sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Exoremos comiseração pelo Brasil! (Jorge Hessen)

Exoremos comiseração pelo Brasil! (Jorge Hessen)


Jorge Hessen

Nas vésperas das eleições de 2018 no Brasil, devemos nos manter acautelados no momento da votação. Não podemos esquecer o recente quadro de corrupção na política brasileira. Vimos a deterioração da dignidade e má administração do dinheiro público dos governantes, na fracassada tentativa do aparelhamento de todas instâncias jurídicas e legislativas para que fosse estabelecida a construção  do IMPÉRIO POLÍTICO no Brasil, inspirado nos governos chineses, cubanos e norte coreanos.
Talvez haja uma certa desesperança, descrença e conflito de memória na mente dos brasileiros que vêm infectando até mesmo as instituições dos três poderes. Nota-se além disso, precário entusiasmo patriótico e apatia para um projeto de vigorosa reorganização cívica com vista à mantença da liberdade do povo.
Jazem relativamente inertes alguns segmentos midiáticos e religiosos. As instâncias militares e outros agentes públicos de várias categorias encontram-se hibernados juntamente com o grande contingente de compatrícios que fazem vistas grossas diante dos últimos episódios políticos.
Os espíritas conscientes do Brasil não podem se rebaixar diante da putrefação moral e da corrupção que aniquilam as conquistas morais do brasileiro castiço. Urge exorar aos bons espíritos, solicitando que advoguem diretamente com o Cristo (Modelo e Guia da Humanidade), impetrando a imediata intercessão espiritual a favor dos patriotas honrados e das futuras gerações de brasileirinhos.
Assistimos de alguns anos para cá a volúpia dos figurantes (massa de manobra) desordeiros reagirem, bradando por confrontos entre classes sociais, vociferando urros de paz e de justiça social, como armas para a agressão entre compatriotas. A exemplo dos inúmeros movimentos dos “sem” (tetos e terras) criados por sinistros grupos insurgentes.
O povo brasileiro tem colhido inúmeras desilusões nas experiências coletivas, reflexas muitas vezes, dos deploráveis atos de invasão. Movimentos perturbadores que representam lutas dolorosas em que as ações refletem as palavras de comando das praças públicas, em que as massas ingênuas, padecentes e anônimas obedecem sob o jugo dos embustes provindos dos capciosos emissários da violência.
Com a materialização do ideário dos populares movimentos “sem” (tetos e terras) conseguiu-se montar uma logística bem temperada com erário público e instituíram uma massa de “criaturas incivilizadas” que nos ameaçam e assustam. Possivelmente suas ideias tenham sido justas e legítimas no primeiro instante, mas na radicalização o que se assiste atualmente é um grupo de seres manipulados e fora-da-lei que atua com suas próprias noções de justiça, ignorando o Estado de direito.
Oremos por tais “pessoas violentas”, eis aí nossas armas poderosas. Queiram ou não os tais grupos, na verdade o Cristo permanecerá com a rédeas nas mãos, comandando o povo para a definitiva vitória da paz e da ordem entre todos os brasileiros. Não por acaso, consta na composição do hino nacional o fragmento “se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta”. Sim, os legítimos representantes do Cristo não abdicarão da justiça pela probidade, pelo decoro, pela liberdade e pela honra.
Que o Cristo tenha clemência de todos nós, intérpretes diminutos, neste paradoxal panorama incrustado neste território geopolítico da América do Sul. É urgente orarmos, solicitarmos a Jesus pedindo-lhe a interseção a favor dos denodados cidadãos (juízes, delegados, agentes policiais, advogados, procuradores, jornalistas, religiosos, articulistas espíritas e outros) que confiam na paz!.
Estamos seguros de que o Espiritismo auxiliará eficazmente nas reconstruções de ordem sociopolítica e econômica do Brasil, porque dentre outras propostas, sugere a substituição dos impulsos antigos da violência e do egoísmo pelos impulsos da mansidão e da fraternidade universal.
Imploremos, pois,  pelo Brasil!

domingo, 23 de setembro de 2018

Arautos de eventos espíritas!! Modelem-se nas proezas da RAE-TV (Jorge Hessen)


Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com

O Cristo jamais arrecadou dinheiro (vil metal) por difundir seus mandamentos e muito menos por seus acolhimentos à massa padecente. Inversamente, condenou quem assim procedia. Chico contava nas tradicionalíssimas rodas de amigos que jamais participaria de “eventos espíritas” onde as pessoas precisassem pagar para vê-lo e confessava que daria o que tivesse no bolso para se retirar desses lugares.
A estipulação de valores de taxas para ingressos em eventos espíritas como palestras, encontros e seminários, sob qualquer forma ou desculpa “esfarrapada”, é excludente e infame, pois restringe os ensinamentos espíritas a quem pode pagar. Isso é uma deslealdade aos Espíritos, a Kardec e a Jesus.
É inadmissível desviarmos o Movimento Espírita, caindo nas mesmas esparrelas sofridas pelo Cristianismo romano (ocidental) e Cristianismo ortodoxo (oriental), que  vagarosa e sorrateiramente  se tornaram religião institucionalizada, rigidamente hierarquizadas. Tais igrejas valeram-se dos valores monetários que foram transferidos da contribuição espontânea para “assistência aos mais necessitados”, fixando-se taxas pecuniárias (dízimos) camufladas sob vários pretextos, conduzidas para custeamento do profissionalismo religioso e para construção de suntuosas catedrais , além, é óbvio, pela acumulação de fortunas.
Quando analisamos as proezas da RAE-TV Rede Amigo Espírita para difusão do Espiritismo gratuitamente (para o planeta) fico ponderando que a atual liderança precisa instruir-se com o confrade sonhador (pé no chão)  José Aparecido e sua equipe. O que realiza na propaganda espírita é de flamejar os nossos olhos de exultação!
Os contextos justificadores provindos das badaladas lideranças espíritas são sucessivamente as mesmíssimas. Argumentam que as casas espíritas não têm recursos financeiros suficientes para arcar com os custos com viagem de expositores, aluguel de auditório, material de trabalho. Daí, justificam, a necessidade da cobrança de taxa de inscrição. Ora se não têm recursos, por que não se valem dos recursos das redes sociais e façam iguais a RAE-TV (difusão doutrinária gratuita) ?
Reconhecemos que alguns EVENTÕES determinam ampla circulação do “vil metal”, todavia, entendemos que há outros modos, que não sejam o de obrigatória exigência de taxa de inscrição para ingresso (a exemplo dos eventos realizados pela Federação Espírita do Paraná que sempre são gratuitos. Obviamente são processos mais árduos, contudo são mais leais aos propósitos espíritas de estar ao alcance de todos e atuar sempre ao lado do povo e não de alguns endinheirados.
Destarte, estaria se evitando abjeta discriminação de participantes com base no poderio financeiro. Imaginemos como permanece psicologicamente a situação de um espirita desempregado , que sobrevive de “bicos”, “biscates” (serviços eventuais) cuja família atuante do movimento espírita, não tivesse recursos para pagamento da taxa? Que vergonha!!
Há os que ajustam o discurso para arrazoar sobre as contribuições espontâneas (rateio) com os que podem bancar a empreita. Todavia,  sempre haverá os que ajuízam que não dará certo, porque culturalmente os espíritas endinheirados não estão habituados a contribuir espontaneamente.
Mas fica só entre nós aqui, se medidas como essas, ou seja, contribuições espontâneas (rateio entre os que podem) não funcionar é porque o grupo espírita ainda não está preparado moral e espiritualmente para iniciativas mais arriscadas.
Para rematar, reproduzo a frase que já proclamei por mais de cem vezes: Em verdade, de duas, uma! Ou o Espiritismo chega à massa, especialmente aos “filhos do Calvário”, aos deserdados, para relevar sua mensagem, ou submergirá no fosso profundo da hipocrisia e perderá legitimidade anunciar o Evangelho através da Codificação.

Vade retro obsessor ou baldios “descarregos”? (Jorge Hessen)

Vade retro obsessor  ou baldios “descarregos”? (Jorge Hessen)

Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com

De A a Z ou seja de  “Abaddon” da mitologia cristã a “Zulu Bangu” da mitologia africana há mais de 200 codinomes para designar os “demônios”. Entretanto, sabemos que  os “demônios”,  como são caracterizados pela  teologia decrépita,  não são criaturas reais.  Conforme o senso comum, a expressão “demônios” significa seres essencialmente perversos e seriam, como todas as coisas, criação de Deus. Ora, Deus que é soberanamente justo e bom não poderia ter criado Espíritos predispostos ao mal para toda a eternidade.
O Espiritismo nos faz distinguir a natureza e a origem desses “demônios”, a partir do princípio de que todos os seres humanos foram criados simples e ignorantes, portanto, imperfeitos, sem conhecimentos e sem consciência do bem e do mal. Pela Lei de evolução todos nós, sem qualquer exceção, conseguiremos alcançar a relativa perfeição e gradualmente desenvolveremos virtudes, a fim de avançarmos na hierarquia espiritual até alcançarmos a plena felicidade na “angelitude”.
Além disso, sobre os famigerados “coisas-ruins”, o Codificador do Espiritismo nos ensina que eles [os “demônios”] são nossos irmãos , porém são Espíritos que ainda se encontram moralmente nas classes inferiores, todavia, chegará um dia em que se cansarão dos sofrimentos e compreenderão a necessidade de bancarem o bem.
Os “demônios” devem, portanto, ser entendidos como referentes aos Espíritos impuros, que frequentemente não são melhores que os designados por esse nome, mas com a diferença de serem os seus estados tão-somente transitórios. Na verdade  eles são os Espíritos imperfeitos que resmungam contra as suas provações e por isso as sofrem por mais tempo, entretanto chegarão livremente  à perfeição, quando se dispuserem a isso.   
Se existissem “demônios”, eles seriam criação de Deus, ora,  o Senhor da vida seria justo e bom se tivesse criado seres devotados eternamente ao mal e infelizes? Se há “demônios”, descreveram os Benfeitores do além  a Allan Kardec,  “eles habitam em teu mundo inferior e em outros semelhantes. São esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo, um Deus mau e vingativo e crêem lhe serem agradáveis pelas abominações que cometem em seu nome”.[1]
O vocábulo demônio não implica na ideia de Espírito mau senão na sua acepção contemporânea, porque a terminologia grega Daimon, da qual se origina, significa, “Deus”, “poder divino”, “gênio”, “inteligência”, e se utiliza para indicar os seres incorpóreos, bons ou maus, sem distinção. Porém, há pessoas que acreditam no poder maléfico do “Príncipe das Trevas” e até o enaltecem em suas igrejas. Não me surpreenderia se fossem fechadas muitas igrejas se os seus dirigentes deixassem de acreditar em Satanás. (Pasme!)
Os antigos e modernos sacerdotes fizeram e fazem com os “demônios” o mesmo que com os “anjos”. Do mesmo modo que arquitetaram a imagem de seres perfeitos desde toda a eternidade, construíram igualmente os Espíritos inferiores por seres perpetuamente maus. Os partidários da “doutrina dos demônios” se apóiam nas cridas repreensões do Cristo. Chegou-se ao absurdo de criar o instituto do exorcismo para afugentamento de tais entidades.
Amparados no alarido beneditino “vade retro Satã! ”, os exorcistas exortam os espíritos demoníacos a saírem do corpo dos possessos, valendo-se igualmente da invocação do nome de Deus, de Cristo e todos os anjos. E ao final dos extenuantes berreiros e invocações, sempre sob o arrimo da “reza brava” e “água benta”, o resultado aparentemente surge de forma rápida, mas sem sustento duradouro.
Inexplicavelmente há instituições “espíritas” que promovem sessões de “desobsessão” (ou seria exorcismos?), que consideram mais “fortes” e com efeitos “imediatos”, conforme garantem seus realizadores, contudo lamentavelmente nesses estranhos “tratamentos espirituais” (ou descarrego?) são normatizados exclusivamente um procedimento coercivo, o “banimento” instantâneo e transitório do obsessor. Mas será que esse rápido afastamento espiritual é possível? Ora, é obvio que não, pois é impossível “rebentar, de um instante para outro, algemas [mentais] seculares forjadas nos compromissos recíprocos da vida em comum?”[3]  Impossível, mesmo!
Os espíritas compreendem que os cognominados, “capetas”, “coisa-ruim”, “lúcifer”, “diabo”, “satanás”, “satã”, “cão”, “demo”, “besta” e outros “demônios” que reverberam na mente do povo, não são seres votados por Deus à prática do mal, e sim seres humanos desencarnados que se desequilibraram em atitudes infelizes perante a vida. “Na raiz do problema encontramos a necessidade de considerar os chamados “espíritos das trevas” [demônios] por irmãos verdadeiros, requisitando compreensão e auxílio, a fim de se remanejarem do desajuste para o reequilíbrio neles mesmos.” [2]

Referência bibliográfica:
[1]        KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 131, RJ: Ed. FEB, 2001
[2]        XAVIER Francisco Cândido. Caminhos de Volta, ditado por espíritos diversos, SP: edição GEEM, 1980
[3]        XAVIER, F. C. Missionários da Luz, pelo Espírito André Luiz. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1970.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

MUITA LUZ - "O DOSSIÊ DE BERTH FROPO"

MUITA LUZ - "O DOSSIÊ DE BERTH FROPO" 

MUITA LUZ
DOSSIÊ DE BERTH FROPO (CONFIDENTE DE MADAME KARDEC)
FONTE:  http://luzespirita.org.br/leitura/pdf/L158.pdf


HISTÓRICO DA UNIÃO ESPÍRITA FRANCESA

Venho esclarecer os espíritas sérios e sinceros, e lhes demonstrar que se a União Espírita foi fundada, não é por ambição de nossa parte, mas por ordem dos Espíritos, porque a doutrina estava em perigo. Vou lhes dar provas disso.

A 27 de janeiro de 1881, numa pequena reunião realizada na casa de Madame Kardec, o médium Sr. *** nos deu as seguintes comunicações:

Comunicação

27 de fevereiro de 1881

Querida Amélie,

Eu gostaria muito de ter dado a ti alguns conselhos mais cedo; agora, isso foi possível porque para o assunto que desejo te falar eu não poderia me servir de quaisquer médiuns.

