segunda-feira, 25 de junho de 2012

“PÁTRIA DO EVANGELHO” – SERÁ QUE ISMAEL CONSEGUIRÁ CONDUZIR ESSA EMPREITA?

“PÁTRIA DO EVANGELHO” – SERÁ QUE ISMAEL CONSEGUIRÁ CONDUZIR ESSA EMPREITA?
 Para o Espírito Humberto de Campos “o Brasil não está somente destinado a suprir as necessidades materiais dos povos mais pobres do planeta, mas, também, a facultar ao mundo inteiro uma expressão consoladora de crença e de fé raciocinada e a ser o maior celeiro de claridades espirituais do orbe inteiro.”(1) Evidentemente, essas ideias não são para já e nem se restringem ao desenvolvimento dos ensinos de Jesus apenas por aqui, até porque a visão doutrinária  do pensamento de Jesus é universalista.
 O ilustre filho de Miritiba (município maranhense hoje batizado com o seu nome) narra que Jesus, “pelas mãos carinhosas de Ismael, acompanha desveladamente a evolução da pátria extraordinária e delegou autoridade aos grandes médiuns, que seriam os portadores da luz do Cristo. Dentre eles, é citada a personalidade de Bezerra de Menezes, aclamado na noite de julho de1895, diretor de todos os trabalhos de Ismael no Brasil.”(2) Há estudiosos que abominam os argumentos do livro, sobretudo porque Humberto faz referência a Roustaing (estudado por Bezerra no século XIX), sendo esse fato uma “punhalada cruel contra Kardec”! Que exagero! (não sou roustenista, porém divirjo dessa postura intolerante dos adversários da obra).
 Acudimos a tese de que Jesus realmente transferiu a Doutrina Espírita, a mais liberal filosofia que o mundo já conheceu, para o Brasil, e creio que aqui haverá de ser o celeiro imenso de riquezas espirituais e recursos materiais para os povos mais pobres do planeta. Quanto a isso, não paira dúvida de que o Brasil aposta ser hoje o grande exportador do Espiritismo, nas suas teses abençoadas, que valorizam a Terra, as nações, todos os povos e todos os seres.
 Quando mencionamos nosso país como "celeiro", materialmente falando, é importante frisar que até hoje no Brasil somente foi extraído do subsolo aproximadamente 10% do petróleo existente (incluindo o pré-sal). As reservas minerais estão em grande monta intocadas. As reservas florestais ainda são colossais. A plataforma continental brasileira é depósito de recursos quase infinitos. A nossa reserva hídrica e capacidade fluvial é uma das maiores do mundo. As terras imensas, inabitadas, virgens, guardam possibilidades incontáveis de realizações no que tange ao ecossistema global.
 O IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - calcula que existam 20 milhões de adeptos e simpatizantes da Doutrina Espírita no Brasil. Existem pelo menos 9.000 núcleos espíritas; milhares de instituições kardecianas de assistência e promoção social; há uns 500 jornais espíritas impressos, milhares de Portais da Internet contento Revistas Eletrônicas, Jornais Virtuais, Blogs, Salas de Estudos espíritas, centenas de  programas radiofônicos, alguns poucos programas espíritas de televisão (aqui o número é irrisório); são pelos menos 50 as editoras espíritas, editando aproximadamente 4.000 livros (alguns bons e outros que jamais deveriam ter sido publicados); são quase 90 milhões de exemplares de livros editados e vendidos; atualmente, há centenas traduções para dezenas de idiomas dos livros psicografados por Chico Xavier. Como se não bastasse, o movimento espírita mundial é incrementado por brasileiros que se radicaram noutros países.
 Pronuncia Humberto de Campos que o Cristo orientou Ismael nos seguintes termos: “doravante sejas o zelador dos patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro. Para aí transplantei a árvore da minha misericórdia e espero que a cultives com a tua abnegação e com o teu sublimado heroísmo. Concentraremos todos os nossos esforços, a fim de que se unifiquem os meus discípulos encarnados. Na pátria dos meus ensinamentos, o Espiritismo será o Cristianismo revivido na sua primitiva pureza. Sem as ideologias de separatividade, e inundando todos os campos das atividades humanas com uma nova luz.”(3)   
 O “Conselheiro XX”, magno esteta das letras do Maranhão, explana: “a Federação Espírita Brasileira, fundada em 1884, aguardava, sob a proteção de Ismael, a ocasião propícia para desempenhar a sua tarefa junto aos grupos do País. Quando Bezerra de Menezes assumiu a direção da FEB e fez da Instituição o porto seguro a todos os corações.”(4) Entretanto, após a sua administração, tem-se a impressão de que o Movimento Espírita Brasileiro ficou sem orientação.
