Jorge Hessen
Brasília-DF
Observemos abaixo os respeitáveis argumentos de alguns líderes residentes nas favelas do Brasil. Pronunciam tais líderes que existe hoje uma guerra urbana , porém o poder público não tem interesse em mudar esse panorama . Afirmam que a educação brasileira não melhorou para quem é pobre e favelado. Aliás, regrediu muito. No Brasil a educação não tem sido prioridade de nenhum governo. Professores são desrespeitados e seus salários aviltantes.
Lembram que a pobreza ainda jaz estacionada, contudo ser pobre não é desonra. O que falta no Brasil é respeito, é a percepção de que não há bandido só nas favelas, mas também entre os mauricinhos e patricinhas e entre os insuspeitos “colarinhos brancos”.
As mãos de obra pesadas estão nos bairros pobres, nas comunidades e nas favelas. O engenheiro calcula tudo, mas quem faz a base e levanta a parede é o trabalhador suburbano. Os endinheirados não compreendem que na morte todos vamos para o mesmo lugar. Lá no cemitério, acaba a arrogância, a prepotência, o egoísmo, o desprezo. Somos todos iguais, independentemente de cor, raça, condição financeira, religião. Deus fez todo mundo do seu jeito, não existe ninguém perfeito.
Sem embargo da consistência de opinião supramencionada, creio que o brado de indignação, dimanado das lideranças referidas, inobstante sua lógica indiscutível, pode padecer acanhados ajustes através de alguns conceitos doutrinários.
Notemos, pois.
Concordamos que os benefícios do desenvolvimento material não estão sendo divididos equitativamente e o fosso entre afortunados e deserdados (ricos x pobres) é colossal. Essa tendência pode ser ameaçadora para o equilíbrio social, por isso é urgente corrigi-la. Caso contrário, as bases da segurança global poderão estar seriamente ameaçadas.
Sabemos que o conhecimento e a tecnologia a nosso favor, necessários para sustentar toda a população e reduzir os impactos das desigualdades materiais, até porque os desafios econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados, e, juntos, podemos criar, de início, soluções emergenciais para que evitemos o caos total em pouco tempo.
Urge que se crie na população uma mentalidade crítica, que permita estabelecer novos comportamentos, reduzindo os extremismos ideológicos, mormente dos discursos ardilosos dos políticos desonestos, alguns fantasiados de “pais dos pobres”, e entronizar-se entre nós a verdadeira solidariedade. A sociedade deve construir novos modelos de convivência lastreados na fraternidade e no amor. A falta de percepção da interdependência e complementaridade entre os cidadãos gera uma visão individualista, materialista, separatista. Isso não é nada auspicioso.
Os espíritas, compreendemos e explicamos muitos fenômenos sociais e econômicos através da pluralidade das existências. Não somos arautos de revoluções porque cremos na evolução, isto é, os espíritas somos evolucionários e não revolucionários, e a nossa proposta é para mudanças na intimidade do ser humano; não contemporizamos com as injustiças, todavia entendemos bem a concentração de riqueza que necessariamente nem sempre significa a ausência de fraternidade, ou manutenção de privilégios e de excessos no uso dos bens, das riquezas e do poder de uns poucos em detrimento do infortúnio da maioria.
Indagado sobre a desigualdade verificada entre as classes sociais, o Espírito Emmanuel esclareceu que “a desigualdade social é o mais elevado testemunho da verdade da reencarnação, mediante a qual cada espírito tem sua posição definida de regeneração e resgate. Nesse caso, consideramos que a pobreza, a miséria, a guerra, a ignorância, como outras calamidades coletivas, são enfermidades do organismo social, devido à situação de prova da quase generalidade dos seus membros. Cessada a causa patogênica com a iluminação espiritual de todos em Jesus Cristo; a moléstia coletiva estará eliminada dos ambientes humanos”.[1]
Finalizo com as palavras do notável Leon Denis que enunciou: “O Espiritismo é, ninguém se engane, um dos maiores acontecimentos da história do mundo. Assim hoje, em face das doutrinas religiosas enfraquecidas, petrificadas pelo interesse material, impotentes para esclarecer o Espírito humano, ergueu-se uma filosofia racional, trazendo em si o germe de uma transformação social, um meio de regenerar a Humanidade, de libertá-la dos elementos de decomposição que a esterilizam e enodoam”. [2]
Referências bibliográficas:
[1] Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1999, questão 55
[2] Denis, Leon. Depois da Morte, capitulo 24, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1998