiu, com muito sacrifício, comprar o açougue no qual trabalhava. Narrou-me que aos sete anos de idade já trabalhava como vendedor de picolés, engraxate e lavador de carros. Em 1980, aos doze anos, começou a trabalhar no açougue como ajudante.
Em 1987 a empresa foi vendida, mas permaneceu trabalhando por mais sete anos com os novos proprietários, porém estes decidiram vender o açougue. Luiz lançou mão da pouca economia que tinha, complementou com um empréstimo bancário e comprou a casa de carnes. Na condição de proprietário do açougue, providenciou montar uma prateleira com dez livros para emprestar aos fregueses. Seu empreendimento cresceu e virou referência cultural em Brasília - o Açougue Cultural T-Bone.
Atualmente o açougue T-Bone promove atividades culturais. Centenas de milhares de pessoas já participaram das Noites Culturais (shows musicais gratuitos à comunidade). Desde o início do projeto, em 1998, cerca de duzentos artistas no nível de Geraldo Azevedo, Erasmo Carlos, Belchior, Flávio Venturini, Blitz, entre outros, já participaram do evento.
O Açougue T-Bone mantém encontro com escritores de renome da literatura como Ziraldo, Marina Colassanti, Donaldo Schüller, Nicolas Behr, Frei Betto, Zuenir Ventura, Ignácio de Loyola, entre outros.
Outro singularíssimo projeto cultural de Luiz Amorim é a manutenção de prateleiras de aço instaladas nos trinta e cinco pontos de ônibus da Avenida W3 Norte de Brasília. Cada prateleira contém aproximadamente seiscentos livros organizados por assunto. “Desse modo, o açougue T-Bone tem emprestado diariamente cerca de dois mil livros gratuitamente aos passageiros interessados”. (4)
As façanhas humanas também têm os seus paradoxos, basta compararmos os moldes da vida de Cleuza e Amorim com as atitudes  de Gail Posner, uma socialite americana que dividia uma mansão de sete quartos em Miami com sua cadela e mais dois cães. Posner faleceu aos 67 anos e no testamento veio à tona a divisão de bens. À cadela coube a posse do imóvel, no valor de US$ 8,3 milhões, e um fundo de US$ 3 milhões (pasme!). Leona Hemsley, outra magnata de Nova York, deixou um fundo de investimento no valor de US$ 12 milhões para Trouble, sua maltês e excluiu os netos do testamento.
Analisemos a psicose da bilionária apresentadora de tevê Oprah Winfrey, que reservou US$ 30 milhões de sua fortuna para seus vários cachorros. A cadela da atriz Drew Barrimore deve herdar a casa da atriz, avaliada em US$ 3 milhões. A condessa alemã Karlotta Liebenstein deixou US$ 194 milhões para o pai de Gunther IV, o pastor alemão Gunther III, em 1992. O cachorro morreu e o fundo em que o dinheiro ficou aplicado tem hoje US$ 372 milhões.
Se fôssemos praticantes dos códigos do bem, inexistiriam fatos tão insensatos e aberrações comportamentais quais as heranças para seres irracionais, a guerra do crack, sequestros, a prostituição, a poligamia, a traição, a inveja, o racismo, as inimizades, a tristeza, a fome, a ganância e as guerras. Não depararíamos com pessoas perambulando pelos logradouros, embriagadas, sujas, cabelos desgrenhados, roupas sebentas, catando comida  no lixo ou esmolando um pedaço de pão.
Para mudança dessa funesta panorâmica é urgente a prática da mensagem do Cristo. O Evangelho é o medicamento poderoso, o mais seguro para a redenção social, que, se Deus quiser, haverá de penetrar em todas as consciências humanas, como um dia penetrou no desprendimento de Vicente de Paulo, na admirável solidariedade de irmã Dulce, na amabilidade de Francisco de Assis, na soberana renúncia de Teresa de Calcutá, na doce ternura de Chico Xavier e nas equidades de Cleuza Aparecida e Luiz Amorim.
Urge aprendermos a fazer o bem irrestritamente, a fim de pronunciarmos o sereno brado de Paulo de Tarso: "Já não sou quem vive, mas o Cristo é quem vive em mim.” (5)
Somos convidados a exercitar o Evangelho nos diversos domínios da sociedade, porque a vida nos alerta que todos desencarnaremos um dia; entretanto, a forma de nos comportarmos dentro da fronteira berço-túmulo é da nossa livre opção. Por isso, podemos alcançar a sublimação com o simples querer, mas, sempre, movidos por uma fé calcada nas boas obras em favor do próximo como exemplificaram  Luiz e Cleuza!

Referências:
(1)           Kardec, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo,   A Virtude ditado pelo Espírirto François-Nicolas-Madeleine , Paris, 1863,  item 8,  Cap XVII, RJ: Ed, FEB, 2000
(2)           Disponível  em http://www.boanoticia.org.br/noticias_detalhes.php?cod_secao=1&cod_noticia=4893 acesso 25/07/13
(3)           Idem
(4)           Disponível em http://www.dfcriativa.com.br/espacosculturais/1391"  acesso 25/07/13
(5)           Gl 2,20












