As tecnologias pessoais, sobretudo os smartphones, revolucionaram o formato com que as pessoas se expressam no dia-a-dia na atualidade, e a selfie faz parte dessa transformação. Experimenta-se a neurose do selfie (derivada do termo inglês self (eu) junto ao sufixo “ie” – um tipo de fotografia), para indicar uma espécie de autorretrato, tradicionalmente exposto na rede social que tem contagiado a muitos, principalmente no Instagram e Facebook. O indivíduo aponta o smartphone para o próprio rosto e busca o melhor ângulo para tirar uma fotografia esmerada. Pode ser na praia, na festa, no parque, no restaurante ou em situação de alto risco de vida. A obsessão é tamanha que neste último caso chega a causar acidentes fatais.
Quando falamos em selfies aqui, os números não são nem de longe inexpressivos, ou seja, nada menos que 880 bilhões de fotos foram feitos apenas em 2014. Uma parcela relevante de auto-exposição na forma de autorretratos. Tais imagens podem camuflar ameaças, sobretudo quando as fotografias revelam uma conotação erotizante, uma posição lasciva. Obviamente a exposição de dados pessoais, informações e fotografias supostamente inocentes pode servir de matéria prima para os criminosos sempre de plantão.
Uma pessoa equilibrada, na maioria das vezes, posta selfies com imagens mais espontâneas, ao invés daquelas estrategicamente montadas e editadas. Pessoas mais invigilantes tendem a postar selfies às vezes mais erotizadas e exibicionistas, com o intuito de receber o maior número de “curtidas”, e com isso obterem uma falsa percepção de que são “amadas”. Há aqueles que fazem selfies nas academias retratando os corpos “sarados”, e se não tiverem “curtidas” e “comentários” ficam frustrados, deprimidos e ampliam os exercícios para esculturar o visual.
Pessoas que possuem pouca autoestima hipervalorizam o “olhar” do outro, ou seja, a aprovação do outro tende a ser muito importante para elas. Há alguns transtornos que podem estar associados ao comportamento descontrolado da produção de selfies, como depressão, fobia social, transtorno afetivo bipolar e transtorno dismórfico corporal (termo usado para designar a discrepância ou diferença entre aquilo que a pessoa acredita ser, em termos de imagem corporal, e aquilo que realmente é). Tais transtornos trazem prejuízos concretos à vida do indivíduo, como isolamento social, anorexia, bulimia, automutilação e até suicídio.
Neste sentido, o vício de tirar centenas de selfies não é uma prática recomendável, até porque a “auto representação seletiva” não aumenta a autoestima e nem a autoconfiança. É preciso então estabelecer limites, critérios e cuidados para evitar os excessos. Ademais, o que leva um indivíduo a necessitar das curtidas e compartilhamentos da rede social?
Normalmente, carências afetivas são as principais causas da necessidade de se expor, de chamar a atenção. Quando não preenchidas, comumente provocam situações psicopatológicas extremas. Há pessoas (insanas) que vão tirar selfie próximas a animais ferozes, subindo no trilho de um trem, equilibrando-se no parapeito de uma ponte, nas culminâncias das torres ou ainda nos pontos mais altos de edifícios gigantes, que aliás têm sido uma das "modas" mais perigosas dos últimos tempos, e isso tem trazido consequências graves.
Os ‘selfies’, muito comumente têm o poder de desencadear a procura descomunal por atenção e dependência social, indicativas da precária autoestima e do patético egocentrismo. Essa forma de narcisismo excessivo pode ter efeitos trágicos sobre as relações pessoais, mormente quando não há limite entre o prudente e o extravagante no contexto da autopromoção visual, obviamente se isso transformar-se em prática muito frequente.
Será que estamos exagerando no diagnóstico de uma tendência inofensiva? Ou existem efeitos colaterais sociais e psicológicos graves no horizonte? A tecnologia precisa estar a nosso favor e a benefício da sociedade. Que tal se, em vez de postar constantemente o próprio retrato, postássemos imagens com informações culturais ou compartilhássemos projetos sociais importantes? Isso sim seria muito útil à sociedade. Porém não será através da postagem de milhares de fotos de si mesmo que se estará colaborando com a melhoria da vida no planeta. É necessário construir uma sociedade menos individualista e menos egocêntrica, colaborando para que as redes sociais possam ter sobretudo uma função de contribuição para a sociedade!
O nosso avanço espiritual consiste, exclusivamente, na forma de ver a vida, e isso nada mais é do que a demonstração de uma nova visão de nós mesmos e do mundo ao nosso redor. O sentimento de inferioridade ou de baixa autoestima associa os viciados nas selfies a uma auto-exposição exagerada, a uma autonegligência ou desmazelo das coisas pessoais.
A incapacidade de avaliação do senso de autoconhecimento é também decorrência do sentimento de inferioridade, que nos remete à vivência entre “hábitos egoísticos” e a uma “hibernação dos sentimentos”. Portanto, o máximo sentido de nossa atual encarnação deve ser a conscientização da prosperidade de nosso mundo íntimo. Somos essências grandiosas à procura da perfeição relativa, cuja porta de entrada é o autodescobrimento.