Com o tempo, eu te disse que queria te ver acolher o meu pensamento; tentei, muitas vezes, ainda não consegui. Talvez agora queiras me reservar melhor acesso, pondo de lado as preocupações terrenas, deixando sua mente mais livre a fim de escutar meus avisos. Então, vou ainda, de uma maneira intuitiva, fazer-te compreender minhas intenções, a ti, querida Amélie, dando o último retoque à nossa obra. Eu te imploro, detenha-te ao que te inspirarei neste momento, e eu espero que desta vez seja definitivo. Muitas vezes tu ponderaste que eu tentava te fazer compreender. Quando julgar ter compreendido o que desejo, pergunta ao médium que te transmite os meus pensamentos no momento, se tu estiveres certa, eu te responderei.

Deves saber que não pretendo impedir teu livre-arbítrio, mas tu me pedes conselhos e eu os dou a ti como deve ser por ora.

Agora, o que irei dizer-te é quanto à missão de que te falei. Não é



necessário que o que deveria ir de um lado definido pelos Espíritos superiores vá para o lado que, mais tarde, deva paralisar as ideias que eu semeei; isso é o que acontecerá se deixares as coisas no estado atual.

Não te disse, Amélie, querida companheira de meus trabalhos, que era para o futuro que tinhas que olhar, por ti, por mim, pelo espiritismo? Cabe a ti, portanto, retificar aquilo que, no momento, tem sido manchado de erros. Cabe a ti distinguir os espíritas da uma nova era que têm por guias apenas a lisonja e o interesse por guias, distinguir os espíritas abnegados e devotados à nossa causa desde há muito, que, chamados a continuar a fazer frutificar o que eu semeei, devem, tão logo o momento de agir lhes seja indicado, formar uma sociedade nova chamada a elaborar a continuação das minhas obras. Os membros que devem compô-la já estão escolhidos por nós; eles devem, sob os meus auspícios e os teus, cumprir a nossa missão e a deles.

Vês, cara amiga, que não é à velha sociedade que deveria retornar e aquilo que pensaste em fazer, seria bastante ao contrário às minhas ideias e ao propósito a ser atingido.

Assim, por ora, basta a ti uma coisa, que consiste em preparar-te para mudar as disposições existentes em favor desta velha sociedade, encaminhando-as àquela que irá se formar e para a qual é tua missão velar.

Examina também, querida amiga, aquilo que te foi dito de diversas formas, poderás reconhecer ter recebido vários avisos. É o que desejo que compreendas bem.

Um pouco mais tarde, dar-te-ei uma comunicação mais precisa acerca da sociedade existente, e, enquanto deixo o teu livre-arbítrio, descrever-te-ei o papel que a nova sociedade deve cumprir, que em breve chegará ao ponto que lhe está designada.

Allan Kardec





Comunicação

Eis a comunicação que me foi dada na mesma noite:

27 de fevereiro de 1881

Querida senhora e amiga,

Estou muito feliz e vos agradeço os bons cuidados que vós dispensais à minha querida companheira; o que tendes feito é inspirado pelos bons sentimentos em relação a ela; por isso eu vos sou muito agradecido.

Como vos foi dito , vós estareis dentre os Espíritos missionários que têm uma grande tarefa a cumprir. Em breve eles irão iniciá-la e vereis então o rápido desenvolvimento de nossas ideias.

Uma sociedade nova está em formação; os Espíritos terrestres estão escolhidos;  a qualquer momento eles se farão conhecidos a vós, e como vós já são velhos amigos de precedentes existências, vós vos entendereis perfeitamente; vós sereis um dos nossos bons médiuns: surgir-vos-ão diversas faculdades novas, assim que vossa saúde for restaurada por bons fluidos, como vos foi dito. Pertencereis a um grupo escolhido, pelo qual os Espíritos superiores poderão verdadeiramente se comunicar sem ter que lutar contra os Espíritos recalcitrantes.

Vós assistireis e ajudareis o desenvolvimento de vossa sociedade, que marchará a passo de gigante.

Como eu vos dizia, a sociedade se formará aos poucos; e vos será solicitado fazer parte dela, vós estareis desta forma com nossos amigos, rodeada de médiuns cujas faculdades serão desenvolvidas até o mais alto grau. Podereis conversar diretamente conosco e eu espero que neste momento vós sejais felizes.

Um pouco mais de paciência e em seguida a felicidade.

Allan Kardec



Vemos por essas duas comunicações que nós fomos advertidas sobre a fundação da nova Sociedade, cuja finalidade é restaurar ao Espiritismo toda a sua vitalidade. A viúva do Mestre tinha no coração propagar os ideais de seu marido, eis aqui um fato que o prova peremptoriamente. Madame Kardec teve entre seus inquilinos um tal de Sr. X., de uma educação medíocre, mas instruído, velho professor, bom escritor, bom orador, inclusive eloquente. Sua franqueza e bondade havia nos seduzido, ele foi muito atencioso com meu amigo, prestando-lhe mil pequenos serviços; graças aos médiuns que nos cercaram, nós pudemos lhe demonstrar a verdade dos fenômenos espíritas; ele aceitou nossa crença com entusiasmo. Madame Kardec o recebeu no comitê da sociedade anônima . Ela esperava fazê-lo presidente, e, mais tarde, gerente de sua propriedade. Mas, em 10 de março, ela recebeu a seguinte mensagem:



Comunicação

10 de março de 1881

Querida Amélie,

Hoje eu começo uma rápida exposição sobre a existência e a finalidade da nova sociedade.

Esta sociedade, assim que o seu anúncio tenha sido enviado a alguns dos nossos médiuns, organizar-se-á de acordo com nossas indicações. Os preparativos estão sendo concluídos e ela entrará em funcionamento em breve. Eu te disse que os médiuns que serão empregados sob a minha direção foram escolhidos por nós, Espíritos; que eles eram e serão comprometidos com a doutrina, que a reunião deles, onde a sinceridade existirá e nos permitirá fazer progredir nossas ideias por todos os meios científicos.

Mais tarde, esses médiuns, auxiliados por outros que lhes serão designados, terão de elaborar e propagar certas obras que nós lhes ditaremos; obras essas inspiradas pelos Espíritos designados para o efeito de elevar nossos princípios ao mais alto grau, deverão predominar em vosso mundo. A data fixada para isso está prestes a entrar no período da realidade.

Querida Amélie, eu poderia dizer-te muitas coisas, mas me parece que tua confiança é restrita, então não poderia me exprimir mais pormenorizadamente sobre tal assunto; repetirei para ti uma vez mais: o que te anuncio está por vir. Como já te disse, tu tens teu livre-arbítrio; apenas me permita dizer-te que de tua parte deverás refletir cuidadosamente e, sobretudo, compreender que estou em melhor posição para ver o que se passa e o que precisa acontecer. Tu pensas que com algumas modificações na antiga sociedade, esta seria muito bem composta para reunir as qualidades necessárias sob o ponto de vista de que te tem sido retratado. Não! Eu não vejo nada disso conforme tu pensas, e acredite em mim, EU VEJO.

Como crer que em removendo uma individualidade orgulhosa, malgrado tantas advertências, pensar em substituí-la por outra que pode ser tão orgulhosa quanto aquela, e que só tem interesse em governar, seria uma vantagem? Não, querida Amélie, teu julgamento a este aspecto está mal fundado. É inútil fazer proceder tais mudanças por uma coisa que não seria mais lucrativa à nossa causa.

Amélie, faço-te lembrar de que tu tinhas uma missão a cumprir, que eu ficaria muito triste caso não a completasse; que uma vez perto de nós, veríeis com bastante pesar, que o caminho que percorreste era totalmente contrário à realidade.

Reflitas novamente e tu saberás discernir a verdade do que é falso.

Allan Kardec



Esta comunicação influenciou minha amiga, que deixava as coisas como estavam, esperando o tempo todo.

Enquanto isso, o Sr. X foi exposto a ultrajantes calúnias diante do comitê. Ele queria constituir um tribunal de honra, mas todos se recusam, e, bastante insatisfeito com a atitude dos membros aos quais ele havia se dirigido, ele pediu a sua demissão.

Para se fazer útil ao espiritismo, ele propôs à Sra. Kardec se ela consentiria emprestar 10 mil francos ao diretor do jornal intitulado: A Vida Doméstica, a fim de escrever artigos espíritas, analisar as obras do Mestre, e tornar a doutrina conhecida a numerosos leitores.

Ela prontamente aceitou, acreditando que esse jornal poderia ser o órgão da nova sociedade. O primeiro artigo foi publicado a 30 de abril de 1881. O autor relata como ele tornou-se espírita e analisa todo O Livro dos Espíritos; passado cerca de um ano, a Sra. Kardec estava muito contente, e, "como todo trabalho merece um salário", disse-me ela, oferecera cinco mil francos ao Sr. X, que desejava tocar sua continuação.

Podemos ver por esta doação que qualquer sacrifício não lhe custava nada para propagar a doutrina de seu marido.

Em 1882, a família Delanne recebeu numerosas comunicações, seja por escrito ou pelo copo d'água, comprometendo-a a fundar uma nova sociedade. Mas as ocupações comerciais ocuparam todo o seu tempo. A possibilidade de fundar um jornal pareceu incompatível com o trabalho de cada dia. Finalmente, quando apareceu o jornal L'Esprit [O Espírito], fundado pelo Sr. Momas, o Sr. Delanne pensou que este encontro de jovens, cheios de instrução, fé e ardor, era a falange escolhida pelos Espíritos para devolver ao espiritismo toda sua vitalidade. Ele foi, portanto, dar-lhes avisos, conselhos e até mesmo as ordens que recebeu.

Inserimos no nº 7 (11 de junho) do jornal L'Esprit a seguinte comunicação recebida em 18 de maio de 1882.



Comunicação



Por algum tempo eu estive convosco, feliz por vê-los resolvidos a retomar valentemente o vosso papel de propagador da fé espírita.

A doutrina, por assim dizer, ficou adormecida desde a minha partida. Era impossível que fosse de outra forma, já que meu desaparecimento súbito não me deu tempo para realizar os projetos que havia feito e que permitiria a uma coletividade homogênea continuar o trabalho que havia sido iniciado. Então, as desgraças que surgiram em nossa querida pátria obrigaram cada um a trabalhar materialmente para melhorar sua própria situação e a de nosso querido país. Pois deve-se confessar que a maior parte dos espíritas, sendo os primeiros apóstolos, sem fortuna, tem o dever de prover as necessidades diárias de suas famílias.

Essa é uma obrigação da qual ninguém tem o direito de escapar. O trabalho é uma lei imposta ao homem pelo Criador, é importante realizá-lo.

Por conseguinte, era preferível ao espiritismo que continuasse a se espalhar entre as famílias sem brilho, em vez de ser desviado do seu verdadeiro caminho, que é o estudo dos fatos e o reconhecimento das manifestações dos desencarnados que viveram na terra.

Não tenhais medo de chamá-los, não importa o quão grande eles vos possam parecer, e qualquer papel que possam ter realizado aqui embaixo; quanto mais evoluídos forem eles, mais fácil é que eles se entreguem ao vosso chamado, o envelope perispiritual do espírito tendo sido banhado no fluido ambiental do planeta, conserva nele, eternamente, a faculdade de ir a todos os lugares onde a lembrança o chama, e especialmente quando este espírito cumpriu um papel missionário em um desses mundos onde ele é desejado. Quanto mais o espírito é elevado, mais lhe é fácil atravessar os espaços. O espírito pode atravessar todos os mundos em que viveu, com tanta facilidade quanto é para vós ir de um país a outro, sem que sejais obrigados a deixar uma parte de vós mesmos no caminho; se, por exemplo, vós viajardes do norte para o sul, vós deixareis uma roupa quente para colocar uma nova fresca; vós vos ajustareis ao ambiente em que vos encontrais, e nada será capaz de se opor à vossa transformação transitória, se vós tiverdes previsto. É o mesmo com os espíritos superiores, tendo adquirido a onipotência sobre a matéria, eles a transformam como desejam sem que nenhuma lei se oponha. Quando se diz espírito superior, diz-se humildade, amor e caridade. Exemplo: Cristo veio encarnar em uma família humilde e pobre. Ele teve os seus motivos. Foi para nos mostrar que não devemos ter medo de chamá-lo para nós, pois era o ambiente que ele preferia. Não tenhais medo de chamar todos aqueles por quem tenhais grande simpatia. Eles sempre estarão felizes com vossa evocações.

Estou jubiloso com o despertar que se opera e vos devo dizer que a ele não estou indiferente; tampouco ao novo conhecimento que vós fazeis desses caros amigos, repletos de boa vontade e que farão tudo o que lhes for possível para levar a obra a um bom fim. Mas eles precisam ser ajudados e assistidos. E dever de todo espírita sincero evitar que a doutrina seja desviada de seu verdadeiro curso; portanto, meus amigos, eu conto convosco. Sei o quanto amais nossa querida filosofia e o quanto desejais vê-la triunfar; eis porque vos disse essas coisas; são conselhos de amigo que vos dou, sabendo que vos agradarei, e que vos esforçareis para trabalhar pela obra de regeneração à qual me devotei, Sublime missão que é a de ensinar aos seus irmãos o caminho da felicidade que é aquela, como dizia o Cristo, "da vida eterna".

Retornem, portanto, corajosamente à luta; quanto mais trabalharem pelos outros, mais lhes será dado por vós mesmos.

Somente se pode julgar uma causa quando se estudou bem sobre a mesma e quando a ela se está bem identificado. É o mesmo caso do trabalho. Para conhecer-se as leis, é necessário trabalhar por si mesmo, se se quer raciocinar com precisão e ajudar a resolver a maior questão do século, que é a compreensão do trabalho e do capital.

Ah! se os homens encarregados da marcha do progresso desejassem se ocupar seriamente do espiritismo, que poderosa alavanca eles teriam tido em suas mãos!

O capítulo das responsabilidades é o único capaz de fazer bem compreender os trabalhadores e cavalheiros que eles são semelhantes aos poderosos, mas que não é somente a si mesmos que devem a situação momentânea que ora ocupam, situação essa que eles poderão melhorar facilmente no dia em que compreenderem a lei de reencarnação. Trabalhai, portanto, incansavalmente e com coragem para o edifício social e moral de nossa doutrina; os meios vos serão dados. A hora chegou, a ocasião se apresenta hoje, secundai-a, queridos amigos, com toda a vossa força; apelai-nos. Organizai-vos em um comité. Lede, relede, comentai todos os fatos que vos sujeitem e cuidai bem para não serdes absolutos sobre qualquer outro ponto que não aqueles fundamentais, quer dizer, a crença nas manifestações e na reencarnação. Não avançai os fatos que estejam sob reserva. Em uma palavra, fazei como eu fiz. Vós me vistes ao trabalho.

