Jorge Hessen
Define o dicionarista a “solidão” como um estado de quem se sente ou está só. Para os psicólogos a solidão é uma “moléstia astuciosa” que nenhum instrumento médico consegue identificar, o que resulta , quase sempre , em determinados reflexos comportamentais , a saber: isolamento, inabalável esmorecimento, irreprimível indisposição, tristeza sem causa, baixa autoestima.
O psicólogo John Cachopo, após 6 anos de estudos com 2 mil pessoas, afirma que os solitários correm mais risco de falecer do que os outros. É que a solidão eleva a pressão arterial e, logo, aumenta também os riscos de infartos e derrames. Além disso, o isolamento enfraquece o sistema imunológico e piora a qualidade do sono.
Não ignoramos que hoje em dia muitas pessoas moram sozinhas e levam uma vida relativamente serena. Não se pode dizer que são pessoas “doentes” se as mesmas se sintam bem nessa circunstância. Até porque, a sensação de isolamento pode estar presente em qualquer lugar ou situação, como numa festa com os amigos, no trabalho e até mesmo dentro de casa com a própria família.
Experimenta-se atualmente a sediciosa sensação de insulamento na multidão. Indivíduos cercados por pessoas em ônibus, metrôs, aviões, estádios, avenidas, ruas, contudo, nessa avalanche de gente avultam os solitários na multidão. E quanto mais são cercados de pessoas, de barulho, de tarefas, mais se agrava a sensação de que estão sozinhos. Parece contraditório. Será a “tal solidão” a ausência de companhia? Consistiria em fuga da civilização?
Há os que defendem que solidão seja a arte do encontro com o vazio existencial. Esse vazio é de mão dupla. Uma é o da existência, da busca de um significado metafísico; a outra é o da ausência, da perda de algo importante. A liberdade é uma descoberta solitária e por isso muitos tentam evitá-la. Garantem tais estudiosos que a solidão é boa, que ficar sozinho não é vergonhoso. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo.
Realmente há quem use a prodigiosa solidão como tempo de inspiração, análise e programação. Quando fazemos silêncio exterior, damos vazão ao mundo interno, intenso e palpitante. Há tanta gente mergulhada em alaridos indigestos, dominada por conversas maledicentes ou pelo estrondo de risadas burlescas; há tanta gente rodeada de pessoas, mas com a alma amargurada, oprimida, oca. Lembremos que tudo tem o seu tempo determinado, conforme narra o Eclesiastes.
“Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar, tempo de colher, tempo de chorar e tempo de sorrir; tempo de falar e tempo de silenciar também.” [1] Então, por que temer a frutífera solidão? Se a vida nos oferece ocasiões de solidão, saibamos abrigá-la como um tesouro. Aproveitemos cada instante para meditações.
Obviamente o “isolamento absoluto” é contrário a lei da Natureza, somos seres sociais e por instinto buscamos a sociedade e devemos concorrer para o seu progresso, auxiliando-nos mutuamente. Completamente isolados não dispomos de todas as faculdades. No isolamento incondicional ficamos brutalizados e morremos. Por essas razões é importante caracterizar as distintas solidões – aquela que significa fuga deliberada do convívio social daquela outra que nos abastece a alma.
A solidão com o serviço aos semelhantes gera a grandeza. A rocha que sustenta a planície costuma viver isolada e o Sol que alimenta o mundo inteiro brilha sozinho. Emmanuel ensina que “Jesus escalou o Calvário, de cruz aos ombros feridos e ninguém o seguiu na morte afrontosa, à exceção de dois malfeitores, constrangidos à punição, em obediência à justiça. [2]
Não esperemos pelos outros, na marcha de sacrifício e engrandecimento. “E não olvidemos que, pelo ministério da redenção que exerceu para todas as criaturas, o Divino Amigo dos Homens não somente viveu, lutou e sofreu sozinho, mas também foi perseguido e crucificado...” [3]
Referências bibliográficas;
[1] Eclesiastes 3:1-8
[2] Xavier, Francisco Cândido. Fonte Viva , ditado pelo Espírito Emmanuel, cap. 70, RJ: Ed. FEB, 1999
[3] Idem