quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Implicações da culpa (Jorge Hessen)

Implicações da culpa (Jorge Hessen)



Jorge Hessen
Brasília-DF

Muitas crianças são induzidas a agir de forma sempre “correta”, conforme o padrão do seu meio ambiente, dos valores éticos, das pressões existentes. Quando a criança é obrigada a fazer as coisas dessa ou daquela maneira, todas as vezes que faz de forma diferente desenvolve a culpa. A virtude do discernimento deve ser-lhe ensinada desde cedo pelos pais cônscios, por ser a virtude fundamental para que ela possa escolher com segurança aquilo que é certo de acordo com as leis divinas ínsitas na consciência. 

Deve-se ensinar a criança a compreender as leis divinas; mostrá-la que errar é natural e faz parte do aprendizado, tanto quanto o erro deve ser reparado como condição natural para o desenvolvimento do senso moral. Mas se a criança desenvolve e cultua culpa e se acostuma com isso, quando chega à fase adulta a culpa se intensifica e se soma às culpas do passado, situando a vida numa condição insuportável. 

A culpa ocasiona comoções, desordens autopunitivas e contribui para ausência de autoestima. Provoca compulsão autoexterminadora, como decorrência dos movimentos de autojulgamento, autocondenação e autopunição em que o culpado arruína a autoestima, tornando impossível o auto acolhimento amoroso. 

A autoestima está conectada aos sentimentos básicos de autoaceitação, autoconfiança, autovalorização e autorrespeito, como anseios fundamentais para o equilíbrio do ser. Fora disso, surgem várias dificuldades de ordem mental e emocional, refletindo-se no corpo físico através do bombardeamento mental, comprometendo o organismo. 

Sob a compulsão autoexterminadora pode-se chegar ao suicídio, direto ou ao suicídio indireto. Neste último caso, a pessoa martiriza o corpo através de emoções e pensamentos, entrando no estado de desinteresse pela vida, culminando em processos de depressões graves, ocasionando demais transtornos psíquicos e emocionais, como ansiedade generalizada, transtorno do pânico e desordem bipolar. 

Na origem de toda doença sempre há componentes psíquicos ou espirituais. As moléstias são heranças decorrentes da divina Lei de Causa e Efeito, e decorrentes desta ou de vidas antecedentes. São escombros que fixaram nos genes os fatores propiciadores para a instalação dos distúrbios patológicos. 

Quando fazemos esforços pacientes, continuados e perseverantes, desenvolvendo virtudes em nossos corações, mantemos inativadas as enfermidades genéticas. Podemos ter uma predisposição genética para o câncer e nunca desenvolvermos processos cancerígenos; podemos ter uma pré-disposição depressiva e jamais desenvolvermos a depressão; podemos ter uma família inteira com problemas genéticos que dependendo do nosso comportamento manteremos neutralizadas as predisposições genéticas enfermas. 

Somos imagem e semelhança do Criador; somos de essência divina e fomos criados para a felicidade e harmonia. Quando procuramos desenvolver o equilíbrio existencial de forma responsável, não seremos alcançados pelas doenças genéticas, até porque não é a composição biológica que determina a saúde ou doença do espírito, mas é o espírito que comanda o corpo físico. 

Sempre seremos amados pelo Criador, independentemente dos nossos erros. Será que um pai ou uma mãe ama o filho só quando ele faz as coisas certas? Na verdade os pais amam os seus filhos do mesmo jeito, independentemente das condições morais dos filhos. Será que um ser humano é mais amoroso do que Deus? Em face disso, não há razões para sustentarmos a baldia culpa impondo-nos a “distimia” (conduta mal-humorada), perdendo o interesse pelas atividades diárias normais, sentindo-se sem esperança, tendo baixa produtividade, baixa autoestima e um sentimento geral de inadequação como precursor da depressão. 

Há os que mantêm o mal humor quase ininterruptamente. São aqueles que acordam mal-humorados, passam o dia mal-humorados e vão dormir mal-humorados, porque estão o tempo todo num processo de culpa em autojulgamento, autocondenação e autopunição. Para sair desse estado é imperioso desenvolver os sentimentos básicos da autoestima, da autoaceitação, da autoconfiança, da autovalorização e do autorrespeito. 


Várias são as consequências da culpa, a saber: insegurança, isolacionismo, ausência de si mesmo (a) e dos outros. A pessoa entra em estado de isolamento psíquico e amplia o sentimento de abandono existencial. Não é possível alguém assim se sentir pertencente ao universo, e é exatamente o sentimento de pertencimento ao universo que gera em nós existencialismo e alegria de viver.

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Auto perdoar-se não é apagar os rabiscos do desacerto (Jorge Hessen)

Auto perdoar-se não é apagar os rabiscos do desacerto (Jorge Hessen)