Allan Kardec



Em seguida a esta comunicação, houve este complemento:



Não desejo fatigar o médium. Entretanto, eu vos exorto a ir ver minha cara esposa. É necessário no interesse da doutrina (isto para vós, pessoalmente). É bem difícil julgar o coração humano, porque se ele tem suas horas de desfalecimento, também as tem de refazimento. Ide, pois, sem tardar, e vós me sereis muito agradáveis.

Allan Kardec



Apesar dessa urgente injunção, o senhor e a senhora Delanne permitiram passar o mês de julho sem se perturbarem; somente no final do mês de agosto, a partir das novas comunicações, dizendo-lhes o quanto o retardo deles era prejudicial à doutrina, que eles foram lá e Madame Kardec acolheu-os com uma profunda alegria; ela viu, finalmente, o amanhecer daquela sociedade há muito tempo prometida. Eles lhe propuseram ser a presidente, mas ela recusou, em razão dela já estar bem doente. "De coração, estou convosco", disse-lhes ela, porém, recusava-se a combater "e destruir a sociedade que fundamos, meu marido e eu. Eu vos darei uma presidente, minha melhor e mais fiel amiga, reflexo de mim mesma, e permanecerei neutra".

Sr. Delanne lhe contou que na Bélgica temia-se uma cisão inquietante para a doutrina, que um espírita muito zeloso queria fazer do espiritismo uma religião com culto e cerimônias. Ela rejeitou essa ideia energicamente, dizendo: "Se o espiritismo transformar-se em uma religião, nós não seremos mais do que uma seita, e a doutrina, esta bela filosofia, perder-seá". Ela também rejeita a palavra federação, que soava mal aos ouvidos depois da comuna . Ficou estabelecido que nós faríamos um apelo a todos os espíritas sinceros, elaboraríamos o estatuto e que a sociedade receberia o título de União Espírita Francesa.

Alguns espíritas ficaram alarmados com esta decisão, e, temendo ver a antiga sociedade ruir, protestaram; outros, ao contrário, vendo que depois da morte do Mestre, o espiritismo definhava e perdia espaço, acolheu com entusiasmo a possibilidade de fundar uma nova sociedade e um jornal acessível.



FORMAÇÃO DA UNIÃO ESPÍRITA FRANCESA

A 4 de setembro, realizou-se na sede da Sociedade, na rua des PetitChamps, uma reunião de espíritas na qual foram discutidas questões postas pelos nossos irmãos belgas; lá foram feitas as primeiras propostas de federação francesa. Um pouco mais tarde, o Sr. Leymarie , depois de ter estado na Bélgica, escreveu, em 22 de setembro, uma carta ao Sr. Gabriel Delanne da qual extraímos o seguinte trecho:

"Havia ali uma profunda cisão entre os espíritas belgas; eu pude apaziguar os conflitos, e esta noite, espero, haverá uma reconciliação geral; minha presença poderá resultar nisso e eu abençoaria minhas fadigas cotidianas. Por que isso não deveria ocorrer aqui em Paris? Vós devíeis ajudar-me, meu amigo; vossos pais são devotos da nossa doutrina, esquecendo os incidentes que têm perturbado a harmonia; Nós poderíamos, de mãos dadas, unir-nos e amar uns aos outros, ser o exemplo da conciliação e do esquecimento do passado, e criar com muita seriedade a base da futura sociedade espírita".

Em resposta àquele apelo de reconciliação, o dever de todo espírita sincero era o de responder: um Comitê inicial foi formado com o objetivo de agrupar os dissidentes e ao mesmo tempo de estudar um projeto de estatuto para a futura federação francesa. Terminados os trabalhos, o comitê expôs os resultados diante de uma assembleia de 150 pessoas, reunidas na rua St-Dennis; o estatuto elaborado foi aprovado por unanimidade e vários assistentes já queriam fundar a federação, sob o título de União espírita francesa, quando então o Sr. Gabriel Delanne e o Sr. His observaram que eles não tinham o direito de fazê-lo, pois a assembleia não era geral o bastante para considerar-se como mandatária dos espíritas franceses. Foi decidido, por conseguinte, irmos à sede da Sociedade, na rua des Petits-Champs, onde uma nova reunião deveria realizar-se, no dia seguinte, domingo, 19 de novembro. Nós fomos lá; o presidente fez a leitura de uma série de questionamentos relativos à constituição de uma federação francesa e belga; em seguida, lemos um projeto de união espírita francesa, incluindo a criação de um jornal acessível, órgão dessa associação. Na discussão, prevaleceu o princípio de uma federação ou União espírita francesa, sem prejuízo de outros laços que posteriormente poderiam se formar com outras nações.

As questões relativas à organização dessa federação eram numerosas, decidiu-se, por sugestão do Sr. Leymarie, nomear uma comissão mista tendo como objetivo preparar um trabalho, que submeteríamos à aprovação de uma assembleia geral que, por si só, teria qualidade para tomar resoluções definitivas. Estávamos para ver então um espetáculo em movimento; espíritas há muito tempo separados estendendo as mãos e se tratando como irmãos; alegria e concórdia reinavam em todos os corações.

O Sr. Leymarie, no decorrer da reunião, propôs gentilmente a sede da Sociedade espírita para a realização dos encontros da comissão; a proposta foi aceita e ficou resolvido reunir-se aos domingos e quartasfeiras de cada semana.

Uma primeira reunião, bastante curta, ocorreu naquela mesma noite, e a comissão, inspirando-se nos debates da assembleia, adota o título de federação (ou União espírita francesa). A segunda realizou-se na quartafeira seguinte, 22 de novembro; o Sr. Vautier declarou que era o administrador da Sociedade anônima para a continuação das obras de Allan Kardec e não poderia admitir que, nas instalações daquela Sociedade, se falasse em fundar um novo jornal espírita, pois, disse ele, isso seria prejudicial aos interesses da Revue . Tentamos demonstrá-lo que não seria assim, e que toda a extensão de nossas ideias, ao contrário, poderia ser benéfica à livraria espírita, que, além disso, havíamos aceitado a Sociedade como sede da comissão sob a proposta do Sr. Leymarie; nenhuma dessas razões pôde fazê-lo mudar de opinião. O Sr. Gabriel Delanne então propôs reunirmos em sua casa, o que foi aprovado.

A comissão, para permanecer no exercício de seu mandato, continuou seus trabalhos, malgrado a abstenção de algumas pessoas que se retiraram e acreditaram que deveriam retomar o projeto de uma federação francesa e belga.

Houve uma reunião, em 24 de dezembro, no grande salão de la

Redoute, na rua J.-J. Rousseau, à qual participaram quatrocentas pessoas. A União espírita francesa foi fundada, bem como o jornal le Spiritisme [o Espiritismo] (extrato da brochura: Fundação da União espírita francesa).  

COMO O ESPIRITISMO É DIRIGIDO

Agora vou tratar das causas que obrigaram os Espíritos, assim como nós, a fundar a União. Esta tarefa me é penosa, como espírita, é cruel revelar o coração humano, mas é preciso. Devo declarar que, pessoalmente, jamais tive que vangloriar-me da polidez e até mesmo das gentilezas do Sr. Leymarie para comigo, então, não há, de minha parte, qualquer motivo de malevolência. Eu o faço como o cumprimento de um dever: a cada um conforme suas obras.

Voltarei a alguns anos na existência da Sra. Kardec. Ela estava bastante descontente com a transferência da Sociedade, da rua de Lille para a rua Neuve des Petits Champs, mudança essa que aumentou o aluguel em 4.600 francos. A decisão de ali se dar festas a espantou, estava longe da simplicidade do Mestre nessa ordem de coisas.

Ela desaprovou igualmente a ideia de se juntar à Sociedade científica e psicológica, Sociedade não espírita, que evidenciou claramente suas opiniões antiespíritas e cujos artigos apareceram na Revue. Dizia-se que era para diminuir os encargos já muito pesados.

A Sra. Kardec foi a única que compreendeu os perigos dessa promiscuidade, pois seu Presidente, o Sr. Fauvety , inteligência muito superior e filósofo sério, queria fundar uma religião laica e, por conseguinte, trazia consigo elementos que combatiam a doutrina, que ele não conhecia de resto e a qual agora estudava. Aqui está a prova desse perigo. (Vede a Revista Espírita de janeiro de 1881).









AVISO IMPORTANTE



O Sr. Charles Fauvety nos entregou 120 volumes da religião laica segundo ano, e 120 do terceiro. Esses volumes são oferecidos como bônus aos assinantes da Revue por mais 3 francos, além de 1 franco pela entrega. Eis para o que tem servido a Revue, ao invés da Propagação da doutrina espírita, eram as utopias e as ideias do Sr. Fauvety que defendia o Sr. Leymarie.

A Sra. Kardec então teve que sustentar lutas no comitê, mas suas observações não eram ouvidas; quando ela culpou os artigos, trataram-na com tão pouca consideração que ela voltou doente. O desgosto e sua saúde já muito alterada fizeram com que ela não mais fosse lá, e foi tão esquecida que o Sr. Leymarie, seu mandatário, não mais lhe prestava conta de nada. Até a morte dela, havia um ano ou 18 meses que ele não a visitava. Exceto, entretanto, depois da criação da União espírita francesa.

De resto, a luta era impossível para aquela pobre amiga, ela não tinha, diante do comitê da Sociedade anônima para a propagação das obras de seu marido, mais do que uma voz, e o Sr. Leymarie recebera até 14 procurações dos membros desse comitê que moravam na província. Que me permitam dizer deles, que eles não sabiam nada, que tendo aceitado um mandato, aquele de apoiar e defender a Sociedade e de propagar as obras do Mestre, eles tinham o mais sagrado dever, porquanto sabiam bem que era uma questão social e humanitária, e por indiferença e incúria deles, deixaram a Sociedade sem controle, sem conselho, colocando a Doutrina em perigo.

O Sr. Leymarie, sentindo-se um mestre absoluto e querendo, na sua orgulhosa pretensão, passar-se por um sábio, acolheu todas as Sociedades mais ou menos científicas. Ele se tornara ADEPTO da Sociedade Teosófica fundada pelo coronel Olcott e a Sra. Blavatsky , em Bombaim . Ele recebeu um certificado, assim como sua esposa, e foi nomeado Presidente para a filial da França.22

A Sociedade do Livre Pensamento religioso criada pelo Sr. Fauvety, para enterros civis, possui uma bandeira e um pano mortuário pontilhado de estrelas e de sóis de ouro, verdadeiros enfeites, do que faz rir à custa dos espíritas e do espiritismo.

Em seguida, uma Sociedade fortemente difundida (de acordo com o Sr. Leymarie), sob o título de Pneumatologia Universal, que é compartilhada em decúrias e em centúrias, que tem reunido os homens mais instruídos e aqueles das classes mais elevadas, deram ao Sr. Leymarie o título de Presidente da trigésima segunda decúria, cuja sede social deve ser em Paris. A Revista Espírita será no Ocidente o órgão dessa Sociedade. (Revista Espírita de 1 de janeiro de 1881, página 5.)

Foi para dar abrigo a todos esses delírios orgulhosos que o Sr. Kardec fundou a Revista?

Todos esses atos desesperaram a Sra. Kardec, mas o que ela poderia fazer sozinha, já que os membros do comitê não compareciam às assembleias gerais e nem mesmo respondiam as suas cartas?

Foi naquela mesma época, 1 de janeiro de 1881, que fizemos apelo aos nossos irmãos de fé para se criar conferências sobre o espiritismo. Certamente, a ideia era bela, ela poderia oferecer esplêndidos resultados. Teria sido necessário trazer o mais absoluto desinteresse, e isso era possível, e eu cito uma carta de nosso jovem amigo, o Sr. Denis :



Tours, 8 de novembro de 1880.

Eu vos envio com este envelope uma ordem de pagamento postal de 25 francos. Soma que me proponho doar anualmente para as realizações das conferências, enquanto minhas posses assim me permitirem. Comprometo-me ainda a fazer uma assinatura do jornal que será criado nessa ocasião. Ponho-me igualmente à disposição de grupos situados num raio aproximado de Tours, para trazer a público e GRATUITAMENTE TODAS AS DESPESAS SOB MINHA RESPONSABILIDADE, os assuntos que desenvolvi na nossa região e que se relacionam com as nossas doutrinas.

Receba, Senhor, a garantia de meus sentimentos fraternais.

Léon Denis

Nenhum dos outros conferencistas pagou qualquer coisa além das despesas de viagem.

Mas a questão do dinheiro prevaleceu. O Sr. Guérin, espírita sincero, creio eu, ofereceu seu concurso inscrevendo-se por cinco mil francos, mais mil francos para a criação de um jornal, ou monitor de conferências, jornal esse do qual jamais ouvimos falar. Entretanto, a Revista espírita apressouse a abrir suas colunas para uma subscrição permanente, e, passados três anos, os apelos do dinheiro não cessaram. Eu cito o seguinte:



"A Sociedade recebe com reconhecimento todas as doações que lhe são feitas no interesse da propagação da doutrina e se compromete em mencionálas na Revista (eis um apelo à vaidade). Esta Sociedade é anônima e tem capital variável; ela recebe os legados testamentários."



Quantas vezes minha pobre amiga me disse, apontando-me a Revista: "Dir-se-ia que foi redigido por clérigos; todas essas exigências são abomináveis e degradam a doutrina, jamais meu marido pediu nada a ninguém; aquilo que ele fez, o fez com seus próprios recursos."

Enfim, o Sr. Guérin fez uma doação à Sociedade de uma soma de cem mil francos consistindo em um imóvel situado em Bordeaux, no qual uma sala de conferência deveria ser organizada. Mas o doador exigia que os cem mil francos fossem representados por cem ações de mil francos, que lhe pertenceriam e, após a sua morte, retornariam para a Sociedade.

A carta do Sr. Leymarie estava tão embaraçada que nem minha amiga e nem eu pudemos compreender o que queria dizer aquele negócio, então a Sra. Kardec recusou-se a assinar a certidão. Essa condição de cem ações pareceu-nos uma armadilha. Por esse meio, poder-se-ia escolher seus acionistas . O Sr. Guérin tornar-se-ia o mestre do comitê, já que ele poderia lá introduzir apenas seus protegidos. Isso seria um verdadeiro perigo.