quinta-feira, 25 de julho de 2013

ENVELHECER É CONQUISTAR O SABER PELAS EXPERIÊNCIAS DIÁRIAS

Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br

Não são raras as pessoas que têm aversão ao envelhecimento. Arriscam tudo para camuflarem a idade, seja através de cirurgias rejuvenescedoras (plásticas), seja injetando toxina botulínica (botox) e/ou demais artifícios. Cientistas de Cambridge dizem que até mesmo chocolate pode virar remédio “antivelhice”. (1) Segundo Pedro Paulo Monteiro, mestre em Gerontologia e autor dos livros "O Tempo Não Tem Idade" e "A Beleza do Corpo na Dinâmica do Envelhecer", a dificuldade em aceitar o envelhecimento é mais comum em mulheres. Segundo ele, o sexo feminino valorizara "enormemente" a estética. "Algumas mulheres têm medo de envelhecer, por que acreditam que ficarão feias, isoladas e sem atrativos. Isso não é verdade, pois existem várias pessoas que só começaram a ser felizes na velhice." (2)
Para muitas pessoas o envelhecer é uma tormenta avassaladora. Diante do espelho, entram em pânico notando a arruína da estética, músculos decaindo, pele afrouxando, enrugando a testa, enfraquecendo a psicomotricidade, submergindo o semblante, pesando as pálpebras e os olhos afundando nas tristezas do que veem.
Cremos que a decrepitude deveria ser encarada como venturosa pelo que contém de gratificante, mormente por causa das longas refregas das buscas e das realizações. Envelhecer é uma arte e uma ciência, se buscarmos rejuvenescer nossa alma. Há idosos que conquistaram a longevidade de forma sadia e feliz, contudo muitos estão largados nos asilos da vida, amargando suas enfermidades no isolamento. Há os que aceitam sua decrepitude sem rezingar e sem exigir nada dos outros; todavia igualmente indiferentes não oferecem nada a ninguém.
O tempo é inexorável e abençoado transformador de destinos. Muitas vezes não abrangemos os mistérios do tempo que se dissipa célere na vida terrena. Alguns envelhecem, e quase nada realizam nas instâncias do bem incondicional. Há, porém, aqueles que concretizam em si a vigorosa fé cristã, exercitando inteiramente o amor ao próximo. Abraham Lincoln dizia que não são os anos em sua vida que importam, mas a vida em seus anos. O pensador Alexis Carrel proferia frase semelhante, dizendo que o importante não é acrescentar anos à sua vida, mas vida aos seus anos. O médico alemão Harry Benjamin endossou as ideias de Lincoln e Carrel pronunciando: "não queira acrescentar dias à sua vida, mas vida aos seus dias.". Baseado nesses adágios, evocamos alguns personagens históricos que acrescentaram vidas a cada aniversário.
Os anos não passaram em vão na vida de David Livingstone, escritor de inesquecíveis contos literários que o projetaram no Século XIX ao lado de deuses da literatura mundial, a exemplo de Victor Hugo. David entoou os doces cânticos da Mensagem de Jesus para os nativos sul-africanos. Renunciou aos apelos da fama, abandonou a Escócia, sua terra natal, e juntou-se àquelas almas sofredoras, nascidas na mais dura dificuldade material na África.
Os anos não passaram em vão nos projetos de vida de Florence Nightingale, a ilustre "Dama da Lâmpada"; ela que vestiu a túnica da abnegação, afastando-se do convívio do esplendor inglês, a fim de adotar, voluntariamente, a penosa empreitada de socorrer as vítimas da Guerra da Criméia, no século XIX.
Os anos não passaram em vão nos projetos de vida de Jean Henrique Dunant, que inspirado nas virtudes da fundadora da primeira escola de enfermagem da Terra, escreveu o livro “Un Souvenir de Solferino”, publicado em 1862, em que sugeria a criação de grupos nacionais de ajuda para apoiar os feridos em situações de guerra, e propôs a criação de uma organização internacional que permitisse melhorar as condições de vida e prestar auxílio às vítimas da guerra. Em 1863, Dunant fundou a Cruz Vermelha Internacional, reconhecida, no ano seguinte, pela Convenção de Genebra.
Os anos não passaram em vão nos projetos de vida daquela que foi considerada uma das dez mulheres mais importantes dos Estados Unidos, no século XX. Referimo-nos a Hellen Keller, que teve de sobra coragem e determinação robusta para vencer suas limitações físicas, pois era surda, muda e cega de nascença. Contudo, um dia Keller conseguiu falar e soltou o verbo como ninguém. O vigor moral fez dela uma singular mulher, com grande projeção no cenário do mundo. Seu verbo infundia ao Homem a necessária reflexão sobre o quanto somos potencialmente ilimitados quando amamos o próximo.
Certa ocasião, o jornalista Harold Gibson disse: - "Por onde Miss Eartha andava, os famintos, os aflitos e os desamparados, de todas as idades, sentiam a sua presença compassiva e animadora.". Referia-se a Eartha Mary Magdalene White, uma verdadeira lenda no norte da Flórida, Estados Unidos. Os anos não passaram em vão nos projetos de vida de Magdalene White. Ela fundou uma Instituição de amparo ao negro americano. Desencarnou em 1974, com 95 anos de idade, deixando um segredo para vivermos a grande mensagem: - “Façam todo o bem que puderem, de todos os modos, em todos os lugares, para todas as pessoas, enquanto puderem.".
Eis aqui elencados alguns personagens reais da História que souberam envelhecer acrescentando vida aos anos de experiência física. Neste contexto, o idoso, ou a velhice, é a fase da vida em que se atinge a sabedoria, adquirida pela experiência cotidiana, mais do que pelo conhecimento. Conhecimento e sabedoria são distintos. O velho não é só sábio, mas é o sábio por excelência. Como tal deve ser reverenciado por toda a sociedade. O envelhecimento é a conquista da sabedoria pelas vivências cotidianas. Em verdade, cada instante que vivemos, cada minuto que se esvai, nos báratros do dia-a-dia, construímos o nosso destino e escrevemos com letras douradas, nas páginas da vida, os anos de experiência nos carreiros do amor que devotamos ao próximo.


Referência:
(1)               Disponível em http://super.abril.com.br/blogs/cienciamaluca/chocolate-pode-virar-remedio-antivelhice acesso em 24/07/13
(2)               Disponível em http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2012/04/03/plasticas-exageradas-e-comportamento-imaturo-revelam-medo-desproporcional-de-envelhecer.htm acesso em 23/07/13