Jorge Hessen
Brasília-DF

A culpa e o alerta da consciência são temas que merecem profundas reflexões . É importante dizer que o “alerta ou conflito da consciência ” ainda não é a instalação da culpa, porém, um convite ao arrependimento diante dos erros. Tal constrangimento consciencial é imprescindível para a reamornização do desalinho psicológico, procedente da culpa.
consciência  é o Divino em nossa realidade existencial; nela estão escritas as Leis do Criador. Por sua vez, a culpa resulta da não auscultação do “alerta da consciência ” , portanto é patológica e gera profundo abalo psicológico autopunitivo. Detalhe: é impossível inexistir o alerta consciencial no psiquismo humano. Podemos fingir não ouvir a “voz da consciência ”, e apesar disso, ela sempre alertará, exceto nos casos extremos de psicopatologias em que o doente mental não sente um mínimo de arrependimento e ou culpa.
O alerta consciencial sinaliza as transgressões à Lei de amor , justiça e caridade. À vista disso, tomamos consciência  e nos arrependemos do erro, buscando repará-lo. Por outro lado, a culpa é um processo patológico em que ficamos cultuando o erro sob o movimento psicológico de autojulgamento, autocondenação e autopunição.
Das diversas características da culpa há aquela advinda da volúpia de “prazer” quando alguém não se divertiu como gostaria de ter (se esbaldado numa “balada”, por exemplo). Após a “farra” esse alguém se sente culpado e se cobra por não ter permanecido mais tempo na festa, por não ter realizado isso e ou aquilo etc. Sob esse estado psicologicamente perturbador surge a culpa como reflexo daquilo que não se fez e almejaria ter feito, resultando o movimento de autopunição.
Todas as recordações negativas paralisam o entusiasmo para as ações no bem, únicas portadoras de esperança para a libertação da culpa. Quando entramos no processo autopunitivo geramos um processo de distanciamento da realidade da vida e do próprio viver. É um grande desafio transformarmos a experiência desafiadora (dor / “sofrimento”) em experiência de aprendizado. Para isso, importa fazermos o BEM no limite das nossas forças, principiando em nós mesmos, permitindo-nos experimentar esse BEM no coração e ao mesmo tempo realizarmos o BEM ao próximo, e assim  nos libertamos totalmente do nódulo culposo.
A Lei de Causa e Efeito é um dos princípios fundamentais preconizados pela Doutrina Espírita para explicar as vicissitudes ligadas à vida humana. Ante a Lei de causalidade a colheita deriva da semeadura, sem qualquer expressão castradora ou fatalista para reparação. O “alerta de consciência ”, por exemplo, bem absorvido, transforma-se em componente responsável. Mas se o ignoramos desmoronamos no desculpismo rechaçamos a responsabilização do erro. Em face disso, o desculpismo é uma postura profundamente irresponsável perante si mesmo.
O negligente (desculpista) pronuncia que “errar é humano”, porém é arriscado raciocinar assim. É um processo equivocado que ultraja a lei de Deus. Em verdade, não precisamos nos culpar (exigência) quando erramos, e muito menos nos desculpar (negligência), porém, carece ouvirmos a voz da consciência  e aprendermos com os erros a fim de repará-los.
Sobre as diferentes peculiaridades da culpa ainda há aquela advinda naqueles trabalhadores que avidamente mergulham nos assistencialismos.  São confrades de consciência pesada que ambicionam consolidar a beneficência, visando, antes, anestesiarem a própria culpa. Na realidade, estão tentando barganhar com Deus, a fim de se livrarem da ansiedade mental. Decerto isso é uma prática espontânea e contraproducente.
Não obstante, no M.E.B. - Movimento Espírita Brasileiro haja farta frente de serviços assistencialistas. O psiquiatra espírita Alírio Cerqueira, coordenador do Projeto Espiritizar da Federação Espirita do Mato Grosso, arrazoa que muitos fazem assistencialismos sem real consciência  da necessidade social dos desprovidos. Em verdade, laboram “caritativamente” sob as algemas da consciência  culposa e arriscam disfarçar para si mesmos o automático exercício de “altruísmo”. Agem subconscientemente quais portadores de ferida muito dolorosa, e em vez de tratá-la para cicatrizar, ficam passando pomada anestésica na ferida (culpa) para abrandar a dor.
Agindo assim (no assistencialismo) a culpa momentaneamente é “escondida”, mas não desaparece, pois, passando o efeito do anestésico a culpa retorna e a pessoa mantém o conflito de consciência . Desse modo, vai ampliando cada vez mais os compromissos “filantrópicos”; vai se sobrecarregando nos pactos “caritativos”; porém, a culpa é conservada. Muitos passam a vida inteira nessa atitude de “FAZEÇÃO DE COISAS” sem qualquer objetivo consciencial. Tais “caridosos” com certeza socorrem TEMPORARIAMENTE os necessitados, todavia, provocam para si mesmos , em alto grau,  o cansaço mental, o estresse e a saturação psicológica e não conseguem se HARMONIZAREM CONSIGO MESMOS.
Na verdade, o objetivo das leis divinas (sediadas na consciência ) é nos proporcionar a pura e eterna felicidade. Em face disso, quando as transgredimos ficamos ansiosos, porque nos afastamos da felicidade, logo, sentimos extrema ansiedade. Em face disso é importante o exercício do auto perdão que obviamente não extinguirá a responsabilidade dos erros praticados, até porque auto perdoar-se não é simplesmente passar uma borracha em cima do desacerto, mas fazer uma avaliação equilibrada do desacerto para repará-lo.
No extremo, há pessoas que alimentam tanta culpa que se sentem indignas de fazer uma prece e ou de fazer o bem. Porém, ajuizemos o seguinte: a prece não é para espíritos puros. Jesus orientou que não são os sadios que necessitam de médicos, mas os doentes. Ora, esperarmos nossa purificação para orar e fazer o bem não faz nenhum sentido, até porque nos aperfeiçoamos gradualmente, orando inicialmente e de maneira especial fazendo bem no limite das nossas forças.