Poucos dias depois, a Sra. Leymarie veio ver a Sra. Allan Kardec; ela estava acompanhada do Sr. Vincent, se não me falha a memória, e nessa visita a persuasão foi tão boa que ela assinou. No dia seguinte, eu a culpei muito por não ter exigido a retirada das cem ações. Contudo, ela me disse sorrindo: "É difícil, cara amiga, recusar cem mil francos, pois isso pode tornar os livros do meu marido mais baratos."

Veremos, logo mais, que essa doação escondeu odiosas maquinações.

Enfim, em 21 de janeiro de 1883, tive a dor de perder minha amiga!! Na sexta-feira 19, levantando-se da sua cama, ela teve uma tontura, caiu e, batendo sua cabeça no canto do mármore de sua cômoda, perdeu a consciência. Ajudada pela empregada, pude levá-la de volta à cama, mas pela expressão de sua boca, vi que havia ali uma congestão cerebral. Fui procurar o médico, que me declarou que ela estava morta.

Sra. Kardec tinha feito seu testamento em 1877, tendo designado o Sr. Leven, um grande amigo do Sr. Kardec, como executor testamentário. Porém, depois do casamento de seu filho, o Sr. Leven não mais tinha visto minha amiga. Esse abandono sem motivo tinha-lhe causado muito desgosto. Sua intenção era a de refazer seu testamento e designar o Sr. Joly para cumprir essa função. O Sr. Joly havia aceitado, mas infelizmente a morte a surpreendeu.

Ela havia me encarregado de avisar imediatamente a esse cavalheiro, assim que ela estivesse em perigo, e foi o que fiz na sexta-feira ao meio-dia. Às 4 horas, o Sr. Joly estava conosco e eu lhe entreguei todas as chaves. No domingo de manhã, algumas horas após o falecimento da minha querida amiga, pôs-se os selos.

O Sr. Leymarie queria que fosse sepultada pela sociedade do livrepensamento religioso. Eu me opus com força, dizendo que ela jamais fez parte daquela Sociedade. Que ela seria enterrada como havia sido o seu marido. Eles se renderem às minhas vontades. Apenas nas cartas de comunicado ela foi designada como membro do comitê, ela que fora fundadora da sociedade anônima.

Agora, que o Sr. Leven me permita fazer-lhe uma repreensão: não podendo aceitar ser o executor testamentário, por que ele não se informou dos desejos da falecida e procurou conhecer as últimas vontades dela? Não! Ele fez uma procuração que designava o Sr. Leymarie para substituílo nas suas funções. Ele não deveria ter se desinteressado de um assunto tão sério, ele que havia sido Presidente da Sociedade e que era um espírita sincero.

Quanto ao Sr. Leymarie, não entendi como ele teve a indelicadeza de aceitar essa procuração, ele que sabia que a intenção da Sra. Kardec era de encarregar o Sr. Joly, membro do comitê e gerente da Revista.

Uma prima de segundo grau da minha amiga abriu um processo de captação contra a Sociedade, sob a indução do Sr. ***, pelo qual deveria receber de herança 5 mil francos da Sra. Kardec. Não entrarei em todos os detalhes, mas o tabelião havia declarado que o testamento era inatacável, por conseguinte, tinha-se que prosseguir o caso. O Sr. Leymarie preferiu pagar VINTE MIL FRANCOS àquela prima para entrar mais cedo na posse da herança, deixando, consequentemente, pairar sobra a inteligência de minha amiga uma acusação de loucura ou falência senil.

O que teve de estranho ali foi que o legatário era uma Sociedade, uma entidade coletiva, não um de seus membros, que não estava presente à requisição dos títulos, nem mesmo o Sr. Joly. Poder-se-ia dizer que só o Sr. Leymarie e seus familiares eram os herdeiros; eles foram ajudados pelo Sr. Vautier, tesoureiro e ao mesmo tempo administrador da Sociedade, o que fazia que ele controlasse a si mesmo. Não houve nem inventário, nem venda pública, exceto as coisas fora de serviço que foram vendidas para revendedores de segunda mão.

Tudo aquilo era questão de dinheiro, e tinha pouco valor aos meus olhos. Entretanto, o que me fez estremecer de indignação foi assistir a um verdadeiro auto de fé . O Sr. Vautier queimou pilhas de papéis e de cartas. Quantas comunicações e quantas anotações deixadas pelo mestre foram destruídas.

Eis o que disse o Sr. Kardec no livro A gênese (página 34):



"Essa concentração espontânea de forças dispersas deu lugar a uma imensa correspondência, monumento único no mundo, quadro vivo da verdadeira história do espiritismo moderno, onde se refletem ao mesmo tempo os trabalhos parciais, os sentimentos múltiplos que a doutrina tem feito nascer, os resultados morais, as dedicações, os desfalecimentos; arquivos preciosos para a posteridade, que poderá julgar os homens e as coisas através de documentos autênticos. Na presença desses testemunhos irrecusáveis, o que serão, com o tempo, todas as falsas alegações, as difamações da inveja e do ciúme?"



O que eles fizeram? Grande Deus!!

Mas em que eu considero o Sr. Leymarie muito culpado é em constatar sua ingratidão em relação ao mestre e sua digna companheira, que, no entanto, tinham sempre se mostrado, por ele, cheios de bondade e de obrigações.

Assim que o Sr. Leymarie foi declarado falido (Qualquer comerciante pode ser mal sucedido), ele o ajudou de seu bolso, a Sra. Kardec o aceitou como administrador, deu-lhe a possibilidade de viver e de sustentar sua família, e, todavia, por sua falta de juízo, sua inconsequência e sua credulidade no processo das fotografias espíritas28, ele tinha comprometido, não somente a doutrina, mas também todos os espíritas sinceros e devotados, que se passaram, aos olhos do público, por fanáticos, loucos ou imbecis, porque eles tiveram a coragem de defendê-lo.

Ele acabou condenado à pena máxima, sem recurso.

Malgrado todos esses prejuízos, ele foi mantido à frente da Sociedade, o que foi um erro.

No dia 31 de março de 1883, diante da tumba que continha então meus dois bons e queridos amigos, Sr. Leymarie pronunciou um discurso cujas primeiras frases aqui estão:



"Minhas irmãs e meus irmãos, diante da tumba de Allan Kardec, à direita de onde a dois meses nós depositamos os restos mortais da Sra. Allan Kardec devemos, a cada ano, refazer o panegírico29 do mestre em espiritismo, deste ilustre professor cuja memória todos nós veneramos? Na verdade, isso seria repetir as mesmas coisas, com novas variantes que não poderiam oferecer um interesse constante aos nossos irmãos de fé."



Ver a Revista de maio de 1883 (página 195). Foi bastante audacioso? Diante de nós, que ainda tínhamos lágrimas nos olhos. Mas isso não



pública a 9 de outubro de 1861 — N. T.

28 Conhecido também como "O processo dos espíritas", esse episódio foi bastante custoso para o movimento espírita francês. Em 1874, a Revista Espírita (então editada por Leymarie) publicou uma série de fotografias supostamente retratando Espíritos desencarnados. No ano seguinte, foi instaurado um processo para apurar possíveis montagens fraudulentas dessas fotos e se tornaram réus Leymarie, por ser o diretor da Revista, e os ditos médiuns de efeitos físicos que produziam as fotografias: Alfred Henri e Édouard Buguet. Todos foram condenados, o que causou enorme constrangimento para Madame Kardec — inclusa como uma das testemunhas de defesa dos confrades espíritas. A pena para Leymarie foi de um ano de prisão e multa de 500 francos. Depois, Buguet confessou que, por dinheiro, havia sim adulterado algumas das fotografias, mas alegou que pelo menos dois terços delas eram autênticas e inocentou Leymarie. A sentença foi anulada e, libertado da prisão, o diretor da Revista voltou às atividades editoriais. — N. T. 29 Discurso público solene e elogioso — N. T.

passava de prelúdio daquilo que ele preparara.

Recebi com a Revista de junho um folheto intitulado: Os 4 Evangelhos de J. B. Roustaing.

Não quero voltar à minha profunda indignação para a leitura desse panfleto, balão de ensaio tão perfidamente escrito, quão habilmente desenvolvido. Mas eu vou dar a cada qual o que lhe é devido, de acordo com a minha apreciação pessoal, e meus irmãos de fé então julgarão. Eu acredito que as reflexões e observações de J. B. Roustaing, da página 17 até a página 29, são anotações que ele teria escrito após a leitura do artigo do Sr. Kardec da Revista de 1866 (página 190) e que os pretensos discípulos teriam encontrado nos seus papéis após a morte dele; quanto aos demais capítulos, podem reivindicá-los.

Os espíritas que receberam o folheto poderão sozinhos me seguir nessa investigação.

O sucessor designado por Allan Kardec, quem será ele? (página 33 da brochura)

Entre os discípulos do Sr. Roustaing, não é difícil, uma vez que temos lido durante 15 anos os artigos do Sr. Leymarie, de encontrar seu gênero, seu estilo, o emprego de uma série de expressões que lhe são habituais. Depois, quem teria dado ao Sr. M. J. Guérin todas essas informações sobre o sucessor designado? O Sr. Kardec, na Revista de 1864, não deu qualquer detalhe sobre a sucessão em questão, e é difícil que ele tenha tocado em quaisquer palavras a respeito disso no seu círculo mais íntimo. Foi, portanto, o Sr. Leymarie que encontrou nos papéis e comunicações, que a Sra. Kardec havia dado à Sociedade, após a morte de seu marido, os documentos relativos a essa esperança de um sucessor e continuador de sua obra. E de resto, o que sabia o Sr. Leymarie? Essas crianças designadas pela médium do cantão de Berne tinham seu livre-arbítrio, elas poderiam aceitar ou falhar em sua missão, e a prova é que foram designadas várias delas. Agora, são jovens de 18 a 30 anos, que nos dizem que não surgirá uma inteligência fora de série para continuar a obra tão amada do mestre?

Com 20 anos pode-se ter a maturidade necessária para erguer alto e firme a bandeira de nossa querida doutrina e fazê-la avançar na sua marcha ascendente? Não! Aguardemos com confiança, pois o mestre jamais foi enganado quanto ao futuro do espiritismo.

Quem pôde também dar com tanta precisão o número de 660 assinantes da Revista em 1868, senão os documentos que o Sr. Leymarie tinha em mãos, para ridicularizar o controle dos mil centros sérios dos quais falara o mestre?

Eis aqui como se exprime o Sr. Kardec:



"Não é pela opinião de um homem que se reunirá, é pela voz unânime dos Espíritos: não é um homem, nem nós, nem qualquer outro, que fundará a ortodoxia espírita, tampouco um Espírito que venha se impor a quem quer que seja, mas a universalidade dos Espíritos que se comunicam por toda a terra por ordem de Deus; eis aqui o caráter essencial da Doutrina espírita, eis aqui a força, eis aqui a sua autoridade."

"Quis Deus que sua lei fosse estabelecida sobre uma base inabalável, e é por isso que ele não a fez repousar sobre a cabeça frágil de um só."



Eis aqui também a boa e bela lógica: certamente, não é no livro do Sr. Roustaing que se encontram tais condições; ele não tinha mais do que uma médium, Sra. Collignon, e os quatro pretensos evangelistas. E, bem, esse livro está escrito num estilo tão fatigante e chato que, malgrado as leis morais que nele se encontram, que não são mais do que repetições de O Livro dos Espíritos e de O Livro dos Médiuns, foi necessário apelar ao Sr. René Caillé para reescrevê-lo a fim de lhe dar aceitação e leitura.

Sr. Leymarie, para agradar ao Sr. Guérin, por quatro anos, nos tem enchido os ouvidos de seus Evangelhos de Roustaing, seja na Bélgica, seja na França. Ele não sabe falar da profundidade dessa obra. Meu Deus, para os espíritos sem juízo, tudo que é obscuro parece profundo! Assim foi que ele deu os endereços de todos os assinantes da Revista e então que o Sr. Guérin, o executor testamentário do Sr. Roustaing, pôde nos enviar essa lamentável elucubração.

Como se poderia recusar os endereços a um espírita que doou cem mil francos à Sociedade e cinco mil francos para conferências? Um prêmio de três mil francos pelo melhor trabalho espírita. Certamente, Sr. Guérin está muito feliz por ser milionário, porém isso não é uma razão, apesar de seus benefícios, para que deixemos a doutrina desviar-se de seu caminho e insultar o Mestre.

Uma vez que os ditos discípulos do Sr. Roustaing não querem se curvar diante do julgo de um autoritário tal como Allan Kardec, nós também não queremos deixar o espiritismo entrar na fase teológica. Para quê? Para estabelecê-lo sob a forma de religião? Será que nossa querida doutrina não é mais forte com seu simples título de filosofia? Ela penetra através da lógica e da verdade nas almas ávidas para conhecer aquilo que está além desse mundo tão prosaico. Ela consola os corações alquebrados pelo sofrimento. Dá a esperança de se chegar, através do progresso, à suprema felicidade, à imortalidade de nosso espírito, e enfim, ao conhecimento de um Deus, bondade suprema, justiça eterna, que ela nos ensina a amar, adorar e a bendizer. De que mais precisamos? Será que esses senhores desejam pontificar?

Minha indignação é maior desde que li na Revista de setembro de 1883 (página 402) que o Sr. Leymarie ousou escrever depois de ter destilado todo o veneno de sua tinta naquela abominável brochura.



"A obra dos tempos se cumpriu; após 26 anos de provas, as obras de Allan Kardec são lidas e disseminadas em nosso mundo, milhões de almas abençoam esse grande iniciador."

"O Mestre cumpriu seu dever, sua fama fez a força de nossa Sociedade; nós o defenderíamos contra tudo e contra todos se ele não se defendesse tão bem, e se seu nome não fosse, para os espíritas, a proteção mais eficaz."



Bastante hipócrita?

Era impossível para o Sr. Leymarie, sendo colaborador daquela brochura, poder defender o Mestre. Ele não tem, portanto, nenhuma crença na presença dos Espíritos? Eles, que podem ler através do pensamento, que profundo horror essa duplicidade não lhes deve causar. Enfim, ele coroa sua obra de ingratidão na Revista de outubro de 1883 (página 476).



