“PÁTRIA DO EVANGELHO” – SERÁ QUE ISMAEL CONSEGUIRÁ CONDUZIR ESSA
EMPREITA?
Para o Espírito Humberto de
Campos “o Brasil não está somente destinado a suprir as necessidades materiais
dos povos mais pobres do planeta, mas, também, a facultar ao mundo inteiro uma
expressão consoladora de crença e de fé raciocinada e a ser o maior celeiro de
claridades espirituais do orbe inteiro.”(1) Evidentemente, essas ideias não são
para já e nem se restringem ao desenvolvimento dos ensinos de Jesus apenas por
aqui, até porque a visão doutrinária do
pensamento de Jesus é universalista.
O ilustre filho de Miritiba
(município maranhense hoje batizado com o seu nome) narra que Jesus, “pelas
mãos carinhosas de Ismael, acompanha desveladamente a evolução da pátria
extraordinária e delegou autoridade aos grandes médiuns, que seriam os
portadores da luz do Cristo. Dentre eles, é citada a personalidade de Bezerra
de Menezes, aclamado na noite de julho de1895, diretor de todos os trabalhos de
Ismael no Brasil.”(2) Há estudiosos que abominam os argumentos do livro,
sobretudo porque Humberto faz referência a Roustaing (estudado por Bezerra no
século XIX), sendo esse fato uma “punhalada cruel contra Kardec”! Que exagero!
(não sou roustenista, porém divirjo dessa postura intolerante dos adversários
da obra).
Acudimos a tese de que Jesus
realmente transferiu a Doutrina Espírita, a mais liberal filosofia que o mundo
já conheceu, para o Brasil, e creio que aqui haverá de ser o celeiro imenso de
riquezas espirituais e recursos materiais para os povos mais pobres do planeta.
Quanto a isso, não paira dúvida de que o Brasil aposta ser hoje o grande
exportador do Espiritismo, nas suas teses abençoadas, que valorizam a Terra, as
nações, todos os povos e todos os seres.
Quando mencionamos nosso país
como "celeiro", materialmente falando, é importante frisar que até
hoje no Brasil somente foi extraído do subsolo aproximadamente 10% do petróleo
existente (incluindo o pré-sal). As reservas minerais estão em grande monta
intocadas. As reservas florestais ainda são colossais. A plataforma continental
brasileira é depósito de recursos quase infinitos. A nossa reserva hídrica e
capacidade fluvial é uma das maiores do mundo. As terras imensas, inabitadas,
virgens, guardam possibilidades incontáveis de realizações no que tange ao
ecossistema global.
O IBGE - Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística - calcula que existam 20 milhões de adeptos e
simpatizantes da Doutrina Espírita no Brasil. Existem pelo menos 9.000 núcleos
espíritas; milhares de instituições kardecianas de assistência e promoção
social; há uns 500 jornais espíritas impressos, milhares de Portais da Internet
contento Revistas Eletrônicas, Jornais Virtuais, Blogs, Salas de Estudos
espíritas, centenas de programas
radiofônicos, alguns poucos programas espíritas de televisão (aqui o número é
irrisório); são pelos menos 50 as editoras espíritas, editando aproximadamente
4.000 livros (alguns bons e outros que jamais deveriam ter sido publicados);
são quase 90 milhões de exemplares de livros editados e vendidos; atualmente,
há centenas traduções para dezenas de idiomas dos livros psicografados por
Chico Xavier. Como se não bastasse, o movimento espírita mundial é incrementado
por brasileiros que se radicaram noutros países.
Pronuncia Humberto de Campos
que o Cristo orientou Ismael nos seguintes termos: “doravante sejas o zelador
dos patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro. Para aí
transplantei a árvore da minha misericórdia e espero que a cultives com a tua
abnegação e com o teu sublimado heroísmo. Concentraremos todos os nossos
esforços, a fim de que se unifiquem os meus discípulos encarnados. Na pátria
dos meus ensinamentos, o Espiritismo será o Cristianismo revivido na sua
primitiva pureza. Sem as ideologias de separatividade, e inundando todos os
campos das atividades humanas com uma nova luz.”(3)
O “Conselheiro XX”, magno
esteta das letras do Maranhão, explana: “a Federação Espírita Brasileira,
fundada em 1884, aguardava, sob a proteção de Ismael, a ocasião propícia para
desempenhar a sua tarefa junto aos grupos do País. Quando Bezerra de Menezes
assumiu a direção da FEB e fez da Instituição o porto seguro a todos os
corações.”(4) Entretanto, após a sua administração, tem-se a impressão de que o
Movimento Espírita Brasileiro ficou sem orientação.
Com vistas à integração
nacional do Movimento, no dia 5 de outubro de 1949, por ocasião da Grande
Conferência Espírita no Rio de Janeiro, com a participação de vários dirigentes
de Instituições Espíritas, foi firmado um acordo, que passou a ser chamado
"PACTO ÁUREO". Nessa ocasião foi criado, na Casa-Máter, o Conselho
Federativo Nacional, integrado pelas Federações e Uniões representativas dos Movimentos
Espíritas estaduais e do DF (o Distrito Federal era no Rio de Janeiro). Tal
instância foi instituída com o objetivo de promover a união dos espíritas e a
unificação do Movimento Espírita no Brasil.
