Jorge Hessen
Estima-se que, em média, o número de estupros é de mil por um milhão de habitantes/dia. Alguns cientistas presumem uma cifra 40 vezes maior. Possivelmente ocorram, a cada dia, de 7 a 140 milhões de estupros no mundo ou, por ano, entre 2,5 bilhões e 100 bilhões. Para o psicólogo e escritor Alexandre Bez, o estuprador retira do ato um prazer baseado em uma "perversão sexual", cujos sentimentos tendem para raiva, sensação de poder e sadismo imperativo. Ao violentar sexualmente uma mulher, o indivíduo destrói a existência da vítima, causando diversos danos como: a falta de concentração, transtornos de ansiedade, insônia, desordens alimentares, perda de memória (o que possibilita não reviver o trauma), exclusão da vida social e possíveis tentativas de suicídio. [1]
O recente fato ocorrido na cidade do Rio de Janeiro, onde uma adolescente de 16 anos foi violentada sexualmente por mais de 30 homens, em uma sessão de estupro coletivo, vem gerando revoltas e protestos no Brasil com ampla repercussão internacional. É assombroso ver notícias como esta estampadas na imprensa mundial. Como é que em pleno século XXI ainda acontece algo dessa natureza? Entre aberrações morais existentes, principalmente no domínio da sexualidade, um dos mais nefastos e assombrosos é, sem nenhuma dúvida, a conjunção carnal forçada, imposta pela força física ou pela coação moral (psicológica). Tradicionalmente, onde impera o tráfico de armas e drogas, o estupro em massa de uma mulher, seja ela jovem ou apenas pré-adolescente em processo de transformação, encaminhando-a para a devassidão é uma prática corriqueira e, do ponto de vista dos marginais traficantes e cafetões, absolutamente necessária para conseguir a sua adaptação na prostituição.
A violência sexual é o fruto apodrecido da animalidade humana. A melhor maneira de tornar uma sociedade justa e altruísta é a educação das gerações jovens. Lamentavelmente nunca se buscou tanto “prazer” sexual como na época presente. São jovens na desmoralizada troca de companheiros e muitos casais mergulhados na desventura extraconjugal. Será que o ser humano necessita tanto assim de “prazer sexual”? Será que tal “prazer” constitui o amor? Obviamente não, pois a manifestação dos impulsos sexuais é um fenômeno mecânico e biológico de atração magnética, enquanto que o amor é um anseio sublime. O sexo é apenas um instrumento de sensações. Quando a sexualidade é abastecida pelas emoções excelsas do amor, ilumina o ser; contudo, sem a higienização desta carga erótica, ela aflige a mente e cristaliza a emoção.
Na violência sexual, será que a vítima está quitando moralmente o pretérito delituoso? Óbvio que não! Pois nem todas as tribulações que experimentamos na vida foram previstas ou escolhidas por nós. A escolha se resume ao gênero da prova. O Espírito de Verdade nos adverte: "Se o Espírito quis nascer entre malfeitores, por exemplo, sabia a que tentações se expunha, mas ignorava cada um dos atos que viesse a praticar. Estes atos são efeito de sua vontade, ou de seu livre arbítrio." [2] O estupro, assim, não pode estar dentro de uma programação reencarnatória. Entretanto, em advindo, vítima e agressor submetem-se às Leis de Deus, sujeitos à apreciação espiritual do assunto, derivando para a vítima, por padecer a prova com bravura e paciência, condição de evolução espiritual e, para o estuprador, dolorosa trilha de restauração do erro, ansiando contar ainda com o perdão da vítima como forma de ajuda para superação das próprias deficiências morais.
E para nós, que nos insurgimos revoltados quando conhecemos os episódios de estupro, bradando por justiça “vingativa”, saibamos que nada resiste aos desígnios da Lei do Criador e, antes de nos fazermos implacáveis juízes dos criminosos, observemos a mensagem de Jesus que disse para os condenadores da mulher adúltera: "atire a primeira pedra". Importa que nos abriguemos na oração inclusive em favor dos criminosos, a fim de que os mesmos possam sair da situação em que se encontram, refletindo os seus crimes, requerendo igualmente nova oportunidade de arrependimento, reparação e expiação, visando seu adiantamento espiritual.
Em face desses dantescos panoramas, e em que pese os contrastes da vida social, considerando as várias culturas terrenas, naturalmente Deus não abdicou do comando dos mundos. Há uma ordem nas coisas e não estamos abandonados pelo Governador da Terra e pelos Operários divinos da espiritualidade, que acompanham cada acontecimento e oferecem sempre a oportunidade de melhoria para o violador das leis e o amparo ao que sofre uma ação perversa dos criminosos.
É ocasião de silenciar e exorar misericórdia ao Criador, posto que agindo assim estaremos contribuindo com a magna obra do Evangelho.
Referências:
[1] Disponível em http://www.msn.com/pt-br/saude/medicina/psic%c3%b3logo-fala-dos-traumas-sofridos-por-v%c3%adtimas-de-estupro/ar-BBtEych?li=AAggPNl&ocid=UE07DHP > acesso em 01/06/2016
[2] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questões 258 a 273, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1999