"Querendo sempre estar em constante acordo com aquela ideia preconizada por Allan Kardec de união do espiritismo com a ciência e reciprocamente, a Sociedade da caixa geral e central do Espiritismo decidiu, em reunião geral anual e por unanimidade dos membros, que ela adotará o título seguinte, legalizado hoje, SOCIEDADE CIENTÍFICA de ESPIRITISMO, denominação mais em harmonia com os princípios superiores que nossa sociedade populariza e defende, que ela tem por missão espalhar pelos meios mais práticos e racionais."



Primeiro, as assembleias gerais compõem-se de quatro membros: o

Sr. e a Sra. Leymarie, o Sr. Vautier, tesoureiro, e o Sr. Joly, o gerente da Revista, que assina tudo o que se quer. Eis os quatro campeões do espiritismo científico. Eis os estudiosos que devem popularizar os princípios superiores da ciência unida ao espiritismo. É para rir de piedade! Mas era necessário apagar o nome do Mestre e da Sociedade para a continuação das obras de Allan Kardec; era um título que, para eles, cumprira seu dever. Eles o modificaram.

Essa é a Sociedade científica e psicológica? A que é chamada a desenvolver os princípios superiores, e fundar a Religião laica e universal, na qual se discute o Casamento livre?... Nem mesmo o Sr. Prefeito e sua insígnia, nem mesmo nossas leis que defendem a Sociedade contra o adultério e a imoralidade! É de se acreditar que essa gente tem por missão nos levar à selvageria. Contudo, todas as noites, fazem-se casamentos livres nas ruas de Paris; e é nesta sala da qual o Sr. Vautier expulsou a União espírita Francesa — ó querido e venerado mestre! — que semelhantes questões são levantadas e discutidas. É de se acreditar que eles estão afetados por uma cegueira moral.



QUESTÃO FINANEIRA

Em um artigo publicado pelo "Espiritismo", intitulado um pouco de luz, eu pedi que fossem cumpridas as derradeiras vontades da Sra. Kardec, colocando os livros fundamentais ao alcance de todos os bolsos. Eu demonstrei que isso seria possível, visto os recursos que deve possuir esta Sociedade, e eis como ele foi respondido.

Eu li na Revista de novembro de 1883:



AVISO

De uma vez por todas, prevenimos os leitores da Revista que tomaram conhecimento dos ataques pouco benevolentes de certas pessoas (que se dizem espíritas) que nós não respondemos a qualquer maledicência, a qualquer calúnia.

Pode-se imaginar os fatos e as cifras mais inacreditáveis, nossa Sociedade não seguirá ninguém nesse modo antifraternal.

Além do mais, ela é a única responsável pelo que lhe foi legado pelo Sr. e pela Sra. Allan Kardec e não tem que prestar contas a quem quer que seja. Instituída para propagar o espiritismo, ela trabalhará livremente, sabiamente não tendo nenhum objetivo além deste: o bem da causa. Pelo comitê de fiscalização

VAUTIER.



É legal que um tesoureiro seja o representante do comitê de fiscalização?

Ah bom, eu terei a indiscrição de pedir contas! Pois é preciso que se saiba que não é para este comitê que foi legada a fortuna dos meus queridos amigos, e sim para espiritismo, para a propagação das obras do Mestre, e que todos os espíritas da França tenham o direito e o dever de pedir conta do que se tem feito da doutrina, dos meios que se tem empregado para espalhá-la às massas, e do que se passa nessa Sociedade comercial e privada, segundo o Sr. Fauvety.

O Sr. Vautier não diga dessa vez que se tratam de cifras fantasiosas. Eu li na Revista de janeiro de 1883 (página 2):



O livro dos Espíritos em francês está na sua 29ª edição; até a morte do Sr.

Allan Kardec, em 1869, nós tínhamos a 13ª Diferença: 16 edições.

O livro dos Médiuns está na 17ª edição; em 1869, nós tínhamos 8 edições 9 edições

O livro do Evangelho está na 16ª edição;

em 1869, nós tínhamos 6 edições 10 edições

O Céu e o Inferno está na 7ª edição; rodaremos a 8ª;

em 1869, nós tínhamos 3 edições 5 edições

A Gênese nós rodamos a 7ª edição; em 1869, tínhamos 3 edições 4 edições

No total, depois da morte de Allan Kardec 44 edições



Cada edição é de 2 mil volumes, o que dá 88 mil volumes à 3 francos e meio, num total de 308 mil francos. Uma edição custa 1.527 francos; aqui estão os detalhes:



Pelo papel 850 francos.

Pela impressão 533 "

Pela encadernação 144 "

--------------------------------------------------------

Total 1527 francos.



O volume custa 76 centavos. 35 mil, tirando 66.880 francos para a impressão; restam 243.120 francos; tirando ainda uma soma de noventa mil francos pela remessa dos livros, que é de 30%; a recompra das pranchas usadas e as despesas gerais; sobram então 150 mil francos, soma que deve ser capitalizada.

Eu sempre cito (página 2):

"Os cinco volumes fundamentais de Allan Kardec, traduzidos para todas as línguas da Europa, ainda são vendidos, o que prova seu contínuo sucesso."



Aqui estão os benefícios que devem cobrir os custos da tradução.

Se o Sr. Leymarie tem pago os seus tradutores como a Srta. Blackwell , que traduziu os livros para o inglês, não tem custado tanto dinheiro assim.

Não desejando avançar além dos fatos verdadeiros, escrevi para a Srta. Blackwell; eis a carta dela, da qual suprimi os epítetos:



"Quanto ao -- em questão, minha resposta é fácil. Ele não tinha que me pagar, nem integralmente, nem de qualquer forma, visto que o trabalho de tradução (que assumi de acordo com o desejo que o Espírito de Allan Kardec exprimiu através da mediunidade do Sr. Tailleur) era um trabalho de puro devotamento, absolutamente GRATUITO; eu o realizei por amor à doutrina, por afeição a Allan Kardec, e fiz dessas traduções uma doação à Sociedade, que, por sua vez, deveria somente arcar com os custos da impressão. Jamais recebi, nem quis ter um centavo desse trabalho intenso e cansativo. Mas eu doei mais de 1.500 francos do meu bolso para anunciar as traduções nos jornais ingleses, sem o que, não se teria vendido uma dúzia de exemplares. Eu doei várias somas também para trazer o conhecimento da nossa querida doutrina ao público inglês, que não sabia da existência dela, ignorando até o nome de Allan Kardec! E tudo isso GRATUITAMENTE."

"Leymarie pagou, aproximadamente, os custos das duas primeiras traduções (O livro dos Espíritos e O livro dos Médiuns). Ele me pressionou abruptamente para que terminasse a terceira (O Céu e o Inferno). Então, no momento em que, por falta de sua promessa de imprimir à custa da Sociedade essa terceira tradução, para a qual eu doei a propriedade para Sociedade, como havia doado a das outras duas, ele escreveu-me para retirar sua palavra, dizendo-me que a Sociedade fizera grandes despesas para ter uma sede mais central , recusando-se de imprimir a tradução de O Céu e o Inferno, que já havia sido anunciada nos jornais ingleses, de sorte que, não fazê-la parecia que o livro não teria sido lançado por um recuo diante da guerra feroz que os espiritualistas me fizeram."

"Eu, então, emprestei para o fornecimento de papel, pertencente à Sociedade, nas mãos da casa Balantyne, nossos impressores, papel que vale um pouco mais de 300 francos (o que era inútil) e orei para os Senhores Trübner, nossos editores, fazerem um primeiro pagamento para a casa Balantyne, para a impressão de O Céu e o Inferno, sobre os fundos provenientes da venda das minhas traduções anteriores; venda resultante, inteiramente aos 1.500 francos de anúncios, os quais renunciei para a Sociedade."

"Eu fui obrigada, por causa do restante da conta de nossos impressores, a assinar notas promissórias, que se renovavam a cada seis meses; e graças a esse acúmulo de juros, os mil francos restantes da dívida inicial tornaram-se agora 1.600 francos, pelos quais sou responsável."

"Em suma, a Sociedade está em dívida comigo de mais de dois mil francos, que paguei do meu bolso, que não o reivindiquei; mas ela deverá, no mínimo, arcar com os custos de impressão da minha terceira tradução e admitir a titularidade da dívida, como o fez nas outras duas."

"Se eu tivesse aprendido a tempo, a abominável mentira de Leymarie diante do túmulo de Allan Kardec, eu o teria atacado pela difamação; eu o adverti que se ele recomeçasse suas manobras caluniosas, endereçar-me-ia imediatamente aos tribunais."

"No mais, vou vos enviar, em breve, a carta que remeti, há dois anos, ao comitê e que não consegui ainda que chegasse a ele".

Anna Blackwell



Comprovante entregue à Srta. Blackwell pelos editores Trübner:



Londres, 30 de março de 1884. Nós, abaixo assinado, os editores dos três volumes das obras de Allan Kardec, traduzidos pela Srta. Anna Blackwell, intitulados: O Livro dos Espíritos, o Livro dos Médiuns, O Céu e o Inferno, certificamos que nenhum valor proveniente da venda das referidas traduções jamais foi remetido à Srta. Blackwell.

O montante total proveniente da venda das três citadas traduções até 26 de novembro de 1882 (época do último extrato de nossa casa) é de 137 libras e 7 xelins.

Esta soma foi empregada da seguinte forma: a soma de 95 libras, 14

xelins e 6 centavos foi paga ao Senhores Balantyne e Cia, os impressores, à título de entrada para a sua fatura da impressão de O Céu e o Inferno.

A soma de 23 libras, 19 xelins e 4 centavos foram pagos em 28 de março de 1882 ao Sr. Leymarie, para a conta da Sociedade para a continuação das obras de Allan Kardec; uma segunda soma, de 15 libras, 13 xelins e 2 centavos, foi paga em 8 de fevereiro de 1884 ao Sr. Leymarie para a conta da referida sociedade.

A Srta. Blackwell ficou ainda responsável para com os Senhores Balantyne pela soma que também lhes é devida para cobrir a impressão de sua tradução de O Céu e o Inferno.

Certificamos que a Srta. Blackwell, longe de ter recebido dinheiro da venda dos livros acima mencionados, ela mesma gastou uma considerável soma para anunciá-los.

Trübner e Cie.



Eis aqui como a Srta. Blackwell foi recompensada pela sua dedicação.

Voltemos à nossa conta.

A Revista, que em 1868 tinha 660 assinantes a 10 francos, rendia 6.600 francos (a impressão não custa isso). Certamente, o número de assinantes tem crescido desde aquela época.40 Nenhum dos artigos foi pago aos redatores. O Sr. e a Sra. Rosen, que haviam colaborado por 10 anos, jamais pediram nada, nem sequer uma assinatura da Revista, e, no entanto, eles eram preciosos escritores; e para lhes agradecer pelas suas colaborações desinteressadas, a Sra. Rosen tinha escrito uma brochura muito interessante intitulada: O Magnetismo curativo no lar doméstico, o Sr. Leymarie editou-a, cada brochura custando 30 centavos, ele tinha doado à autora 10 CENTAVOS e vendido a 1 franco.

Se os livros vendidos para a livraria rendem 30% e aqueles que ela edita rendem 100%, ela tem nos seus lucros o bastante para pagar o aluguel e a equipe, pois sua clientela se estende a toda a França e ao exterior. Os lucros devem ser ainda maiores já que não é uma empresa que tenha que pagar aos seus acionistas e que recebe doações e heranças. Todas essas aquisições devem torná-la rica.



Com efeito, ela recebeu primeiro, com a morte do Mestre, 42 mil francos, a biblioteca inclui 8 mil francos, e a Revista, que é um capital, já

que ela produz uma renda de 42 mil

Uma casa de campo, avaliada em 25 mil francos, houve lá processos, digamos que havia uns 5 mil francos de despesas. É muito 20 mil

A doação do Sr. Guérin 100 mil A herança do Sr. Guilbert de Rouen 10 mil

O lucro estabelecido mais acima sobre os livros fundamentais

do Sr. Allan Kardec 150 mil

A livraria está avaliada em 70 mil

(Ver a Revista de maio de 1883, página 206)

Finalmente, a herança da Sra. Kardec, o terreno não vale

menos que 300 mil

Mais cinco casas construídas nesse terreno, uma das quais,

Sra. Allan Kardec havia comprado do Sr. Roquet a 30 mil 30 mil

Total: 722,000



Sem contar o ouro, notas de bancos e títulos de renda, cuja existência o Sr. Joly pôde constatar por si mesmo, assim como eu, no momento da posse dos títulos.

Agora a Sociedade tem recebido para as conferências, declaração feita na Revista por três anos: 16.852 francos. Pelas obras espíritas, 800 francos.

Depois, as contribuições dos membros da Sociedade: 25 francos por ano, tendo apenas 100, o que dá uma renda anual de 2.500 francos. É esta a Sociedade que deve possuir na presente data um capital de 722 mil francos, que tem a coragem de nos enviar seus espíritas indigentes, dizendo-se pobre demais para lhes ajudar, a nós, União espírita francesa, que capital, de fato, nós só temos boas vontades. Entretanto, não os deixamos partir de mãos vazias, mas é a caridade particular quem lhes vem em auxílio.

Essa Sociedade, para pagar os custos da transferência, fez um empréstimo de 50 mil francos, a primeira hipoteca sobre a propriedade da Vila Ségur . Ah, querida amiga Sra. Kardec! Vós deveis ter estremecido de indignação, vós, que eles ousaram acusar de ter deixado dívidas, enquanto, ao contrário, de quem eles encontraram dois créditos, um de 10 mil francos, outro de 16 mil francos. Fui eu mesma quem lhes entregou nas mãos durante a posse dos títulos.

Eu sempre cito a Revista de maio de 1883 (página 205):



"As despesas obrigatórias foram liquidadas, então o excedente da renda aumentou o fundo geral; é proporcionalmente aos recursos desses fundos que o comitê proverá as diversas despesas úteis ao desenvolvimento da doutrina, sem que se possa jamais fazer seu lucro pessoal, nem uma fonte de especulação para nenhum de seus membros. A utilização dos fundos e a contabilidade estarão, além disso, sujeitas à verificação de comissários especiais delegados para esse fim pelos congressos e assembleias gerais."