A bem da verdade, os
Benfeitores nos ofereceram todas as condições necessárias para o cumprimento da
missão (Pátria do Evangelho). Eles fizeram e continuam fazendo a parte que lhes
cabe, mas será que a liderança atual está fazendo a sua? Sinceramente? Não
percebemos esse empenho com muita clareza! Pronunciamos isso baseado na
seguinte premissa: Quando o Mestre enfatiza a revivescência do Evangelho na sua
“primitiva pureza”, infelizmente constatamos que as federativas atuais (com
raríssimas exceções) estão absurdamente longe de alcançar o que significa “PIMITIVA
PUREZA”. Basta medirmos os eventos esplêndidos e dispendiosos que
obstinadamente são concretizados no Brasil. Paira um infeliz ranço
aristocrático na coordenação do movimento espírita contemporâneo. Como resolver
esse imbróglio?
Ora, que os dirigentes
espíritas, sobretudo os comprometidos com órgãos “unificadores”, compreendam e
sintam que o Espiritismo veio para o povo e com ele dialogar como
insistentemente advertia Chico Xavier. Devem primar pela simplicidade
doutrinária e evitar tudo aquilo que lembre castas, discriminações, evidências
individuais, privilégios injustificáveis, imunidades, prioridades,
mercantilismos dos eventos doutrinários, urge melhorar o emprego dos recursos
financeiros oriundos do comércio de produtos espíritas (CD’s, DVD’s, Livros e
outros).
É impraticável “um Espiritismo
sem Jesus e sem Kardec para todos, com todos e ao alcance de todos, a fim de
que o projeto da Terceira Revelação alcance os fins a que se propõe.”(5) A
tendência fidalga nas celebrações
doutrinárias vai sujeitando-nos a dogmatização dos postulados espíritas
na configuração do Espiritismo para abastados, para pobrezinhos, para
intelectuais, para iletrados, para expoentes (estrelas) da tribuna, para
empavonados sabichões (“doutores”), para associações de “notáveis”, e para uma
lista colossal de diversos disparates.
Infelizmente, alguns insistem e
se perdem nos labirintos das promoções de eventos cognominados “congressos
espíritas” que jamais se assemelham às reuniões modestas conduzidas por Jesus
há dois mil anos. Realizam esses festivos encontrões não raro em luxuosos
Centros de Convenções destinados a espíritas abastados. Sem qualquer
inquietação espiritual ou escrúpulos, justificam a cobrança de taxas
(falaciosamente alcunhada de “contribuição espontânea, colaboração ou rateio”)
aos interessados, razão pela qual a flâmula tão “almejada” da “unificação” se submerge nesse cipoal de
incongruências.
Nos chamados eventos grandes,
os órgãos “unificadores” devem envidar todos os esforços para que não haja a
necessidade de qualquer cobrança de taxa de inscrição dos fortuitos
participantes. O ideal será a opção por eventos menores, com estruturas
modestas e eficazes. Muitas vezes temos a impressão de que a liderança atual
deseja concorrer com os segmentos evangélicos a fim de abarrotarem de gente
os ginásios e estádios. Detalhe: o
expositor-mor que arrebanha milhares de ouvintes para esse desiderato não vai
ficar reencarnado 300 anos e já está próximo dos 90.
Batendo sempre na mesmíssima
tecla, recordamos o Cândido Xavier de Uberaba, que alertou: "é preciso
fugir da tendência à ‘elitização’ no seio do movimento espírita (...) o
Espiritismo veio para o povo. É indispensável que o estudemos junto com as
massas mais humildes, social e intelectualmente falando, e deles nos
aproximarmos (...). Se não nos precavermos, daqui a pouco estaremos em nossas
Casas Espíritas, apenas, falando e explicando o Evangelho de Cristo às pessoas
laureadas por títulos acadêmicos ou intelectuais.”(6)
Não queremos ser prisioneiros do
pessimismo. Talvez nem tudo esteja perdido. Não ignoramos que há muitos Centros
Espíritas bem conduzidos em alguns municípios do Brasil. É exatamente por causa
desses Núcleos Espíritas e médiuns humildes que o Espiritismo poderá se manter
simples e coerente, no Brasil e, quiçá, no futuro, possamos dizer que o Brasil
é concretamente a “Pátria do Evangelho e Coração do Mundo ”, segundo Jesus
determinou e ordenou a Ismael a tarefa de administrar essa empreita.
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net
Referências Bibligráficas:
(1) XAVIER, F. C. Brasil,
Coração do Mundo, Pátria do Evangelho (pelo Espírito Humberto de Campos). 11. ed.,
Rio de Janeiro, FEB, 1977.
(2) idem
(3) idem
(4) idem
(5) Entrevista concedida
ao Dr. Jarbas Leone Varanda e publicada no jornal uberabense O Triângulo
Espírita, de 20 de março de 1977, e publicada no Livro intitulado Encontro no
Tempo, org. Hércio M.C. Arantes, Editora IDE/SP/1979
(6) idem