Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
Brasília/DF
Há 12 anos, para encantamento de alguns
“espíritas” , aprovou-se, na Câmara dos Deputados, em caráter conclusivo, o
Projeto de Lei nº 291, de 2007, que "dispõe sobre a criação do Dia
Nacional do Espiritismo" (“hein...”? humm...!!!), sem força de feriado,
dispensando, portanto, os que tributam culto a outras religiões, da
obrigatoriedade quanto à homenagear Kardec com os que professam e praticam a
doutrina espírita. (Ufa, ufa...!!!!).
Há 12 anos, sim, há 12 anos, a febre
para os dias comemorativos ao Espiritismo começou a se espalhar pelos rincões
tupiniquins: Vejamos, o projeto apresentado pela Assembleia paraibana, propôs a
criação de 18 de abril como “Dia Estadual do Espírita” (hã...?), que se
transformou em Lei, sancionada pelo governador instituindo a data no Calendário
Oficial do Estado da Paraíba, conforme Lei nº 8.251, de 20 de junho 2007,
publicada no Diário Oficial do Estado, em 21 de junho de 2007. Com misso já
vislumbramos a direção das enxurradas de datas comemorativas que estão por vir.
Vamos pensar um pouco! Será que o
Espiritismo precisa ocupar espaços "com mais liberdade" num dia especificamente
consagrado, por força de um projeto de lei? Há os que dizem que com tais
projetos, o Espiritismo não mais será alvo de "perseguições", como
aconteceu em recuadas épocas. Mas, antes de qualquer consideração sobre o assunto
(projeto-de-lei), peculiar e supérfluo aos objetivos doutrinários, teceremos
breves comentários sobre o Parlamento brasileiro.
Entre os idos de 1999 e 2007, mais de
30 (trinta) proposições foram aprovadas, no Parlamento brasileiro , criando
datas comemorativas. Nas legislaturas recentes, outras dezenas de projetos
foram apresentados com essa finalidade. Enquanto as reformas essenciais se
arrastam há muitos anos, os parlamentares demonstram inimagináveis arroubos de
inventividade, quando o tema é a aprovação de datas memoráveis.
Não é de hoje que a instituição de
datas tem grande apelo entre os parlamentares brasileiros. Para se ter uma
ideia, eis algumas datas propostas, e muitas já aprovadas:"Dia Nacional
do Frevo" - "Dia Nacional de Reflexão do Cantando as Diferenças"
- "Dia Nacional do Ciclista" - "Dia da Televisão"-
"Dia Nacional do Líder Comunitário" - "Dia Nacional do
Forró" - "Dia Nacional do Poeta" - "Dia Nacional do Despachante
Documentalista" - "Dia Nacional do Guarda Municipal" - "Dia
Nacional do Doador Voluntário de Medula Óssea", e assim vai a
fanfarra das comemorações sobre pêndulos da insensatez, nas plagas da
ainda terra brasilis.
Em pesquisa feita no Centro de
Documentação e Informação da Câmara dos Deputados, verificamos que, no
interregno de 1999 a 2007, os deputados aprovaram 609 projetos de lei e
projetos de lei complementar. Desse total, 337 foram apresentados por
parlamentares, 218 pelo governo e 54 por outros órgãos. Dentre os projetos
aprovados no período, de autoria dos parlamentares, cerca de 10% tratam da
instituição de dias comemorativos no calendário nacional. Muitas das propostas
(perdem o sentido) chegam a ser curiosas, ou mesmo extravagantes, por isso, são
arquivadas. Vejamos algumas delas: No segundo mandato do Presidente Fernando
Henrique Cardoso (1999-2002), os exemplos de criatividade foram muitos. Havia
projetos para a instituição do"Dia Nacional da Umbanda", "Dia
da Inovação", "Dia do Cozinheiro", "Dia Nacional do
Taxista", "Dia da Legalidade", "Dia Nacional do
Prefeito", "Dia do Presidente da República", "Dia Nacional
da Reflexão Política" e "Dia Nacional do Perdão".
E as “pérolas” continuaram
cultivadas no primeiro mandato do Presidente Lula (2003-2006), pois havia
projetos, propondo o "Dia Nacional da Verdade", "Dia da
Esperança", "Dia Nacional da Gratidão", "Dia Nacional da
Caridade", "Dia do Sono", "Dia Nacional do Macarrão",
"Dia Nacional do Pescador", "Dia Nacional do Teste do Pezinho",
"Dia Nacional da Voz" e "Dia Nacional da Capoeira".
É verdade que o Brasil é a maior nação
espírita da atualidade; que a Doutrina atende de maneira especial à demanda de
milhões de brasileiros, ávidos por respostas às suas dúvidas e anseios
espirituais, Que o Espiritismo é responsável por inúmeras obras de assistência
social que, reconhecidamente, auxiliam inúmeras comunidades carentes em todo o
País, é a pura verdade, sim, mas e daí?
Cremos que o centro espírita, ao invés
de ficar comemorando e/ou, idolatrando nomes e datas festivas, tem que
funcionar como um pronto-socorro espiritual, em favor das almas em desalinho,
e, não, uma escola de fantasias e ilusões. O Centro tem que estar preparado
para acolher um grupo cada vez mais numeroso de curiosos e de pessoas
instáveis, aguilhoadas nas algemas de suas próprias defecções morais, e que
estão nos abismos obscuros da ignorância.
Quanto aos defensores da idéia do
"Dia Nacional do Espiritismo", nada obsta que lhes despertemos a
consciência, quanto ao que já temos advertido ao público. O Espiritismo nos
traz uma nova ordem religiosa, que precisa ser preservada. É a resposta sábia
das dimensões elevadas do além às indagações íntimas da criatura aflita na
Terra, conduzindo-a ao encontro do Criador. Por essa razão, precisamos
blindá-lo da soberba dos espíritas “ oba-oba”, com suas sugestões aéreas e
inóxias, uma vez que ignoram os elevados objetivos do Espiritismo e tão-somente
fazem parte dos grupos, onde os contra-sensos são oferecidos.
Preservar o Espiritismo, conforme o
herdamos de Allan Kardec, é nossa obrigação, mantendo-lhe a clareza dos
ensinos, a limpidez dos seus conteúdos, não permitindo que se lhe instalem
práticas e empolgações encafifas e ruinosas, que embaraçam os invigilantes e os
menos conhecedores das Obras Básicas. Os Benfeitores alertam, ensinando-nos que
os princípios espíritas produzem júbilos internos e não algazarra exterior.
A liderança do chamado movimento espírita brasileiro “oficial” transformou o ideário da Codificação numa montoeira
de excentricidades , sobretudo no trato com as questões essenciais
do Espiritismo.
Será que já não bastam os CONGRESSOS
ESPÍRITAS PAGOS destinados exclusivamente aos espíritas apatacados?