 Com vistas à integração nacional do Movimento, no dia 5 de outubro de 1949, por ocasião da Grande Conferência Espírita no Rio de Janeiro, com a participação de vários dirigentes de Instituições Espíritas, foi firmado um acordo, que passou a ser chamado "PACTO ÁUREO". Nessa ocasião foi criado, na Casa-Máter, o Conselho Federativo Nacional, integrado pelas Federações e Uniões representativas dos Movimentos Espíritas estaduais e do DF (o Distrito Federal era no Rio de Janeiro). Tal instância foi instituída com o objetivo de promover a união dos espíritas e a unificação do Movimento Espírita no Brasil.
 A bem da verdade, os Benfeitores nos ofereceram todas as condições necessárias para o cumprimento da missão (Pátria do Evangelho). Eles fizeram e continuam fazendo a parte que lhes cabe, mas será que a liderança atual está fazendo a sua? Sinceramente? Não percebemos esse empenho com muita clareza! Pronunciamos isso baseado na seguinte premissa: Quando o Mestre enfatiza a revivescência do Evangelho na sua “primitiva pureza”, infelizmente constatamos que as federativas atuais (com raríssimas exceções) estão absurdamente longe de alcançar o que significa “PIMITIVA PUREZA”. Basta medirmos os eventos esplêndidos e dispendiosos que obstinadamente são concretizados no Brasil. Paira um infeliz ranço aristocrático na coordenação do movimento espírita contemporâneo. Como resolver esse imbróglio?
 Ora, que os dirigentes espíritas, sobretudo os comprometidos com órgãos “unificadores”, compreendam e sintam que o Espiritismo veio para o povo e com ele dialogar como insistentemente advertia Chico Xavier. Devem primar pela simplicidade doutrinária e evitar tudo aquilo que lembre castas, discriminações, evidências individuais, privilégios injustificáveis, imunidades, prioridades, mercantilismos dos eventos doutrinários, urge melhorar o emprego dos recursos financeiros oriundos do comércio de produtos espíritas (CD’s, DVD’s, Livros e outros).
 É impraticável “um Espiritismo sem Jesus e sem Kardec para todos, com todos e ao alcance de todos, a fim de que o projeto da Terceira Revelação alcance os fins a que se propõe.”(5) A tendência fidalga nas celebrações  doutrinárias vai sujeitando-nos a dogmatização dos postulados espíritas na configuração do Espiritismo para abastados, para pobrezinhos, para intelectuais, para iletrados, para expoentes (estrelas) da tribuna, para empavonados sabichões (“doutores”), para associações de “notáveis”, e para uma lista colossal de diversos disparates.
 Infelizmente, alguns insistem e se perdem nos labirintos das promoções de eventos cognominados “congressos espíritas” que jamais se assemelham às reuniões modestas conduzidas por Jesus há dois mil anos. Realizam esses festivos encontrões não raro em luxuosos Centros de Convenções destinados a espíritas abastados. Sem qualquer inquietação espiritual ou escrúpulos, justificam a cobrança de taxas (falaciosamente alcunhada de “contribuição espontânea, colaboração ou rateio”) aos interessados, razão pela qual a flâmula tão “almejada”  da “unificação” se submerge nesse cipoal de incongruências.
 Nos chamados eventos grandes, os órgãos “unificadores” devem envidar todos os esforços para que não haja a necessidade de qualquer cobrança de taxa de inscrição dos fortuitos participantes. O ideal será a opção por eventos menores, com estruturas modestas e eficazes. Muitas vezes temos a impressão de que a liderança atual deseja concorrer com os segmentos evangélicos a fim de abarrotarem de gente os  ginásios e estádios. Detalhe: o expositor-mor que arrebanha milhares de ouvintes para esse desiderato não vai ficar reencarnado 300 anos e já está próximo dos 90.
 Batendo sempre na mesmíssima tecla, recordamos o Cândido Xavier de Uberaba, que alertou: "é preciso fugir da tendência à ‘elitização’ no seio do movimento espírita (...) o Espiritismo veio para o povo. É indispensável que o estudemos junto com as massas mais humildes, social e intelectualmente falando, e deles nos aproximarmos (...). Se não nos precavermos, daqui a pouco estaremos em nossas Casas Espíritas, apenas, falando e explicando o Evangelho de Cristo às pessoas laureadas por títulos acadêmicos ou intelectuais.”(6)  
 Não queremos ser prisioneiros do pessimismo. Talvez nem tudo esteja perdido. Não ignoramos que há muitos Centros Espíritas bem conduzidos em alguns municípios do Brasil. É exatamente por causa desses Núcleos Espíritas e médiuns humildes que o Espiritismo poderá se manter simples e coerente, no Brasil e, quiçá, no futuro, possamos dizer que o Brasil é concretamente a “Pátria do Evangelho e Coração do Mundo ”, segundo Jesus determinou e ordenou a Ismael a tarefa de administrar essa empreita.
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net
Referências Bibligráficas:
(1)       XAVIER, F. C. Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho (pelo Espírito Humberto de Campos). 11. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.
(2)       idem
(3)       idem
(4)       idem
(5)       Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda e publicada no jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 de março de 1977, e publicada no Livro intitulado Encontro no Tempo, org. Hércio M.C. Arantes, Editora IDE/SP/1979
(6)       idem