quarta-feira, 24 de julho de 2013

SOCIEDADE SEM RAÇAS - NUMA CONCISA COGITAÇÃO ESPÍRITA



Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br
Para a ciência contemporânea o conceito de raça é abstrato e agressivo, pois raças humanas não existem como entes biológicos. É agressivo porque a concepção de raça tem sido usada para abonar discriminação, opressão e barbaridades. “As raças não existem, mas a mentalidade relativa às raças foi reproduzida socialmente”. (1) Do ponto de vista espírita, a percepção de que o homem possa (re) encarnar na condição de branco, negro, mulato ou índio, estabelece uma ruptura com o preconceito e a discriminação.
Infelizmente, ainda hoje na Grã-Bretanha adeptos do “neo-espiritualismo” recusam a tese da reencarnação, por não aceitarem a probabilidade de terem tido encarnações em posições inferiores quanto à raça e à condição social. Sob a ótica dos princípios espíritas, “apaga-se, naturalmente, toda a distinção estabelecida entre os homens segundo as vantagens corpóreas e mundanas, sobre as quais o orgulho fundou castas e os estúpidos preconceitos de cor”. (2) O Espiritismo não compactua, sob quaisquer pretextos, com ideologias que visem o apartheid étnico entre os grupos sociais.
A afirmação das raças biológicas multicoloridas tem sido cada vez mais rejeitada pela genética. Os pesquisadores descobriram que a natureza genética de todos nós é idêntica o bastante para que a mínima porcentagem de genes que se caracterizam na aparência física, cor da pele etc... invalide a composição da sociedade em raças. Isso porque o acanhado número de genes desiguais está comumente conectado à adequação do indivíduo ao tipo de meio ambiente em que vive.
Os brasileiros atualmente mostram-se, aparentemente, menos preconceituosos do que há duas décadas. Contudo, reconhecemos o preconceito no outro, mas não em nós mesmos. Ou, como já definiu a historiadora da USP, Lilia Moritz Schwarcz, “todo brasileiro se sente como uma ilha de democracia racial, cercado de racistas por todos os lados”. (3) É preocupante constatar que a ambivalência se mantém. Parece que os brasileiros jogam, cada vez mais, o preconceito para o outro. Eles são, mas eu não. Irrisão!
O pesquisador Sergio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais, atesta que a cor da pele, como socialmente percebida, tem pouca relevância biológica. “Cada brasileiro tem uma proporção individual única de ancestralidade ameríndia, europeia e africana”. (4) Para os geneticistas, “a conclusão de que a raça não está nos nossos genes pode ser mais uma ferramenta no combate ao racismo, já que corrige o erro histórico dos cientistas do passado”. (5)
A discussão é muito pertinente em um momento em que ações afirmativas fundamentadas em conceitos raciais, como a lei de cotas, surgem para tentar corrigir os problemas sociais ligados ao racismo. A Constituição do Brasil estabelece que “ninguém terá tratamento desigual perante a lei e o acesso ao ensino superior se dará por mérito”. (6) As cotas para negros nas universidades, desde sua implantação no Brasil, em 2002, têm dividido opiniões. Pouco mais da metade da população, ou melhor, 51%, são favoráveis à reserva de vagas para negros, mas, paradoxalmente, 86% defendem as cotas para pessoas pobres e de baixa renda, independentemente de raça.
O mapa estatístico retrata que 53% dos brasileiros creem que estabelecer cotas para negros é humilhá-los. Todavia, contraditoriamente, 62% concebem que elas são fundamentais para ampliar o acesso de toda a população à educação. Contudo, 62% dizem que essas cotas podem gerar atos de racismo. Em verdade, “a sobrevivência da ideia de raça é deletéria, por estar ligada à crença continuada de que os grupos humanos existem em uma escala de valor”. (7)
No bojo da literatura basilar da Terceira Revelação, Kardec ressalta que, “na reencarnação desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. Se, pois, a reencarnação funda numa lei da Natureza, o princípio da fraternidade universal também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade”. (8)
Num artigo publicado na Revista Espírita, de abril de 1862, “Frenologia espiritualista e espírita – Perfectibilidade da raça negra” (9), Kardec faz uma espécie de releitura dessa “ciência”, com um enfoque espiritualista, demonstrando que o “atraso” dos negros (habitantes da África à época) não se deveria a causas biológicas, mas por seus espíritos encarnados ainda serem, relativamente, jovens.
Porém, sem dúvida alguma, o racismo brasileiro, ainda escamoteado e acobertado pelo mito da “democracia racial”, é um estigma, uma nódoa presente na mente dos brasileiros, e que faz parte do cotidiano de todos nós. Deus não concedeu superioridade natural aos homens, nem pelo nascimento, nem pela morte. Diante d’Ele, todos são iguais. Dessa forma, é mais do que lógico o próprio negro entender que somente ele poderá conquistar seu espaço nas diversas áreas do conhecimento. Ninguém fará por ele aquilo que deve ser feito para o seu próprio bem estar, e isso vale para todas as raças.
A verdade é que nos grandes debates de cunho sociológico, antropológico, filosófico, psicológico etc., o Espiritismo provocará a maior revolução histórica no pensamento humano, conforme está inscrito nas questões 798 e 799 de O Livro dos Espíritos, sobretudo quando ocupar o lugar que lhe é devido na cultura e conhecimento humanos, pois seus preceitos morais advertirão os homens da urgente solidariedade que os há de unir como irmãos, apontando, por sua vez, que o progresso intelecto-moral na vida de todos os Espíritos é lei universal e tendo por modelo Jesus, que, ante os olhos do homem, é o maior arquétipo da perfeição que um Espírito pode alcançar. (10)



Referências bibliográficas:

(1)            Disponível em  http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2013/02/05/ciencia-busca-explicacoes-sociais-e-biologicas-para-explicar-o-preconceito.htm acesso em 20/07/13
(2)            Kardec, Allan. Revista Espírita de abril de 1861 págs. 297-298
(3)            Disponível em http://zelmar.blogspot.com.br/2010/09/todo-brasileiro-se-sente-uma-ilha-de.html  aceso em 22/07/13
(4)            Disponível em http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2013/02/05/racas-humanas-nao-existem-como-entidades-biologicas-diz-geneticista.htm acesso em 15/07/13
(5)            Disponível em http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2013/02/05/racas-humanas-nao-existem-como-entidades-biologicas-diz-geneticista.htm acesso  em 18/07/13
(6)            Constituição Federal, Editora Saraiva.
(7)            Sérgio Pena, autor do livro “Humanidade Sem Raças?” (Publifolha, 2008), da Série 21
(8)            Kardec, Allan. A Gênese, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2002, pág. 31
(9)            Publicado na Revista Espírita, artigo “Frenologia espiritualista e espírita – Perfectibilidade da raça negra”, de abril de 1862
(10)          Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2003, parte 3ª, q. 798 e 799, cap. VIII item VI – Influência do Espiritismo no Progresso.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

EM SUMA: TUDO SÃO CELAS, CADEIAS, PRESÍDIOS, CÁRCERES, EXOVIAS, CALABOUÇOS, XADREZES, XILINDRÓS, PRISÕES ETC ...


Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br

Maquiavel já dizia que o caminho para o inferno é pavimentado de boas intenções. Na Holanda, a secretária de Estado da Justiça, Nebahat Albayrak, anunciou o intuito do encerramento de oito prisões (para alguns são hotéis de grande luxo, super equipados). O encerramento provocará a supressão de 1.200 empregos. Atualmente, o sistema penitenciário conta com 14.000 celas, o que já não corresponde às necessidades reais, de “apenas” 12.000 cubículos penitenciários. O fechamento dos xilindrós será por falta de “delinquentes” (falta de delinquentes?????) Os holandeses garantem que a “diminuição” da taxa de criminalidade se deve à utilização de tornozeleiras com rastreadores em substituição à cadeia.
Há 5 anos a imprensa internacional noticiou que a “redução” da criminalidade na Holanda levou o governo a anunciar o fechamento das unidades prisionais, pois sob o guante  da lei de “mercado” a baixa oferta de bandidos provoca a pouca procura de carcereiros. Para evitar demissões dos agentes carcerários está sendo estudada a possibilidade de importação de 500 marginais da Bélgica, a fim de manter um contingente “mínimo” nas enxovias. (1)
É um paradoxo tal situação. Será plausível os holandeses ensinarem virtudes ao mundo? Na Holanda o comércio e consumo de drogas é praticamente livre. Amsterdã é uma das mais apetitosas rotas mundiais do tráfico de drogas. A circulação e o comércio de drogas são considerados legítimos por lá; por isso, os traficantes, que deveriam estar encarcerados, permanecem livres, leves e soltos e, pior, sem tornezeleiras, o que esclarece, em boa paródia, a “carência” de criminosos na terra de Maurício de Nassau.
No Brasil, segundo o Ministério da Justiça, há 514 mil presos e 306 mil vagas em todo o sistema carcerário. Resultado: superlotação. Diz-se que os presídios no “país  do futebol” são medievais e escolas do crime. Quem entra em um presídio como pequeno delinquente muitas vezes sai como membro de uma organização criminosa para praticar grandes delitos. Há tempos se fala na humanização no sistema carcerário brasileiro, em face de sua falência. Hoje há prisões em péssimas condições, agentes desqualificados, Leis esparsas etc. A somatória de todos estes fatores contribui para a reincidência do reeducando.
Muitos afirmam que a Lei Penal brasileira é pusilânime. Mas cremos que o desígnio da lei não é punir puramente, entretanto igualmente possibilitar a recuperação do indivíduo. “Em verdade vos digo – todas as vezes que faltastes com a assistência a um destes mais pequenos, deixastes de tê-la para comigo mesmo”. (2) Para os especialistas do assunto, a pena é uma resposta estatal punitiva contra um determinado crime e deve ser proporcional à extensão do dano, jamais poderá violar a dignidade humana, pois estaria reparando um erro com outro erro. A punição por si só não muda o comportamento transgressor do ser humano socialmente opresso; é preciso reeducá-lo para que possa compreender a importância da liberdade. A ausência de políticas públicas com objetivo de reintegrar o preso à sociedade inviabiliza qualquer possibilidade de reabilitação quando este torna-se egresso do sistema prisional.
Todos os seres humanos que erraram devem ter oportunidade de recompor-se. Para tanto, a sociedade e o governo lhes devem condições dignas. Até mesmo os presos tidos por “irrecuperáveis” foram e são vítimas do sistema. A sociedade precisa ser transformada. Esse conjunto de fatores dificulta uma necessária, providencial e humanitária reinserção do detento no mercado de trabalho, e consequentemente ao convívio social.
Os Benfeitores Espirituais nos instruem que devemos “amar os criminosos como criaturas que são, de Deus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos, se se arrependerem, como também a nós, pelas faltas que cometemos contra sua Lei”. (3) Muitas vezes somos “mais repreensíveis, mais culpados do que aqueles a quem negamos perdão e comiseração, pois, as mais das vezes, eles não conhecem Deus como O conhecemos, e muito menos lhes será pedido do que a nós”. (4)
Por várias razões, não podemos nem devemos julgar nenhuma pessoa, porquanto “o juízo que proferirmos ainda mais severamente nos será aplicado e precisamos de indulgência para as iniquidades em que sem cessar incorremos. Não podemos ignorar que há muitas ações que são crimes ante os ditames da Lei de Deus e que o mundo nem sequer como faltas leves considera”. (5)
Nas prisões, a reeducação deverá ser feita por meio da implantação de frentes de trabalho para profissionalização, e não apenas para tirar apenados da ociosidade, mas também abrindo segura perspectiva de integração futura na sociedade. Sabemos que existem grupos de religiosos que vêm desenvolvendo projetos que visam a recuperação do preso, por intermédio de uma efetiva coordenação de visitas permanentes aos presídios. Palestras de valorização humana, divulgação doutrinária, instituição de voluntários padrinhos, contato com parentes, distribuição de cestas básicas para familiares dos recuperandos. Estes são alguns dos métodos levados a efeito por alguns grupos de visita, para a materialização do aumento do índice de recuperação dos internos nos presídios no Brasil.
Em suma, diante dos criminosos devemos “observar o nosso modelo: Jesus. Que diria Ele, se visse junto de si um desses desgraçados? Lamentá-lo-ia; considerá-lo-ia um doente bem digno de piedade; estender-lhe-ia a mão. Em realidade, se não podemos fazer o mesmo, podemos pelo menos orar pelos criminosos. Podem eles ser tocados de arrependimento, se orarmos com fé”. (6)



Referências bibliográficas:
(1)           Disponível em  http://g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia/2013/06/governo-holandes-estuda-fechar-prisoes-devido-falta-de-criminosos.html acesso em 14/07/13
(2)           Mt 25:31-46
(3)           Kardec, Allan . O Evangelho Segundo O  Espiritismo. Cap. XI “Amar o próximo como a si mesmo – Caridade para com os criminosos”, RJ: Ed FEB, 1990
(4)           Idem
(5)           Idem
(6)           Idem

