Jorge Hessen
O deslumbre pelo esporte em quase todo o planeta, com muitos milhões de pessoas de todas as idades procurando dominar uma bola com os pés, potencializou globalmente um dos estupendos fenômenos da Terra, o tal futebol. Sua prática pode ser resumida pelo culminante evento: a “Copa do Mundo” realizada a cada 4 anos pela Fifa, uma organização internacional com mais países integrantes do que a ONU.
Em maio de 2006, o repórter investigativo britânico Andrew Jennings, autor do livro intitulado Foul! The Secret World of FIFA: Bribes, Vote-Rigging and Ticket Scandals, causou polêmica dentro do universo futebolístico ao denunciar as falcatruas da instituição que envolvia a venda de contratos, revelando ainda como alguns altos funcionários do futebol foram forçados a reembolsar as propinas que haviam recebido no passado. Os evangelistas registraram cada qual à sua maneira o seguinte: “pois nada há secreto que não haja de ser descoberto, nem nada oculto que não haja de ser conhecido e de aparecer publicamente”. [1]
Não ignoramos que a corrupção, ou seja, o pagamento de propina para conseguir vantagens, quer sejam de ordem financeira ou tráfico de influência, arruína a aquisição do bem coletivo, pois muitos são lesados para que poucos obtenham espúrios proveitos. No século XX, muito foi escrito denunciando os crimes que envolvem o mundo dos esportes. “Ai do mundo por causa dos escândalos; pois é necessário que venham escândalos; mas, ai do homem por quem o escândalo venha”. [2]
Recentemente o FBI mostrou concretamente a abominável putrefação moral que se instalou na entidade máxima do futebol mundial. A mídia divulgou a prisão de sete cartolas ligados à Fifa (em Zurique) por acusação de corrupção envolvendo acordos de marketing, venda de direitos de transmissão de eventos e escolha das sedes da Copa do Mundo. Outros sete foram indiciados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, em lista que reúne presidentes de federações e confederações, além de empresários.
Paradoxalmente a Fifa é uma organização sem fins lucrativos. No entanto, mantém uma grande reserva de dinheiro, que contabilizava mais de US$ 1,5 bilhão em 2014 – baseada na Suíça, onde é isenta de impostos. A Copa do Mundo 2014 no Brasil rendeu US$ 4,8 bilhões (R$ 15 bilhões) em quatro anos – o evento gerou um lucro de mais de US$ 2 bilhões para a Fifa. Direitos de transmissão pela TV são uma das principais fontes de renda da entidade. O lucro da Fifa é maior, na média do ciclo de quatro anos, do que o PIB de diversos países membros da organização, como a Guiné-Bissau e as Seicheles.
Há mais de dez anos, na cidade mexicana de Mérida, mais de 110 países assinaram a Convenção Nações Unidas contra a Corrupção. [3] O referido acordo prevê a cooperação para a recuperação de somas de dinheiro desviado dos países e a criminalização do suborno, lavagem de dinheiro e outros atos de corrupção. Infelizmente não é só na Fifa que prolifera a desonestidade. É com pesar que vemos no Brasil a improbidade, a falcatrua, a propina com o status de “normalidade”. Na suposta pátria do “Evangelho” se observa a crise que desafia o otimismo de cartolas [4], políticos e eleitores. Estamos assistindo a uma enxurrada de denúncias, que vão desde o chamado caixa 2 de campanha política, até a compra de votos para aprovar projetos importantes na área governamental.
Nos noticiários descobrimos que os governantes brasileiros não conseguem viver longe da corrupção, ela está institucionalizada. O noticiário político é um oceano de lodo; na área econômica, irrompem golpes dos mais variados tipos, com prejuízos globais em cifras de bilhões de reais. A desonestidade fincou raízes e chegou ao seu cume ante os comportamentos maquiavélicos na administração do Estado. Os nossos governantes, ao defenderem a falácia de que os fins são justificados pelos ilegítimos meios, têm contaminado a coletividade, pois a sociedade se espelha e justifica seus vícios morais nas tramoias dos governantes.
Diante da constrangedora deterioração da ética, da malversação do dinheiro público, do absoluto aparelhamento de todas instâncias (tribunais de justiça e câmaras legislativas), com enfoque na sustentação da impunidade, brotou no cenário brasileiro uma espécie de escárnio do povo, ganhando espaços preciosos o acovardamento e a omissão generalizada. Estamos atravessando o apogeu de um ciclo desmoralizante que a tudo e a todos tem atingido com a alienação emocional de uma sociedade indolente e visivelmente doente.
Porém nem tudo está perdido nestas área tupiniquins. Há exemplos de cidadãos brasileiros que não se envergonham de trabalhar em patamares de honradez e honestidade. Pessoas simples do povo, que ao acharem objetos perdidos como celulares, carteiras, bolsas, cheques devolvem aos seus legítimos donos quando poderiam valer-se do famigerado “achado não é roubado” e “tirar vantagem”, mas não o fazem; Gente simples que devolve altas quantias em dinheiro encontradas em pastas, bolsas ou caixas aos donos ou às autoridades.
Os filhos desta abençoada Pátria não podem se ajoelhar diante da putrefação moral e da corrupção que sangra o suposto coração da suposta nação do Evangelho. Urge orar, exorar a Jesus pedindo-lhe que interceda a favor dos bons cidadãos de hoje e das futuras gerações de brasileirinhos. [5]
Notas e referências bibliográficas:
[1] Lc.12:2, Mt.10:26. Mc.4:22,Lc.8:.Jo.7:4
[2] Mt 18:7
[3] Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, adotada pela Assembleia-Geral das Nações Unidas em 31 de outubro de 2003 foi assinada pelo Brasil em 9 de dezembro de 2003
[4] Diretores de clubes esportivos
[5] Hessen, Jorge. Artigo publicado em http://aluznamente.com.br/exaltemos-a-brasilidade-verde-amarela-na-patria-do-evangelho/