Tal era a vontade do Mestre. Mas, bem, estou esperando com impaciência por esse congresso e por essa assembleia geral! Já faz 15 anos que essa administração age sem controle e é preciso, portanto, que todos os espíritas se reúnam para nomear comissários especiais, que serão designados para controlar seriamente esta Sociedade fundada pelo Mestre, e como o Sr. Leymarie diz, logo adiante (página 207), "Nós cumpriremos, realizaremos, com a ajuda de Deus, todos os pensamentos do Mestre e isso integralmente". Ele ficaria feliz de expor sua gestão sob os olhos dos irmãos espíritas, caso ela fosse honesta.

E já que a Sociedade se diz pobre quando deve possuir, depois da herança da Sra. Kardec, uma soma de 722 mil francos, com uma renda anual de 7.500 francos de uma parte mais 10 mil francos de outra, necessário se faz que nos seja dada explicação desse fenômeno.

Pode ser que o espiritismo científico e seus princípios superiores possam por si mesmos nos esclarecer todas essas obscuridades?

Quando pensamos na época em que o mestre estava entre nós, que ele conseguiu, com seus próprios recursos, fundar a Revista, prover às necessidades materiais da instalação do espiritismo, pagar o aluguel da passagem Sainte-Anne , onde nos reuníramos, reformar Ségur e construir quatro casas, e uma quinta para um tal Roquet, que a Sra. Kardec a comprou. Ele consagrou inteiramente nisso o produto de suas obras e era preciso que esse resultado fosse bastante considerável para fazer tudo aquilo.

Como ele conseguiu, já que a presente Sociedade, com essas 44 edições que ela tem vendido, com sua livraria, que está em plena prosperidade, como afirma o Sr. Leymarie, a Revista, que tem assinantes do mundo inteiro, não tem fundos de reserva? O que foi feito com seus lucros? Como ousais dizer na Revista de maio de 1883 (página 206):



"Desde então, tivemos que existir, ter nossa livraria, sem outras fontes além daquela que acionistas desinteressados lhe trouxeram."



(Estes ainda são rendimentos)

Vós acreditais, portanto, que somos bastante ingênuos para acreditar em tais alegações. Sim, vós obtivestes lucros! Sim, vós não dispondes de fundos de reserva e vós tendes sido obrigados a pedir emprestado 50 mil francos. Mas a opinião pública, assim como eu, vos pedirá conta de tudo que vós tendes feito.

É bom, penso eu, colocar diante dos olhos dos meus irmãos de fé os artigos e os estatutos da Sociedade anônima.

(Ver a Revista do mês de agosto de 1869, página 237).





SOCIEDADE ANÔNIMA

A Sociedade anônima fundada pela Sra. Allan Kardec tem por objetivo tornar conhecido o espiritismo por todos os meios autorizados pelas leis.

Ela tem por base a continuação da Revista espírita fundada por Allan Kardec, a publicação das obras deste, incluindo suas obras póstumas e todas as obras que tratam do espiritismo .

O fundo social, capital de fundação está fixado em 40 mil francos, capital esse inteiramente subscrito e dividido em 40 ações de mil francos cada.

Cada ação é indivisível e a Sociedade reconhece apenas um proprietário para cada ação.



ADMINISTRAÇÃO



A Sociedade é administrada por um Comitê de no mínimo três membros, nomeados pela assembleia geral dos associados e escolhidos entre eles (eles devem ser 40 associados, onde estão eles?)

O Comitê é nomeado por seis anos, revogável pela assembleia geral e indefinidamente reelegível. Os administradores têm um salário de 2.400 francos por ano e uma participação nos lucros.

Essa participação nos lucros e o salário fixo combinados jamais devem exceder 4 mil francos.

Será nomeado a CADA ANO um Comitê de fiscalização de pelo menos dois membros, escolhidos dentre os associados ou de fora destes. Eles dirigem-se à sede social quando o julgarem conveniente, tomam conhecimento dos livros e se dedicam ao exame dos lançamentos financeiros da Sociedade.

A assembleia geral regularmente constituída representa todos os associados.

A cada seis meses, os administradores preparam um balancete da situação ativa e passiva da Sociedade.

Um INVENTÁRIO deve ser elaborado ao fim de cada ano social e colocado à disposição dos associados.

Deverá ser deduzido dos lucros líquidos 1/20 para o fundo de reserva legal.

3% de fundo social para ser pago para cada ação.

(Os acionistas não receberam nada, nem aceitaram, porque as ações deles foram doadas, já que foram vendidas.) O excedente dos lucros líquidos retorna ao fundo social.

O fundo de reserva se compõe: 1°) da acumulação dos montantes recolhidos dos lucros líquidos anuais; 2°) de todas doações feitas legalmente à Sociedade, seja de qualquer título que for.

Esse fundo de reserva deve ser aplicado especialmente seja para o aumento do capital, seja para despesas no interesse do espiritismo. A assembleia geral rege SOZINHA o emprego dos capitais referentes ao fundo de reserva.

Direi, portanto, assim como o Mestre, com uma voz menos autorizada: por consequência dessas investigações, eu não ignoro que vou suscitar contra mim a animosidade dos exploradores, e que eu alienei seus partidários; mas o que importa para mim? É meu dever assumir a causa da doutrina e não os interesses deles, e esse dever eu o cumprirei com perseverança e firmeza até o fim!

O espiritismo entra novamente numa fase solene, entretanto, ele terá ainda grandes lutas para sustentar; ele deve então ser forte por si mesmo, e, para ser forte, é preciso que seja respeitável, o que não é possível nas condições em que se encontra atualmente; cabe aos seus adeptos devotados respeitá-lo, reprovando, em nome da doutrina, tudo o que possa prejudicar a consideração com a qual ela deve estar rodeada.





RESPONSABILIDADES



Termino com essa questão financeira; abordemos agora a questão das responsabilidades. Vejamos o que o Sr. Leymarie, com sua leviandade, sua falta de senso moral, tem feito da doutrina que ele tinha por dever proteger e defender.

Eu vou colocar sob os olhos dos meus leitores a maneira de ver do Sr. Leymarie em 1878, sua apreciação sobre o Sr. Roustaing e o Sr. Lessart , dito Verdade, que agora é o seu braço direito.



Paris, 5 de maio de 1878.

Irmão e amigo!

Tudo o que vós tendes feito para reprimir o Sr. Lessart é lógico, em conformidade com o bom senso, e eu vos exorto a não afrouxar o freio a esse indigno. Em Rouen, nos últimos dias, pude constatar o quanto um espírito trapalhão tal como esse LESSART fez de mal quando ele cria grupos; na rua Orbe, na casa do Sr. Lasnon-Duval, e na casa do Sr. Hasel, eu encontrei boas pessoas que, anteriormente reunidas pelo Sr. Lessart, têm conservado sua marca; pois, todos sendo espíritas, são partidários da religião de Vintras. Um médico, sacerdote dessa religião, admite os fenômenos espíritas, parece, mas ele reúne esses grupos em sua casa, usa uma batina e um cinto vermelho, celebra a missa e depois distribui a comunhão. Lessart adoraria pontificar, pois essa batina e esse cinturão o atraem!!

Vós compreendeis que eu reajo contra essas insanidades; o homem gosta de formalidade e tem-se dado a isso; Lessart é um desses BADAUDS e vós deveis detê-lo, porque ele ajudará a despejar o ridículo sobre nós.

Vós conheceis o povo de Bordeaux melhor do que eu; essas bravas pessoas estão no erro e eles pagam por isso um bom dinheiro; somente o Sr. Comera e o Sr. Krel são partidários de Allan Kardec, enquanto que Roustaing, a Sra. Collignon e tudo quanto se admirem da cabeça aos pés — esses são os FRUTOS SECOS que só revolucionarão os seus cérebros. Roustaing morrerá na impenitência final; ele acreditava que o processo47 havia matado o espiritismo. Aquele pobre homem! A Sra. Collignon (a médium de Roustaing) não o compreendia, teve um surto de feroz alegria ao saber que eu estava preso. Eles são de dar pena, porque lhes falta um sentido e eu sorrio aos das suas insinuações. Eu repito a vós, prendam-me esses destemperados!

Enquanto isso, etc.

Leymarie

Por cópia conforme: MENDY



Isso era o que ele pensava em 1878; porém, depois daquela época, o Sr. Roustaing morreu e o Sr. J. Guérin herdou uma quantia de 40 mil francos para traduzir os quatro evangelhos, ou a revelação da revelação, para quatro línguas estrangeiras. O Sr. Guérin era um grande admirador de Roustaing, fizera de tudo para que as obras de seu amigo fossem aceitas e disseminadas. Ele voltou-se para o Sr. Leymarie, que não tinha nada o que recusar ao milionário, que, tendo doado cem mil francos à Sociedade da rua Neuve des Petits Champs, tudo poderia exigir de sua complacência. Daí, essa evolução, essa colaboração indigna na brochura, esses ataques contra o Mestre, que, durante de quinze anos, lhe nutriram. O silêncio que ele tem guardado, apesar da ardente polêmica que essa brochura fez nascer, prova sua culpa. Não era para ele, com efeito, repelir com indignação tudo o que pudesse atentar contra o caráter de Allan Kardec? Ah, não mesmo! Mil vezes não! Ele tem recusado todos os artigos dos espíritas sinceros e convictos e só aceitando os meus, provavelmente porque eu tinha sido amiga da Sra. Kardec e que nada iria me impedir de protestar contra aquela infâmia. Eis aqui uma prova dessas recusas:



Paris, 12 de agosto de 1883 Sr. Leymarie,

Depois das grosserias que vós tendes permitido contra minha esposa, não mais me espanto com nada. Permanecerá que, sem qualquer razão, vós a chamastes de hipócrita.48 De vossa parte, aquilo parece agradável, vós que, por trás, falais mal de todo o mundo, do Sr. F*** para o último, e que, frente a frente, distribui abraços e apertos de mãos. No entanto, não quero reabrir essa questão após a declaração pela qual o Sr. F*** constatou, diante de todo o comitê, que essa injúria não poderia chegar à minha esposa.

Malgrado vossa promessa, feita diante de pelo menos seis testemunhas, de inserir tudo sobre o caso Roustaing, os prós e os contras, vós me devolvestes, sem dar os motivos, meu artigo consagrado em defesa de Allan Kardec e minha carta, muito educada, com essa simples menção: "Recusa de inserção, retorno ao remetente".

Parece que, em nossa casa, a cortesia não é obrigatória para com aqueles que apoiam a causa; conquanto eu, espírita há 23 anos, tornei-me simplesmente um remetente (tipo de comissário).

Tudo isso é lamentável!

De boa fé, e durante muitos anos, apesar de tudo o que nos chegou aos ouvidos, nós defendemos a administração da Sociedade espírita; a tal ponto que minha esposa se passou a público, nós descobrimos isso recentemente, por alguém que era paga por seus trabalhos.

Hoje nossos olhos estão revoltos, mas, cuide-se; não é impunemente que se ataca um dos defensores da causa que temos por missão defender.



47 O processo dos espíritas, envolvendo a falsificação de fotografias espirituais — N. T. 48 Porque ela havia protestado, numa discussão, contra a brochura Roustaing.

Por um ato de potentado, vós esperastes sufocar minha voz; ela se fará ouvida alhures e bem mais vigorosamente. Meu protesto irá aguardar por aqueles mesmos que vós quereis derrubar.

A Providência e os nossos queridos Espíritos cuidam de sua obra e eles saberão reduzir as vossas ações até a impotência!

Tenho a honra de cumprimentá-lo,

Michel Rosen



Pode-se ver, por essa carta, o modo cortês com o qual se tem tratado os defensores do Mestre. O Sr. Leymarie julgou, a propósito, não mais enviar ao Sr. Rosen exemplares da Revista. Este o reclama várias vezes e não obteve qualquer resposta. Então, o Sr. Rosen processou o Sr. Leymarie diante do juiz de paz a fim de obrigá-lo a cumprir sua assinatura. O Sr. Leymarie deu procuração ao Sr. Vautier para que fosse dizer ao juiz de paz, após três ou quatro convocações: "Mas esse Sr. Leymarie quer mesmo fugir da justiça!" Por fim, o Sr. Rosen, para encerrar o caso, aceitou a quinta vez, o Sr. Vautier, que se apresentou com seus cadernos.

Ele falou longamente para demonstrar que a Revista só era entregue ao Sr. Rosen a título de cortesia e mostrou, através de seus cadernos, que ele estaria inscrito na lista de assinantes GRATUITOS . O Sr. Rosen, em resposta, apresentou seus recibos.

Vejam aqui a condenação do Sr. Leymarie:



JUSTIÇA DE PAZ 1° distrito, folha 6, número 3984

9 de novembro de 1883



O tribunal, após ouvir as partes em seus próprios argumentos e conclusões, julgando em último recurso:

Considerando que, acrescendo ao depoimento as conclusões da citação, Rosen reclama a Leymarie, administrador da Revista Espírita (Jornal de estudos psicológicos):

Primeiro: os três últimos números daquela Revista, aos quais tem direito como assinante;

Segundo; cem francos de indenização, reclamação essa que Leymarie rejeitou, alegando que a Revista espírita só era enviada anteriormente a Rosen a título de cortesia;

Considerando que Rosen demonstrou ser assinante da Revista espírita para o ano de 1883, tendo pago a assinatura e, não tendo recebido as três derradeiras edições;

Considerando, quanto à indenização, que ele está, em parte, justificada; Por essas razões:

Condeno Leymarie a fornecer a Rosen os três últimos números da Revista espírita e a lhe entregar regularmente sua assinatura até o final do presente ano, doutra forma, digo que o será feito por direito.

Condeno Leymarie, outra vez, a pagar a Rosen três francos representando o valor dos três números que o requerente comprou, mais cinco francos á título de indenização.

Condeno Leymarie às despesas líquidas de oito francos e trinta centavos para a citação do presente julgamento.

Assinado: A. CARRÉ, juiz de paz,

DESSAIN, escrivão.



O último recibo do Sr. Rosen foi assinado pelo próprio Sr. Leymarie; que ordem reina nessa livraria? Como os livros são mantidos? No que se tornou, durante dez anos, o valor de dez francos da assinatura? Tudo isso é triste e prova bem o pouco senso moral desse homem!





TEOSOFISMO



Ah! Aqui está a infâmia pela qual critico o Sr. Leymarie, por ter corrompido nossa bela filosofia, diante do Teosofismo, tornando-se adepto daquela antiquada doutrina. É uma odiosa traição e nós devemos lhe indagar quais foram os motivos dessa vil ação.