segunda-feira, 15 de julho de 2013

A IMPRENSA ESPÍRITA NÃO DEVE AFAGAR OU AFLIGIR LEITORES, PORÉM DESPERTAR-LHES A CONSCIÊNCIA


Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br

 Desde o lançamento da Revista Espírita, em 1858, na França, por Allan Kardec, a imprensa espírita é possante canal da divulgação doutrinária para interligação dos centros e demais instituições e, sobretudo, para disseminação de opiniões e discussão de temas sócio-doutrinários, propondo a adequada orientação ao Movimento Espírita. A rigor, ela também se dirige ao público não espírita para esclarecimento doutrinário. O Codificador noticiava e comentava na R.E. diversos eventos extra-doutrinários, que de alguma forma interessavam a todos os leitores.
As civilizações iniciaram-se com a imprescindível necessidade da comunicação, recorrendo ao mecanismo da tradição oral. O grande salto da comunicação humana consubstanciou-se na imprensa (palavra escrita), cujo mestre foi Johannes Gutenberg, considerado “O Pai da Imprensa”. Quatro séculos após a descoberta desse notável filho da Mogúncia (Alemanha), Allan Kardec, embora sempre advertindo contra o proselitismo indigesto, recomendou a divulgação dos princípios doutrinários com base no bom senso. É verdade! A propaganda doutrinária para fazer prosélitos não é a necessidade imediata do Consolador Prometido, até porque “a direção do Espiritismo, na sua feição de Evangelho redivivo, pertence ao Cristo e seus prepostos, antes de qualquer esforço humano, precário e perecível”. (1)
Para delinearmos considerações sobre a imprensa espírita no Brasil, trazemos à baila alguns informes sobre os contributos de Luiz Olímpio Teles de Menezes, considerado pioneiro da imprensa espírita brasileira. Em julho de 1869, três meses após a desencarnação do Codificador, lançou o periódico O Eco d'Além-Túmulo, subintitulado "Monitor do Espiritismo no Brasil", de publicação bimestral. Antes, já havia fundado em 17 de setembro de 1865, em Salvador, o Grupo Familiar do Espiritismo, considerado a primeira instituição espírita no Brasil. Escreveu para o "Diário da Bahia", "Jornal da Bahia", "A Época Literária". Foi um causídico intransigente dos princípios espíritas.
"Era um caráter digno de todo o apreço pela sua cultura e elevação de sentimentos, aprimorados por uma longa série de infortúnios, que soube sempre suportar com honra e grandeza d’alma". (2) Certa vez, redigiu uma “Carta Aberta” ao Primaz do Brasil, D. Manoel Joaquim da Silveira, refutando a pastoral que este publicou, com o título “Erros perniciosos do Espiritismo”. A “Carta” de Luiz Olímpio é considerada a primeira obra de divulgação espírita de um brasileiro, publicada na Pátria do Evangelho.
O "Grupo Familiar do Espiritismo" cumpriu sua tarefa por cerca de um decênio, até a fundação da "Associação Espírita Brasileira", que representou o marco inicial do movimento espírita brasileiro. Teles de Meneses foi o primeiro presidente da Associação, instituto que visava "ao desenvolvimento moral e intelectual do homem nas largas bases que cria a filosofia espirítica, e a exemplificação do sublime e celestial preceito da caridade cristã.”. (3)
Na verdade, a imprensa espírita brasileira surgiu integrada em sua dupla função libertária. Lutando pela emancipação espiritual do homem, lutando também na sua alforria material. Menezes compreendeu que não podia sustentar os princípios espíritas de fraternidade e caridade se não desse seu testemunho contra o desumano sistema de escravidão negra no Brasil. “Na campanha abolicionista através de O Eco d'Além-Túmulo, destinou um mil réis de cada assinatura para a libertação de crianças negras de sexo feminino entre 4 e 7 anos”. (4)
Sendo o Espiritismo uma doutrina de vivência igualitária, anunciada para influir na transformação social, não se pode idear uma imprensa espírita desatenta ao mundo, sepultada em si mesma.  Os legados de Teles de Menezes nos comprovam que jornais e revistas espíritas não podem ser somente boletins doutrinários apartados do fato social. Inobstante, não devem exceder os limites das instâncias espíritas e envolver-se em altercações político-partidárias ou contendas de grupos. Sua função principal é esclarecer e orientar os rumos da doutrina.
No Brasil, considerado o maior país espírita do mundo, em extensão e abrangência, e em número de adeptos, há inúmeras publicações escritas, bem como centenas de emissoras de rádio e algumas televisões (abertas, por assinatura e Internet) veiculando informações espíritas, além da existência de milhares de portais espíritas na Rede Mundial de computadores. A despeito desse cenário, não é difícil constatar que faltam meios de comunicação arejados (jornais, revistas, sites, televisão, rádio), que se pode ter confiança sem a percepção desagradável de sufocação, de constrangimento subserviente a direções excêntricas. Muitos jornais e revistas “chovem no molhado” e repetem o que todos sabem e já disseram. Somente publicam mensagens mediúnicas e acanhados artigos sobre questões já pacificadas. Evitam a discussão saudável, o debate coeso, como se estivesse submetida a uma orientação ditatorial.
Há órgãos da imprensa doutrinária que se restringem ao centro espírita como se fossem boletins particulares, alguns ficam circunscritos a um bairro ou a uma pequena cidade, outros se colocam a serviço da difusão espírita em nível nacional e internacional. Talvez seja a reprodução da falta generalizada de cultura na sociedade e notadamente da pouca cultura espírita. Por isso há órgãos de divulgação doutrinária sem nenhum critério, nem discernimento. Divulgam assuntos contraditórios e revelam ausência de conhecimento ou displicência de seus diretores, editores e redatores.
É imperioso alterar esse cenário; é urgente maior consciência jornalística aos que militam na imprensa espírita. Na Revista Espírita de maio de 1863, Kardec conta que certa vez tinha recebido três mil mensagens de várias partes da Europa, aguardando uma possível publicação. Selecionou cem que continham temas de moralidade inatacável. Fez nova triagem e, das cem, chegou a trinta, realmente de ótimo valor estético e moral. Porém, das trinta mensagens, só cinco apresentavam real valor para obterem espaço na Revista Espírita. (5)
Raros são os escritores e jornalistas que têm a coerência de escrever não para amimar ou desgostar, mas para abrir os olhos e acordar consciências. Sim! Felizmente ainda há escritores e jornalistas sinceros que leem e estudam, escrevem com bom senso e procuram ensinar ao leitor a verdadeira Doutrina dos Espíritos. São ajuizados, não usam expressões verbais que recomende costumes, práticas, ideias políticas, sociais ou religiosas adversas ao Espiritismo.Em Conduta Espírita, André Luiz assevera que um texto espírita deve ajustar-se à simplicidade e clareza, concisão e objetividade, passar por revisão austera e incessante, quanto ao fundo e à forma, antes de ser publicado. Os escritores devem despersonalizar, ao máximo, os conceitos e as colaborações, convergindo para Jesus e para o Espiritismo o interesse dos leitores. (6)
É imprescindível que a imprensa espírita esteja compromissada com a ética, com a verdade revelada pelos Espíritos e com a melhor qualidade dos temas divulgados. Melhoria essa que não deve ser considerada exclusivamente a "beleza exterior", com apresentação gráfica policrômica, mas, sobretudo, o conteúdo (mensagens). Importa afrontar desafios e ter capacidade de informar sobre os fatos e os preceitos espíritas, de forma a colaborar com o leitor em sua consciência crítica.
Os editores necessitam "sistematicamente despersonalizar, ao máximo, os conceitos e as colaborações, convergindo para Jesus e para o Espiritismo o interesse dos leitores” (7) sem perder de vista a seleção dos escritos, que precisam ter "clareza, concisão e objetividade, esforçando-se pela revisão severa e incessante, quanto ao fundo e à forma de originais que devam ser entregues ao público". (8) Porém, lamentavelmente existem órgãos de imprensa espírita que mais não fazem senão exacerbar a arrogância dos responsáveis das instituições, publicando sistematicamente suas “fotos e nomes dos dirigentes”, numa clara manifestação de completa ausência de humildade.
É bom refletirmos sobre isso! Recordemos o Espírito Emmanuel, que avisa: "o Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade – a caridade da sua própria divulgação". (9) Consideração e homenagem à virtude, ao talento, à coragem, às boas ações dos verdadeiros jornalistas espíritas e seus periódicos, imunes ao endosso às práticas antidoutrinárias; que sigam avante na tarefa de amor às letras do Consolador, que fazem vibrar corações e jubilam os espíritas que a elas se consagram.

