É tristeza ou depressão? Eis a
questão! (Jorge Hessen)
Jorge
Hessen
Brasília-DF
Antes de abordarmos o tema, cabe
distinguir a simples tristeza da depressão. A tristeza é um sentimento corriqueiro
que surge ocasionalmente em nossos corações. Mormente quando advém um
acontecimento que sacode a nossa vida, porém é provisória.
Estranhamente, hoje em dia qualquer
tristeza é tratada como doença psiquiátrica. Os pacientes preferem recorrer aos
remédios a encarar os desafios da vida. Muitos médicos se rendem aos
laboratórios farmacêuticos e indicam antidepressivos sem necessidade, exceto os
psiquiatras, que são os que menos receitam antidepressivos, porque estão
mais preparados para reconhecer as diferenças entre a “tristeza normal" e
a patológica (depressão).
O que diferencia a "tristeza
normal" da patológica é a intensidade. A tristeza patológica é muito mais
intensa. A normal é um estado de espírito. Além disso, a patológica é longa. É
o aperto no peito, a dificuldade de se movimentar; a pessoa só
quer ficar deitada, tem dificuldade de cuidar de si própria, da
higiene corporal. Na "tristeza normal" pode acontecer isso por um ou
dois dias, mas depois passa. Na patológica, fica nas entranhas do ser.
Quem mais receita antidepressivos não
são os psiquiatras, são os demais médicos. Os psiquiatras têm uma formação para
perceber que primeiro é preciso ajudar a pessoa a entender o que está se
passando com ela e depois, se for uma depressão, medicar. Agora, os não
psiquiatras não querem ouvir. O paciente diz: “Estou triste.” O médico
responde: “Pois não”, e receita o ansiolítico. Eis o problema!
A depressão deriva de duradoura
ansiedade íntima. É uma indiferença de sentir o gozo pela vida, resultando em certo
desgosto por viver. Essa amargura ou vazio d’alma podem estar escoltados por
ideias de morte que se manifestam de múltiplas formas: o deprimido pode almejar
morrer e até atentar contra a própria vida, ou meramente pode não ansiar mais
viver, porém não pensa em tirar a própria vida e até receia a morte.
O processo depressivo pode variar de
magnitude e é qualificado pela psiquiatria como depressão leve, quando os
sintomas não intervêm em demasia no cotidiano, como depressão moderada
quando já há um comprometimento maior na sustentação das atividades habituais e
como depressão grave – neste estágio a pessoa torna-se bastante
limitada na labuta cotidiana.
É muito importante buscar modos de se
evitar chegar nesse nível, trabalhando-se com as causas profundas da
doença, que por ser uma doença das emoções não tem sinais físicos ou
bioquímicos. Frequentemente o doente deprimido ouve frases do tipo
“você não tem nada” ou “depressão é frescura”, às vezes pronunciadas até por
clínicos, que após escutarem o paciente requerem exames complementares que
exibem resultados negativos.
Por outro lado, há aqueles médicos que
se deixam levar pelo lobby da indústria farmacêutica. Não se pode
mais ficar enfadado, apoquentado, triste, porque isso é imediatamente
transformado em depressão. É a medicalização de uma condição humana. É
transformar um sentimento normal, que todos nós temos, dependendo das
situações, numa entidade patológica. Há situações em que, se não ficarmos
abatidos, pode gerar transtornos emocionais – como quando se “perde” um ente
querido. Mas muitos médicos não compreendem racionalmente alguns sentimentos e
sintomas humaníssimos.
Muitos aflitos costumam recorrer aos
tranquilizantes e se debatem aflitivamente para que a aflição não os abarque a
vida cotidiana. É comum nos extasiarmos ante a beleza das estrelas do
firmamento, em rogativas ao Criador, a fim de que a angústia não nos abata
e nem nos alcance a caminhada, ou ainda para que os
sofrimentos desviem para outros rumos. Contudo, a realidade das
provas e expiações ante os estatutos de Deus chegará inexorável como mecanismos
naturas de nossa evolução.
Ante os ventos impetuosos das chibatas
emocionais, nos sentimos vencidos e solitários. Mas em realidade, o que parece
infelicidade ou derrota pode significar intercessão providencial de Deus, sem
necessidade, portanto do uso de tranquilizantes para aliviar a dor. Em muitos
momentos da existência, quando choramos lágrimas de angústias, os Benfeitores
se rejubilam de “lá”, da mesma forma em que os pomicultores de “cá” descansam,
serenos, após o labor do campo bem podado. A vida é assim!
Essas lágrimas asfixiantes, muitas vezes
representam para nós alegrias nas dimensões superiores da vida espiritual.
Evidentemente nossos protetores do além não são indiferentes quando estamos em
padecimentos atrozes, mas eles sabem exatamente que tal situação sinaliza
possibilidades renovadoras no buril do nosso crescimento espiritual.