Tenho sob meus olhos os estatutos da Sociedade teosófica fundada pelo coronel Olcott, presidente, e a Sra. Blavatsky, secretária, fundadores vitalícios.



ARTIGO PRIMEIRO — O objetivo da Sociedade é formar uma fraternidade universal de toda a humanidade, sem distinção de raça, de credo ou de cor.

(A sociedade espírita foi fundada pelo Mestre, se tivéssemos tido um homem inteligente e digno da posição que ele ocupara, eis o que deveria ter feito.)



ART. 2 — De propagar o estudo da literatura e das ciências orientais e de justificar a sua importância.



(Pelo custo dos livros e sua deslealdade contra a Srta. Blackwell, podemos ver como ele fazia propaganda espírita.)



ART. 3 — A Sociedade será dividida em filiais e cada filial terá o direito de eleger um membro para representá-lo no Conselho geral, cuja sede social será fixada no local de residência do seu fundador.



ART. 4 — A Sociedade inteira está sob a dependência de um conselho geral e do presidente, seu fundador. Todas as filiais devem sua existência à Sociedade Mãe, sem a autorização da qual, nenhuma filial poderá ser fundada nem continuada.



ART. 5 — Nenhum diretor e nenhum membro da Sociedade terá o direito de pregar as suas crenças pessoais.

(Eis aqui o Sr. Leymarie na impossibilidade de demonstrar a doutrina de Allan Kardec, se ele mantiver o juramento que solenemente fez à

Sociedade Teosófica, ao fundador e diante de várias testemunhas.)



ART. 6 — Nenhum membro está autorizado a pedir ajuda financeira a um irmão, por mais rico que seja, nem a concedê-la a um mais pobre. Empréstimo é estritamente proibido; após uma seria advertência, a violação dessas duas cláusulas acarretará em suspensão ou expulsão. (Eles estão longe de nosso admirável aforismo: fora da caridade não há salvação. Que fraternidade e que solidariedade!!)

Os artigos 7, 8 e 9 são dedicados à formação das filiais locais, todas sob a autoridade da Sociedade Mãe e seu fundador tem todo o poder.



ART. 10 — A Sociedade inclui 3 seções; as duas primeiras são superioras e não são submissas a qualquer código de leis e nem conhecidas de público. A 3ª seção inclui membros ativos e a admissão dá direito a assistir às reuniões, o livre acesso à biblioteca, e o titular adquire a simpatia de todas as filiais espalhadas por todo o universo.

ART. 11 — A taxa é de 25 francos.



ART. 12 — Três categorias de membros compõem a 3ª seção: Membros ativos, correspondentes e honorários.

A grade de membros correspondentes abraça as pessoas de distinção e os sábios capazes de fornecer informações interessantes à Sociedade.

O diploma de membro honorário é exclusivamente reservado às pessoas eminentes, contribuintes para aumentar os conhecimentos Teosóficos ou aos que tenham prestado grandes serviços.



ART. 13 — Membros ativos. Todas as pessoas são elegíveis, sem distinção de sexo, raça, crença ou classe social.

Os candidatos devem fazer um pedido por escrito (formulário A) declarando sua adesão às opiniões e crenças da Sociedade; essa declaração deve ser assinada por vários membros Teósofos. O candidato será iniciado após o prazo de 3 semanas aos sinais secretos, senha pela qual os Teósofos se reconhecem, ao mesmo tempo em que ele se comprometerá solenemente, sob sua honra (formulário B), e por escrito, e repetirá esse compromisso oralmente e perante testemunhas.



ART. 14 — Todo membro que tenha incorrido na aplicação de um dos artigos do código penal do país em que reside será expulso da Sociedade, após uma apuração dos fatos do qual ele tenha sido acusado e reconhecido culpado.

(E dizer que o Sr. Leymarie tem ousado se fazer Presidente da filial de Paris com um artigo como esse!)



ART. 15 — Todo membro condenado por ter caluniado um irmão ou uma irmã Teósofo, ou ter escrito ou pronunciado palavras injuriosas contra um membro qualquer será expulso.

(Por esses dois artigos, o Sr. Leymarie não poderia ser Teósofo.)



Eu gostaria de poder explicar aos meus irmãos de fé as leis gerais do Teosofismo. Será difícil para mim, eu que não sou uma escritora, e as explicações dos iniciados superiores são tão confusas, tão contraditórias, que é quase impossível de se deduzir delas uma clara definição.



Eis o que escreveu a Sra. Blavatsky:



Do homem:

Ele se divide em 7 elementos, ou princípios:

PRINCÍPIO PRIMEIRO – O corpo físico apodrece e desaparece.

PRINCÍPIO 2 – A vida (fluido vital) que nos é fornecida do inesgotável reservatório da vida universal.

PRINCÍPIO 3 – O corpo astral (o duplo) a emanação do corpo físico, que desaparece com o corpo quando este deixa de existir e que chamamos ilusório, por não ter nenhuma consistência e não poder durar.

PRINCÍPIO 4 – A vontade que dirige os princípios 1 e 2.

PRINCÍPIO 5 – A inteligência humana ou animal, ou o instinto bruto.

PRINCÍPIO 6 – A Alma espiritual ou divina.

PRINCÍPIO 7 – O Espírito, o último é esse que os cristãos chamam Logos — e nós — Nosso Deus pessoal; nós não conhecemos outro.



Estes são os 7 elementos dos quais o homem se compõe. A morte corporal dissocia três: corpo, o princípio vital e o corpo astral, que serve para constituir o duplo perfeito, ou sombra ilusória do corpo físico. Restam quatro elementos, que formam o ser humano desencarnado.

Perece que esse seja o quarto elemento, forma astral: a vontade. O 5°, a inteligência animal ou física, consciência pessoal ou senso íntimo, a memória, a afeição, a lembrança e as aquiescências, concernentes tanto aos homens quanto aos animais superiores.

Esses três princípios, matéria astral, forma astral e inteligência animal, constituem a alma animal (ou perispírito).

O que se segue ao 6° elemento: é a inteligência superior (a razão pura) a consciência moral no homem perfeito; o 7°, finalmente, o Espírito incriado, emanação do Ser eterno, ou alma divina.





REENCARNAÇÃO



Os teósofos só admitem a reencarnação sobre a terra uma vez, no entanto, crianças mortas muito cedo e os idiotas podem reencarnar duas vezes, porque eles são considerados falhas da natureza.

Homens muito bons, após a morte, experimentam uma gestação mais ou menos longa no mundo invisível feliz, onde se preparam para passar, com seu 4° elemento, por uma reencarnação em outro planeta.

Os homens nem tão bons e nem tão maus, mas que não deixaram apagar em sua alma a centelha divina, não perderão sua imortalidade. Eles não podem esperar por uma reencarnação após uma longa gestação por numerosas existências erráticas.

Por fim, entre os muito maus, em que o 7° elemento desaparece até mesmo antes da morte terrestre. O 6° elemento, ou eu pessoal, dissolve-se e é destruído pela perda que fez do senso divino. Permanecem o 4° e o 5° elementos, que constituem um ser que os ocultistas chamam de Elementar e pode viver sobre a terra, muito inteligente, se assim ele for.





COMUNICAÇÃO DOS ESPÍRITOS



Os Teósofos não admitem a comunicação dos encarnados com os Espíritos superiores; são os médiuns que SOBEM até eles e isso é muito raro.

Mas os seres que se comunicam, especialmente com os espíritas, são os Elementares, os homens mortos muito maus!! A Sra. Blavatsky os chama de infelizes vampiros inconscientes, trapos (do vestuário perispiritual), e ela acredita que faça parte da necromancia (magia negra) encorajar essas larvas a desempenharem um papel nas aparições materiais e psíquicas. Mais adiante, ela acrescenta: "Os espíritas querem nos fazer acreditar que todos os seus Espíritos são anjos de luz? Que eles se mostraram verdadeiros e justos, que eles nem mentem e nem enganam ninguém? Ah, bom! Nós, os ocultistas, dizemos que isso é uma blasfêmia horrível para os nossos olhos, dar a esses seres transitórios o nome sagrado de Espírito e de alma."

Ela diz, enfim: "O Espiritismo também é contrário às nossas doutrinas, tanto quanto o Ocultismo é para aquelas do falecido Allan Kardec".

E aí está a doutrina que o Sr. Leymarie tem aceito, à qual aderiu, uma vez que comprometeu-se mediante um solene juramente em sua honra; ele está, portanto, convencido de sua superioridade sobre o Espiritismo, já que fora nomeado presidente da filial da França, residente em Paris, e que fazia propaganda Teosófica. Posso citar os nomes de vários espíritas que foram atraídos por suas calorosas convicções e o ardente desejo que eles tinham em conquistar adeptos.

Para melhor provar seu zelo ao coronel Olcott e à Sra. Blavatsky, ele prometeu três mil francos do dinheiro de Allan Kardec para o Sr. Fortis fazer a tradução de Ísis além do véu, obra da Sra. Blavatsky; foi ele mesmo que disse isso, e o anunciou no Boletim da Sociedade científica de estudos psicológicos de 15 de março de 1883 (página 42).

Apelo a todos os espíritas, meus irmãos: esse homem pode continuar à frente do Espiritismo, já que não é espírita? Ele, que não tem crença, apenas interesses, que tem renegado a doutrina que deveria defender e proteger, corrompendo-a ao preferir outra? Ele agora deseja introduzir a fase Teológica para estabelecê-la como religião e destruir nossa bela filosofia por congressos, cerimônias e, mais tarde, por dogmas, e tudo por amor ao dinheiro, para agradar às ideias do Sr. Guérin, o milionário. Ele se fez Roustainguista e preconizou as ideias subversivas sobre a natureza de Jesus, e neste momento propõe-se a estudar até a não existência do Cristo. Em nome do nosso venerado Mestre, não podemos deixar nossa doutrina da vida permanecer nas mãos de um homem sem fé, sem convicção, e que a renegou.

Eu rogo a todos os espíritas que têm ações da Sociedade anônima fundada pela Sra. Allan Kardec para reunirem-se em assembleia geral; eles têm esse direito, como acionistas. Se são espíritas sinceros, homens honestos, de grande coração e que desejam a felicidade de toda a nossa humanidade, pela propagação da doutrina em toda a sua pureza, eles devem considerar que é para eles um direito e sobretudo um dever, e que se não o cumprirem, seja por medo, seja por inércia, será um abandono covarde de nossa querida filosofia, que, crede bem, está em perigo, um grande perigo. Como é possível honrar o Espiritismo enquanto vemos a representá-lo e liderá-lo pessoas sem moral, sem crença e sem lealdade? A Revista de Allan Kardec não passa de uma abominável rapsódia sob o pretexto do ecletismo, que tem inserido nela as ideias mais subversivas e distorcido o julgamento íntimo de nossos irmãos, que, não tendo bastante instrução para fazer justiça a todas essas concepções ridículas, estão perturbados e se tornam de uma credulidade que pode ser perigosa para a paz deles.

Estudemos o ensinamento do nosso querido Mestre Allan Kardec e aceitemos o que essa alta inteligência condensou durante trinta anos de um trabalho obstinado, e, acima de tudo, permitamo-nos compreendê-lo e aplicá-lo, tornando-nos melhores, justos, leais e fraternos, devotos à doutrina consoladora que nos tem sido revelada pelos Espíritos.

Jesus, que tão bem nos ensinou o amor, a caridade e a fraternidade, entretanto, num momento de indignação, expulsou os vendilhões do templo, e as cintas de que ele se serviu ainda não estão desgastadas. Eu empreguei as de nossa época, e Deus e os Espíritos me julgarão.

Eu creio ter cumprido a missão da qual me encarreguei. Cabe agora aos espíritas acionistas agir e salvar a vila Ségur que, no plano do Mestre, estava destinado a uma casa de refúgio para os idosos espíritas; ele pretendia levantar lá, além disso, uma grande construção para estabelecer um lugar de reunião, o museu e a biblioteca espírita.

Se empreendi essa obra, foi para obedecer às numerosas solicitações dos meus amigos, o Sr. e a Sra. Allan Kardec. Aqui está a prova:



Comunicação de 1 de novembro de 1883

"É absolutamente indispensável registrar a história da União, e vós, mais do que qualquer outra pessoa, querida amiga, tendes qualidade para fazê-lo. Vossa posição vos coloca acima de todos, pelas constantes relações que vós tendes tido com minha amada esposa. É bom que saibamos e que não se possa mentir. É necessário, sobretudo, que se saiba bem que os fatos que vós tendes revelados são, infelizmente, muito reais, e que, longe de conter maledicência ou calúnia, não são, lamentavelmente, mais do que um reflexo da verdade. Se vós vísseis o que nós vemos, quanto vós sofreríeis. Oreis por esses cegos desafortunados, pois eles estão assim; a punição não se fará esperar muito; continuai a luta, pois é preciso alcançar a vitória; estamos convosco, queremos a felicidade de nossos irmãos e o triunfo da verdade; nós conseguiremos! Obrigado por vossa boa afeição, ela nos é preciosa."

Allan Kardec



Eu obedeci.

Berthe Fropo



CARTA DA SRTA. BLACKWELL



Aos Senhores do Comitê Dirigente da Sociedade para a continuação das obras de Allan Kardec



Senhores,

No trabalho de propaganda que igualmente temos de coração, eu despendi em dinheiro a soma de 3.921, 20 francos. A recusa de vossa Sociedade em manter a palavra dada para a impressão de minha 3ª tradução me forçou a lhes emprestar, no interesse da obra que juntos empreendemos, a soma de 1.501,60 francos. Vossa Sociedade, portanto, está em dívida comigo pela diferença entre os dois valores, ou seja: 2.410,40 francos.

Isto dito, apresso-me em vos fornecer as provas nas quais me apoio, fazendo um histórico dos meus procedimentos desde o início de nossa obra comum.

Quando se discutiu pela primeira vez a impressão do Livro dos espíritos ao custo de vossa Sociedade, um importante membro do Comitê, presente na reunião em que aquela questão deveria ser decidida, fez uma judiciosa observação às pessoas presentes para esse propósito: que, se a Sociedade assumia o compromisso com o 1° volume das obras de Allan Kardec, comprometer-se-ia moralmente com a impressão dos outros volumes. Uma vez que aqueles a quem foi endereçada essa observação, e que, admitindo a justeza, decidiram fazer aquela primeira impressão aos custos de vossa Sociedade, eu, evidentemente, tenho o direito de contar com esse mesmo concurso para a impressão dos outros volumes da série, e além do mais que vosso gerente assegurou-me, várias vezes, que esse concurso não me falharia para a continuação da obra de pura devoção que eu tenho empreendido.

