Superações
íntimas por meio do perdão (Jorge
Hessen)
Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
Com Kardec
aprendemos que devemos amar os criminosos [que nos ultrajam] como
criaturas de Deus, “às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos, se se
arrependerem”(1), como também a nós, pelas faltas que cometemos contra sua
lei. Não nos cabe dizer de um criminoso: é “um miserável; deve-se expurgar da
terra; não é assim que nos compete falar. Que diria Jesus se visse junto de si
um desses desgraçados? Lamentá-lo-ia; considerá-lo-ia um doente bem digno de
piedade; estender-lhe-ia a mão. Em realidade, não podemos fazer o mesmo, mas
pelo menos podemos orar por ele.” (2)
No quotidiano, quando
somos ofendidos por esse ou aquele motivo, quase sempre encapsulamos o desejo
de revanche e mantemos o "link" mental com as forças poderosas do
mal, que somadas a outras tantas circunstâncias potencializam as sombras de
nossos desagravos. Naturalmente, o perdão não significa conivência com o erro,
até porque a atitude de perdoar e desculpar sem limites pode incitar
o criminoso à prática do mesmo ato reprovável. Isso não é perdão, mas
subserviência ou omissão.
Ora, todos sabemos
que perdoar coisas leves contra nós mesmos é relativamente fácil; porém, quando
se trata de algo mais grave como um assassinato, um estupro, uma infidelidade
conjugal por exemplo, a dificuldade de superação da mágoa aumenta
consideravelmente. Por isso a Doutrina Espírita leva a refletir que o
perdão será sempre o sentimento que nas superações pessoais transcendem ao próprio
ser.
Escutemos as
palavras de Jesus: "Ouvistes que foi dito: Amarás ao teu próximo, e
odiarás ao teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai
pelos que vos perseguem e caluniam" (3). E mais: "Se
perdoares aos homens as faltas que cometeram contra vós, também vosso Pai
celestial vos perdoará os pecados; mas, si não perdoardes aos homens quando vos
tenham ofendido, vosso Pai celestial também não vos perdoará os pecados".
(4)
Não resta
dúvida de que aprendendo a perdoar estaremos promovendo nosso
crescimento espiritual. Mas não podemos nos deixar ensopar de
hipocrisia ao ponto de dizermos que já conseguimos perdoar todos os que nos
ofendem. Certamente os agravos que nos façam não ficarão isentos das
consequências naturais, mas deixemos a cargo do Criador a justa reparação.
Ouçamos o Mestre:
"Aprendestes que foi dito: olho por olho e dente por dente. – Eu,
porém, vos digo que não resistais ao mal que vos queiram fazer; que se alguém
vos bater na face direita, lhe apresenteis também a outra...". (5) Os
Benfeitores advertem: "No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são
de origem humana os erros que nele se enraizaram. Jesus não quis dizer para
deixarmos de reprimir o mal, mas para não pagar o mal com outro mal. Perdão é o
pagamento do mal com o Bem... O perdão nivela os homens pelo que neles há de
melhor, libertando quem perdoou dos maus sentimentos que o escravizavam a quem
o feriu.” (6)
Refrear o desejo de
vingança não é possível quando alguém sente o coração transbordar de fúria.
Contudo, lembremos que entre o desejo de vingança e a execução da ação
vingativa existe espaço suficiente para exercermos o livre-arbítrio, ou seja, a
escolha entre o bem e o mal. A vingança será sempre uma atitude insensata e
inútil, até porque nenhum benefício trará ao nosso progresso, e uma vez
consumada, terá satisfeito apenas a nossa inconformação diante dos
desconhecidos motivos da nossa provação.
Referências
bibliográficas:
[1] KARDEC,
Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Caridade ara com os criminosos,
instruções de Elisabeth de France (Havre, 1862), Rio de Janeiro: Ed FEB,
2000, Cap. 11
[2] KARDEC,
Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Caridade ara com os criminosos,
instruções de Elisabeth de France (Havre, 1862), Rio de Janeiro: Ed FEB,
2000, Cap. 11
[3] Mateus,
5: 43 e 44
[4] MATEUS,
cap. VI, vv. 14 e 15.
[5] Cf.
Mateus, cap. V, vv. 38 a 42
[6] KARDEC
Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, RJ: Ed FEB, 2003, cap. VI, item 5,
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