Referência blibliográfica:

(1)    Xavier Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, perg. 218
(2)    Publicado na  Revista "Reformador", de 1.º de abril de 1893
(3)    Disponível em  http://www.feparana.com.br/biografia.php?cod_biog=200 acessado em 14/04/2013
(4)    Disponível  em http://www.autoresespiritasclassicos.com acessado em 16/04/2013
(5)    Kardec Allan.  Revista Espírita de maio de 1863, Brasília: Ed Edicel, 2001
(6)    Vieira Waldo. Conduta Espírita, ditada pelo Espírito André Luiz, RJ: Editora FEB 1989
(7)    idem
(8)    idem
(9)    Xavier , Francisco Cândido. Estude e Viva, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1971

terça-feira, 9 de julho de 2013

A REVOGAÇÃO DO CASAMENTO SOB O PONTO DE VISTA ESPÍRITA

  
Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br

 
 
 
Um católico acusou a esposa de pedofilia e entrou com uma ação de declaração de nulidade do matrimônio nos tribunais eclesiásticos. Os conselhos religiosos reconheceram o pedido de anulação e o veredito teve consonância com as exigências do Direito brasileiro, inclusive produzindo efeitos civis. “Para isso, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) homologou a sentença do Tribunal de Assinatura Apostólica, do Vaticano, sobre a declaração de nulidade do casamento do casal brasileiro, com base no Acordo Brasil-Santa Sé. A decisão do STJ tem validade tanto para o casamento realizado no cartório e em igreja quanto o casamento religioso celebrado no templo com efeito civil (1)”. 
O casamento celebrado em conformidade com a lei canônica, ao ser considerado nulo pela Igreja, os esposos passam a ser solteiros, e não divorciados, como seria se tivessem conseguido a anulação pela lei civil.  É no mínimo extravagante tal situação, pois a doutrina da igreja romana não consagra o divórcio, porém juízes eclesiásticos podem decidir sobre anulação de consórcio matrimonial. É uma maneira de esconder o sol com a peneira.  
O desfecho do caso acima é um espetáculo bizarro, pois a igreja romana, que não acata o divórcio, mas revoga casamento, que para ela deve ser “indissolúvel”, e culmina por  reconhecer a nulidade de certas uniões matrimoniais problemáticas. É por essa e outras razões que o Espiritismo afirma que “a indissolubilidade absoluta do casamento é uma lei humana muito contrária à da Natureza (2)”.
Nem mesmo Jesus consagrou a indissolubilidade absoluta do casamento. A indissolubilidade matrimonial é uma imposição teológica que não se justifica, até porque existem muitas aprovações de nulidade de casamento pela Cúria romana. Para alguns “experts” o atrativo nesses casos é o retorno ao estado de solteiro, só possível pelo processo canônico, para os praticantes da religião católica. Pode ser que isso interesse a muitos católicos, ou seja, “voltar ao status de solteiro, embora tenham passado os tempos tão preconceituosos em que ser divorciado ou divorciada era uma nódoa pesadíssima imposta pela sociedade (3)". 
A aceitação pelo Superior Tribunal de Justiça sobre a decisão da Santa Sé causou desconforto entre especialistas de Direito Civil. “O debate é se o STJ feriu o princípio do Estado laico e se a anulação é producente mesmo depois da instituição do divórcio direto (4)”. No Direito civil, em um divórcio, as partes podem requerer pensão e partilha de bens. Na anulação eclesiástica, se um dos cônjuges for considerado culpado não pode reivindicar os direitos,  exceto se houve aquisição de patrimônio enquanto casados.
As leis terrestres (civis e eclesiásticas) não podem ser estanques porque elas se modificam segundo os tempos, os lugares e o avanço da inteligência. O casamento é um rito humano, e não há dois países onde o evento seja categoricamente semelhante. O que é legal num país (a poligamia, por exemplo), é adultério noutro país. “A lei humana tem por finalidade regular os interesses sociais, que variam segundo as culturas. Em certos países, o casamento religioso é o único legítimo; noutros é necessário, além desse, o casamento civil; noutros, finalmente, este último casamento basta (5)”. 
A certidão de casamento não supera a lei do amor, contudo o casamento não é contrário à lei da Natureza, muito pelo contrário, pois “é um progresso na marcha da Humanidade (6)”. A abolição do casamento sim “seria uma regressão à vida dos animais (7)”. Para Allan Kardec o estágio primário do homem é o da união livre e ocasional dos sexos. “O contrato matrimonial estabelece um dos elementares atos de avanço nas sociedades humanas, porque institui o vínculo jurídico e fraterno e se ressalta entre todos os povos, inobstante em condições não uniformes (8)”. 
A proscrição do matrimônio consistiria em regredir à infância da Humanidade e poria o homem abaixo mesmo dos seres irracionais. O divórcio não contraria as Leis de Deus e objetiva  “separar legalmente o que já, de fato, está separado, portanto não é contrário à lei de Deus, e só é aplicável nos casos em que não se levou em conta o amor.(9)”. 
Emmanuel aclara o assunto afirmando que a expectativa de um casamento indissolúvel aumenta o número de uniões irregulares. É verdade! O que é mais racional se aprisionar um ao outro os esposos que não podem viver juntos ou restituir-lhes a liberdade? Obviamente, “partindo do princípio de que não existem uniões conjugais ao acaso, o divórcio, não deve ser facilitado (10)”. É nos casamentos que ocorrem burilamentos e reconciliações para a sublimação espiritual.
Não nos é justo estimular o divórcio de ninguém, mas reconhecemos que no limite da resistência pessoal, “é compreensível que o  esposo ou a esposa, relegado a sofrimento indébito (ameaça de morte, desprezo, infidelidade), se valha do divórcio por medida extrema contra o suicídio, o homicídio ou calamidades outras que lhes complicariam  ainda mais o destino  (11)”. 
Cabe a cada um de nós reconfortar e  fortificar os esposos em demanda, nos matrimônios provacionais, a fim de que vençam as próprias aflições, encarando as duras fases de regeneração ou  expiação que pediram antes da reencarnação, em auxílio a si mesmos. Conquanto o divórcio, baseado em razões  justas, seja providência humana claramente compreensível, não nos compete instigar a separação, até porque “em briga de marido e mulher se mete a colher”, respeitemos e saibamos que são eles mesmos, os casais que desejam a separação entre si é que devem decidir, cabendo-nos exclusivamente a obrigação de respeitar-lhes o livre arbítrio sem ferir lhes a decisão.  