Não preciso vos lembrar, Senhores, que um livro, como qualquer outro objeto, só se vende em razão da publicidade que dele se faz. Essa verdade em Palisse , verdade para todas as coisas, mas sobretudo verdade quando se trata de um livro que vem, como esse admirável Livro dos Espíritos, combater de frente não somente as convicções habituais, os preconceitos, mas também as ideias preconcebidas, as pretensas teorias e, por consequência, o amor-próprio daqueles a quem se oferece. Só se tem lido material de ineptos, extravagâncias, as assim ditas teorias acima de tudo fantasiosas, pretensiosas, vazias, umas e outras, que se creditam em abundância entre os espiritualistas ingleses e americanos, para adivinhar o ardor que os faz ignorar e deixar ignorar até a existência mesma de tal negação!

Estando firmemente decidida a jamais tirar qualquer tipo de lucro financeiro daquilo que a Providência me permitiu fazer pelo que eu considero como a mais sagrada das causas e deveres, e para evitar o tanto que eu puder esse parcial silêncio entre os espiritualistas, eu gastei em anúncios nos principais jornais ingleses, no momento da publicação desse livro — porta-bandeira do porvir religioso e filosófico — uma soma de mil francos, que me tinha sido dada como testemunho de simpatia pela obra que empreendi. Esse dinheiro me foi dado sem quaisquer condições, e eu tinha perfeitamente o direito de guardá-lo para mim mesma, se desejasse, como uma compensação parcial da parte material que me custava essa tradução, pela ocupação do meu tempo e pelas minhas forças, em detrimento dos trabalhos de pena dos quais vivo desde muitos anos. Fiel à minha resolução, preferi assim consagrar esse dinheiro à nossa obra em comum.

Animada por esse sentimento de devoção à nossa propaganda, igualmente gastei, em anúncios de jornais, para a publicação da vossa Sociedade de uma tradução do Livro dos Médiuns, uma soma de quinhentos francos que me foram doados pela mesma pessoa, sem contrapartida, ao qual eu tinha o direito de guardar para mim mesma, se o quisesse. Vossa Sociedade não pagou um centavo pelos anúncios que, só eles, fariam vender aqueles volumes; é unicamente aos 1.500 francos investidos por mim a que se deve a venda relativamente satisfatória das minhas duas primeiras traduções, sem a qual, não teríamos vendido uma dúzia de exemplares.

Todas as despesas de impressão do Livro dos Espíritos foram pagas integralmente por vossa sociedade. O mesmo tem sido por aquela do Livro dos Médiuns, exceto por uma soma de 139 francos, para as despesas postais, restante da conta, que me deveria ser paga e que sempre me é devido.

Foi bem na época daquela 2ª impressão aos custos de vossa

Sociedade que o meu Ensaio sobre a influência das ideias espíritas sobre a marcha social do futuro (o qual vós bem queríeis aceitar e imprimir a tradução) ganhou uma medalha de ouro no valor de 500 francos, e eu pedi para receber esse valor em espécie a fim de fazer à vossa Sociedade a oferta de metade daquela soma, ou seja, 250 francos. Ao mesmo tempo, eu parti a outra metade em partes iguais de 125 francos entre os jornais de Londres (o Médium e o Espiritualista) que me emprestavam de tempos em tempos suas colunas para refutar as calúnias que nossos adversários esforçavam-se por derramar contra nossa doutrina e contra o seu venerável pioneiro.

Logo após a publicação do Livro dos Médiuns, como vosso gerente me havia comprometido a fazer, eu passei à tradução do Céu e Inferno, baseando-me nas garantias reiteradas de que vossa Sociedade encarregarse-ia da impressão desse terceiro volume. Na última carta que vosso gerente me remeteu de sua prisão, alguns dias antes de sua soltura, ele novamente me pediu para apressar tanto quanto possível a tradução desse livro, renovando-me a garantia do concurso fraterno de vossa Sociedade. Sempre sacrificando meus interesses pessoais em favor de nossa obra comum, continuei a deixar de lado meus outros trabalhos a fim de completar sem demora a tradução daquele livro tão interessante, tão atraente, que corrobora tão persuasivamente os dados teóricos do Livro dos Espíritos e as instruções praticas do Livro dos Médiuns. Estava cada vez mais ansiosa para terminar e me pareceu que o charme dessa coletânea impressionante e dramática ajudaria fortemente a chamar a atenção do público inglês para aqueles outros dois volumes.

Tendo terminado essa terceira tradução e contando sempre com a concordância de vossa Sociedade, fiz todos os arranjos necessários para a impressão desse volume pela casa Ballantyne; como muitas pessoas me escreveram para expressar o seu desejo de vê-la lançada, então anunciei nos jornais a sua publicação imediata.

Julguem, portanto, o meu doloroso espanto, o meu grande e penoso constrangimento ao receber do vosso gerente, justo no momento em que eu estava prestes a enviar meu manuscrito aos impressores, uma carta me anunciando que vossa Sociedade, tendo que prover as despesas de sua nova instalação, recusava a se comprometer com a impressão de minha tradução de Céu e Inferno.

Diante de uma recusa tão inesperada, tão oposta ao que vosso gerente me havia prometido em vosso nome e tão desfavorável à nossa obra comum, que fazer? Pagar essa impressão de meu próprio bolso me era impossível. Poderia eu renunciar a uma publicação já anunciada nos jornais, e cujo atraso, em meio à guerra que se fazia contra nós, teria a aparência de um recuo? Os 2 mil francos, sem contar todo o meu trabalho e todo a minha pena, parecia-me e ainda parece-me dar o direito de fazer o que fiz; ou seja, para tornar essa dificuldade imprevista em empréstimo à vossa Sociedade por 393 francos e 30 centavos, de papel que foi deixado sem uso com os nossos impressores, e em me servindo do dinheiro (1.108,80 francos) proveniente (graças aos meus 1.500 francos de anúncios) da venda das minhas duas primeiras traduções.

Eu esperava que um pouco mais tarde vossa Sociedade reconhecesse o compromisso moral resultante da impressão dos dois primeiros volumes e a injustiça de largar em meus braços uma dívida que eu não tenho como pagar, mas que poderia ter saldado, em grande parte, caso tivesse previsto aquela recusa, reservando para isso aqueles dois mil francos que havia gasto com nossa obra. Esperava que ela voltasse em sua decisão negativa e completasse o pagamento aceitando a propriedade desse novo volume, nas condições adotadas pelos dois outros. Eu disse a mim mesma que se, apesar de minha esperança, vossa Sociedade mantivesse sua recusa, eu lhe devolveria meu empréstimo, de meu próprio bolso, assim que me fosse possível; ou, então, que eu poderia, em todo o caso, devolvê-lo, repassando-lhe, até completar a soma emprestada, a totalidade do rendimento desse novo volume, tão logo conseguisse completar o pagamento de sua impressão — pagamento que estou fazendo com o rendimento desse volume e outros fundos provenientes da venda de minhas traduções na América, venda que não diz respeito à vossa Sociedade, pois sua copropriedade em minhas traduções foi consentida somente na Inglaterra.

Assim que minha tradução de Céu e Inferno terminasse, começaria aquela de A Gênese. Naturalmente, após o anúncio de recusa para Céu e Inferno que me foi feita por vosso gerente, eu coloquei de lado essa quarta tradução, mas pretendo concluí-la, para dar esse magnífico livro aos meus compatriotas, desde que eu tenha possibilidade de imprimi-lo.

Nenhuma doação me foi feita pelo Céu e Inferno. É, portanto, apenas com o rendimento desse volume, a baixa reposição que me fazem as livrarias americanas, e com o dinheiro que tirei do meu próprio bolso que eu pude fazer alguns pagamentos parciais aos Senhores Ballantyne e continuar a anunciar os três volumes nos jornais ingleses, embora muito insuficientemente. Então, eu paguei 703 francos e 80 centavos aos Sr. Ballantyne e 650 francos pelos anúncios.

Tem sido para mim, até o momento, impossível saldar o restante da fatura dos impressores ou de reembolsar a sociedade o empréstimo que lhe fiz. É-me impossível também precisar a época em que poderei fazê-lo. Posso apenas vos assegurar de meu vívido desejo de regularizar nossa respectiva posição e da pressa que tenho em fazê-lo tão mais breve quanto o possa.

Enquanto isso, tudo o que eu posso fazer neste momento é oferecer à vossa sociedade a escolha entre essas três propostas seguintes:

1ª proposta. Doarei à vossa Sociedade a propriedade da minha terceira tradução, como das duas primeiras, na condição que a Sociedade salde o restante da fatura dos impressores, que é de um pouco mais de mil francos e de mais 300 francos de juros do aluguel e seguro dos clichês dos dois primeiros volumes.

2ª proposta. Se a Sociedade não quiser saldar a fatura dos impressores, continuarei a fazê-lo com a totalidade do rendimento de Céu e Inferno e das remessas dos editores americanos, até a inteira quitação dessa dívida.

Assim que o pagamento for concluído, repassarei à Sociedade o rendimento desse terceiro volume e das remessas dos editores americanos, até que vossa Sociedade tenha recuperado a totalidade de seus gastos e o montante de meu empréstimo, na condição de que a Sociedade, até que seja integralmente paga, repasse-me, por sua vez, o rendimento dos três volumes, até que eu tenha ressarcido o valor dos meus desembolsos. Após disso, vossa Sociedade e eu compartilharemos, como combinado, os lucros resultantes da venda de minhas três traduções. 3ª proposta. Se a Sociedade não deseja adquirir a propriedade do meu terceiro livro, reembolsá-la-ei pelo meu empréstimo do meu próprio bolso, assim que seja possível, e ela contentar-se-á, entretanto, com o rendimento dos meus dois primeiros volumes, a fim de que eu possa continuar a pagar aos impressores com a renda do terceiro volume e as remessas das livrarias americanas.

Quanto ao preço desses volumes, asseguro-vos, Senhores, que não foi por mim que ele foi fixado. Eu fiz a esse respeito o que sempre se fez: deixei por conta de nossos editores. Como vós, eu desejaria que esses livros fossem baratos, mas o público inglês não quer comprar livros mal feitos. É preciso uma boa impressão, sobre um bom papel e uma bonita encadernação; sem isso, ninguém compraria.

Houve, neste ano mesmo, uma longa discussão sobre esse assunto nos jornais ingleses. Criticou-se a carestia dos livros, do que o sistema francês vangloriava-se; então ficou decidido, por se constatar a impossibilidade de se adotar esse sistema, visto a resistência do público em aceitar o papel fino e a brochura, apesar da vantagem do baixo preço. Repito-vos que absolutamente não me importo com essa questão de preço. Vós podeis fazer, a esse respeito, o que melhor vos parece.

E agora, Senhores, permiti-me chamar toda a vossa atenção para a questão da publicidade que se deve dar a essas traduções, questão com a qual não mais me ocuparei. Ainda paguei de meu próprio bolso, mas pela última vez, anúncios dos três volumes, no Espiritualista, convidando o Sr. Harrison, seu proprietário, a futuramente negociar com a vossa Sociedade sobre o que ela pretende fazer quanto a esse assunto.

Não preciso vos lembrar de que uma obra de propaganda, em face de uma oposição enraizada e muitas vezes interesseira, não pode ser temporária, mas uma obra de devoção e sacrifício; que poderá ser preciso, por muitos anos, trilhar milhas para recolher centavos. Poderíamos criar, pouco a pouco, para esses admiráveis livros, uma venda que nos permitiria com o tempo recuperar os gastos. Para tanto, precisaríamos fazer publicidade em grande escala, fazendo anúncios não somente nos jornais espiritualistas, mas também e principalmente nos principais jornais ingleses.

Acrescento às considerações que tenho a honra de vos apresentar a conta detalhada do que vos tomei emprestado e do que despendi por devoção à nossa causa.

Querei, Senhores, fazer-me saber da decisão de vossa sociedade em relação às três bases de arranjo que venho vos propor e aceitai a expressão dos meus sentimentos distintos e fraternais.

Anna Blackwell







Triel (Seine-et-Oise) , 1 de março de 1882.

Extrato dos valores gastos pela Srta. Blackwell para a continuação das obras de Allan Kardec



Restante das despesas postais para o Livro dos Médiuns 139 Anúncios do Livro dos Espíritos e do Livro dos Médiuns 1,500

Dado à Sociedade (prêmio de honra) 250

Dado ao jornal O Médium 125

Dado ao jornal O Espiritualista 125

Despesas postais para Céu e Inferno e correspondência dos três volumes, desde 1875 ............ 250

Anúncios dos três volumes desde a publicação de Céu e Inferno até o fim de 1881 650 3° e 4° pagamentos aos Senhores Ballantyne pela impressão de Céu e Inferno 882

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3,921







Empréstimo junto à Sociedade no interesse da continuação das obras de Allan Kardec:



Do papel para a impressão de Céu e Inferno 393.30

Para os 1° e 2° pagamentos aos Srs. Ballantyne para impressão de Céu e Inferno 1,108.30

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Total 1,501.60

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Balanço em favor da Srta. Anna Blackwell 2,410.40





Recebi na última hora a carta seguinte da senhorita Blackwell, que confirma a precedente. Aqui está:



Querida amiga,

Resulta das contas detalhadas que me foram fornecidas pela casa Ballantyne que o Sr. Leymarie não saldou integralmente, como eu supunha, a impressão das minhas duas primeiras traduções. Sobre o montante de 95,14,6 libras (noventa e cinco libras, quatorze xelins e seis centavos) que figuram na precedente carta, a soma de 24,10,6 libras (613 francos) foi paga aos nossos impressores para completar o pagamento da impressão do Livro dos Médiuns!

O montante da conta devida aos Srs. Ballantyne sobre a impressão de Céu e Inferno foi, portanto, de apenas 71,4 libras (setenta e uma libras e quatro xelins).

1 de maio de 1884. A. B.







F I M





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PARIS – IMPRIMERIE POLYGLOTTE SPIRITE, 62, PASSAGE CHOISEUL. DEMOSTHENES