Referências bibliográficas:
(1) Disponível em http://estadao.br.msn.com/ultimas-noticias/stj-reconhece-senten%C3%A7a-do-vaticano acesso em 04/07/13
(2) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 697, RJ: Ed. FEB, 1972
(3) Disponível em http://estadao.br.msn.com/ultimas-noticias/stj-reconhece-senten%C3%A7a-do-vaticano acesso em 04/07/13
(4) Idem
(5) Kardec , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXII , RJ: Ed FEB, 2000
(6) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 695, RJ: Ed. FEB, 1972
(7) idem  questão 696, RJ: Ed. FEB, 1972
(8) Kardec , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXII , RJ: Ed FEB, 2000
(9) Idem
(10) Xavier, Francisco Cândido. Sexo e Vida, ditado pelo espírito Emmanuel, Cap 8 - Divórcio ,RJ: Ed. FEB, 1978
(11) Idem

terça-feira, 2 de julho de 2013

O IMPACTO DA PORNOGRAFIA NA DEGRADAÇÃO DOS VALORES MORAIS


Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br
O léxico define a pornografia como ação ou representação que ataca ou fere o pudor, a moral ou os bons costumes. A sexualidade explícita e sugestiva tem uma longa história, é uma manifestação de “arte” ancestral. Há registros de imagem da nudez e da sexualidade humana na era paleolítica (1). Arqueólogos alemães encontraram, em abril de 2005, um desenho de cerca de 7200 anos de um homem sobre uma mulher, sugerindo fortemente um ato sexual. A figura masculina foi batizada de Adônis Von Zschernitz, todavia, entendemos que a imagem descoberta tinha  um significado , digamos, mais “místico”.
Presentemente não há nada de espiritual na efígie pornográfica. O abuso de conteúdo erótico de fácil e rápido acesso na web e outros meios de comunicação permite que as pessoas sejam expostas regularmente à excitação da sexualidade e tem instituído na mente incauta uma visão distorcida da carga genésica. Quem duvida que a pornografia é a exaltação da prostituição? Infelizmente, há aqueles que sob o guante do delírio abonam a pornografia como sendo “boa para a sociedade (2)".(!?...)
Em verdade, o uso abusivo da erótica, de coisas consideradas obscenas, geralmente de caráter sexual (livro, revista, filme, novas mídias etc.) com intenção de provocar excitação sexual, também tem sido cada vez mais entronizado na arte cinematográfica. Atualmente a pornografia é uma indústria poderosa, que degrada e desumaniza homens e mulheres e movimenta vários  bilhões de dólares.  “Estudiosos da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, acreditam que o uso excessivo de pornografia online está criando uma geração de "homens desajustados". O psicólogo Philip Zimbardo acredita que as pessoas estão criando "vícios de excitação", deixando-os incapazes de conviver sadiamente no mundo real e desenvolver relacionamentos benfazejos, segundo reportagem  do jornal Daily Mail(3).”
Pesquisas recentes indicam que um número expressivo de crianças e adolescentes são bombardeados com cenas erotizantes desde tenra idade e têm acesso às obscenidades frequentemente por meio das novas tecnologias. Sim! a Internet potencializou  a indústria pornográfica, que fatura hoje pelo menos vinte vezes mais do que nas décadas de 1980 e de 1990.
Na web são aproximadamente 30 mil usuários por segundo acessando conteúdos eróticos; são mais de 1 bilhão (isso mesmo! 1 bilhão) de downloads de material pornográfico a cada mês. Há estudos demonstrando que em menos de quatro anos, mais lares foram destruídos pela pornografia do que o comparativo dos últimos 50 anos. Isso acontece, sem distinção de nacionalidade, cor, etnia ou credo religioso. A Pedofilia, por exemplo, considerada a mais grave infração permeada pela web, tem fortalecido um transtorno, inigualável, aos jovens e crianças. Alguns inescrupulosos negociantes da indústria do sexo  usam métodos parecidos com o tráfico de drogas. Primeiro oferecem gratuitamente os conteúdos. Posteriormente começam a cobrar. Aliás, é desse jeito que o império das ilusões e da criminalidade tem florescido.
Tal como das drogas, o mercado pornográfico é um dos mais lucrativos mercados da história. Larry Flynt, empresário e dono do império Hustler, retratado por Milos Forman e Oliver Stone no filme "O povo contra Larry Flynt”, Bob Guccione, da revista Penthouse e Hugh Hefner, dono do Império Playboy, compõem alguns desses milionários da exploração da fantasia sexual. Obviamente, uma fatia gigantesca desse mercado é dominada pelo crime organizado.
Como se não bastasse toda essa degradação dos valores morais, atualmente nas telenovelas, igualmente a habilidade artística e o enredo abarcando os personagens, deram lugar à exposição de corpos desnudos e relacionamentos impregnados de volúpia erótica, que dão a conotação de cenas de sexo explícito; até mesmo nos programas vespertinos, dedicados a um público entre infantil e adolescente as cenas são altamente apelativas.
A pornografia sugerida na mente é como o combustível junto à fogueira do desejo sexual primitivo, resultando em pensamentos e apelos instintivos  desequilibrados.  Tem um efeito crescente, qual uma droga, o viciado precisa de mais e mais para atender o indômito desejo. Sim, doentes e viciados, pois o mecanismo psíquico da pornografia é o mesmo do alcoolismo. Clínicas psiquiátricas e psicológicas, de atendimento desses problemas (compulsão sexual), já estão sendo espalhadas pelo planeta. E terapeutas familiares têm travado um  combate intenso nos lares.
Assim como um usuário de drogas é levado a consumir quantidades maiores e mais poderosas de entorpecentes, a pornografia arrasta o ser humano, levando-o a pesados vícios sexuais e desejos animalizados. Como se percebe estamos diante de viciados do sexo que se expõem no tablado dos prazeres, na qualidade de servos ridículos em revistas de sexo explícito ou em filmes eróticos, desandando-se em ídolos da pornografia e da lubricidade hipocondríaca. “O meretrício de crianças e adolescentes se avulta, em face da fadiga dos corrompidos que exigem carnes novas para os apetites selvagens que os consomem. É compreensível que aumentem as estatísticas das enfermidades dilaceradoras como o câncer, a tuberculose, as cardiovasculares, a AIDS, outras sexualmente transmissíveis, as infecções hospitalares, dentre diversas, acompanhadas pelos transtornos psicológicos (4).”
As buscas das imagens eróticas criam um tônus de frequência mental  onde se sintonizam espíritos em estado de desequilíbrios sexuais. Os obsessores mantém a imagem da lascívia na mente repetindo ininterruptamente para estabelecer um circuito de luxúria e conduzir de volta o obsedado  à pornografia. Infelizmente a maioria das pessoas desconhece a intervenção espiritual na vida física. Contudo essas influências são constantes em nossas mentes em forma de pensamentos e consequentemente em ações. Grande parte dos vícios humanos é potencializada por influências obsessivas e até subjugações espirituais  ocasionando amplos transtornos para os viciados em fantasias pornográficas.
É uma perversão tão grave que tem destruído famílias e levado muitas pessoas à transtornos de complicada etiologia. A pornografia transforma os seres em objetos sexuais. Um levantamento na União Europeia (UE), por exemplo, concluiu que 25% das pessoas  com idades entre 9 e 16 anos já tinham visto imagens de cunho sexual. “E em 2010, uma pesquisa na Grã-Bretanha revelou que quase um terço dos jovens com idades entre 16 e 18 anos havia visto fotos de natureza sexual em celulares, na escola, mais de uma vez por mês. A National Association of Head Teachers (Associação Nacional de Diretores de Escolas) da Grã-Bretanha está fazendo uma campanha sobre o impacto da pornografia com o objetivo que crianças e adolescentes sejam educados de maneira apropriada à idade. (5)”
O tema proposto é gravíssimo. Muitos pais entram em pânico quando encontram pornografia no computador dos filhos. Sabem que  pode ser um campo minado e muitos não sabem o que fazer ou o que dizer.  Cremos que escolas, instituições religiosas e os pais devem trabalhar juntos, a fim de conscientizar as crianças, os jovens e os adolescentes sobre perigos que envolvem o aviltamento da sexualidade.
Toda prudência se faz necessária quanto à conduta que temos diante dos filhos, pois facilmente criamos nelas uma boa ou má impressão. Tudo, até o próprio tom com que lhes falamos, em certas circunstâncias, pode influenciá-las. Deve causar surpresa o fato de nelas se desenvolverem vícios dos quais se ignora a fonte? Uma criança pode aprender a doçura com pais que se deixam dominar pelas paixões? Pode adquirir sentimentos nobres com pais vulgares? Pode adquirir as virtudes sociais com pais que não as tem? Sem falar dos vícios mais palpáveis, está aí uma série de observações minuciosas que contribuem essencialmente para a formação do moral dos nossos filhos.
Experimentamos na sociedade os reflexos das escolhas íntimas.  Ou modificamos as opções infelizes de comportamento, ou reencarnaremos sob débitos, em face da soma das perversidades cunhadas e mantidas pela invigilância. Não podemos nos acomodar e sequer nos omitir ante a onda de promiscuidades, pornografias e corrupção moral. “Pensamento é fermentação espiritual. Em primeiro lugar estabelece atitudes, em segundo gera hábitos e, depois, governa expressões e palavras, através das quais a individualidade influencia na vida e no mundo”(6). Nada justifica ficarmos indiferentes e imóveis diante do acelerado aniquilamento dos valores cristãos. Se descuidarmos da vigília é certo que resgataremos obrigatoriamente à indiferença e inércia diante desse cenário preocupante do envilecimento do sexo.
Felizmente existe um divino Código que há dois mil anos vigora na Terra; Código que pode transformar o planeta quando exercitado entre os homens. Trata-se do Evangelho de Jesus. Inspiremo-nos Nele.

Referências:
(1)    Refere-se ao período da pré-história que vai de cerca de 2,5 milhões a.C., quando os antepassados do homem começaram a produzir os primeiros artefatos em pedra lascada, até cerca de 10000 a.C.
(2)    Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/05/130513_pornografia_beneficios_mv.shtml?s acesso 25/06/13
(3)    Disponível em http://tecnologia.terra.com.br/internet/pornografia-online-levara-homem-a-extincao-diz-professor,aafbfe32cdbda310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html  acesso em 21/06/13
(4)    Mensagem psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na manhã de 19 de Maio de 2009, na residência de Josef Jackulak, em Viena Áustria. Em 24.05.2010. Disponível no site da Federação Espírita do Paraná disponível em http://www.feparana.com.br/cartao.php?msg=598&cat=3 acesso em 27/06/13
(5)    Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/11/121106_pornografia_educacao_sexual_mv.shtml?print=1
(6)    Xavier, Francisco Cândido. Fonte Viva, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001.