Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br
Para determinados ortodoxos da academia, o sonho é uma experiência de imaginação do inconsciente durante o estágio de sono. Os neurocientistas, de modo geral, afiançam que o sonho é apenas uma espécie de tráfego de informação sem sentido, que tem por função manter o cérebro em ordem. É verdadeiramente estranho que um fenômeno tão corriqueiro quanto o dos sonhos tenha sido objeto de tanta indiferença pelos arautos do conservadorismo da ciência mecanicista, e que ainda se esteja a desprezar a causa dessas visões.
A metodologia da ciência dominante analisa tão somente os aspectos fisiológicos das atividades oníricas e ainda não conseguiu conceituar com clareza e objetividade o sono e o sonho. Contudo, algumas janelas estão se abrindo. Recentemente os cientistas do laboratório de Yukiyasu Kamitani, do Instituto Internacional de Pesquisas de Telecomunicações Avançadas (ATR) de Kyoto, Japão, organizaram interessante “dicionário” para definir por comparação os sinais do cérebro provindos das imagens do orbe dos sonhos. O estudo objetiva a interpretação plausível dos conteúdos das imagens oníricas através de um dispositivo decodificador das representações dos sonhos.
A análise da atividade cerebral foi realizada por ressonância magnética, permitindo registrar as “imagens” que os voluntários “viam” durante os sonhos, e compará-las a uma tabela de correspondências entre a atividade do cérebro e objetos ou temas de diversas categorias. Para obtenção das imagens sensíveis era necessário que o voluntário fosse acordado durante o sono, a fim de descrevê-las. Será mesmo que uma pessoa que dorme pode ter consciência de que está sonhando? Sim, garante o psiquiatra holandês Dr. Frederick Willem van Eeden, com absoluto respaldo do Dr. Stephan Laberge, da Universidade de Stanford (EUA).
Os sonhos são cercados de mistérios desde os primórdios da existência humana. Para os povos antigos, eles carregavam algo de “sobre-humano”. Eram vistos como um meio de alguém receber orientações e mensagens do além, tanto das divindades quanto dos espíritos. Narrações sobre sonhos são recorrentes nas Escrituras. O texto bíblico reúne mais de 700 citações de sonhos e visões. Grande parte do conteúdo do Corão – livro do Islã – foi revelada a Maomé em sonho.
A “oniromancia” (previsão do futuro pela interpretação dos sonhos) tem ampla confiabilidade nas tradições judaico-cristãs – consta na Torá e na Bíblia que Jacó, José e Daniel possuíam a habilidade de decifrar os sonhos. No Novo Testamento, José é avisado em sonho pelo anjo Gabriel de que Maria traz no ventre uma Criança divina, e depois da visita dos Reis Magos um “anjo” em sonho o avisa a fim de fugir para o Egito e quando seria seguro retornar a Israel. No Islamismo, os sonhos bons são inspirados por Alá e podem trazer mensagens divinatórias, enquanto os pesadelos são considerados armadilhas de “Satã”.
Defendem alguns estudiosos que as imagens consistentes na mente das pessoas no instante do sono são, muitas vezes, resultado de percepções e de memórias antigas que vêm à tona e se encaixam. Isso explicaria os sonhos que parecem trazer soluções para a vida real, como a história do físico alemão Albert Einstein, que concluiu a Teoria da Relatividade depois de um “’cochilinho”. Paul McCartney, certa vez acordou com uma música maravilhosa na memória. Foi até o piano e começou a achar as notas. Tudo seguiu uma ordem lógica. Gostou muito da melodia e como havia sonhado com ela, não podia acreditar que tinha escrito aquilo. “Foi a coisa mais mágica do mundo”, disse o cantor. É dessa maneira que McCartney explicou a criação de "Yesterday", meio século atrás. Abraham Lincolnviu, em sonho, cenas de seu próprio velório, uma semana antes de ser assassinado, relatando-o ao amigo Ward Lamon, que escreveu o episódio em seu diário.
Pensadores, cientistas e filósofos como René Descartes e Friedrich August Kekulé von Stradonitz também tiveram em sonhos visões reveladoras. Descartes, em viagem à Alemanha, teve uma visão em sonho de um novo sistema matemático e científico. Kekulé propôs a fórmula hexagonal do benzeno após sonhar com uma cobra que mordia sua própria cauda. O pai da tabela periódica, Dmitri Mendeleiev, afirmou ter tido um sonho no qual era mostrado o modelo da tabela periódica atual.
Em 1900, com a publicação do livro A Interpretação dos Sonhos, Sigmund Freud propôs dar um caráter científico à matéria. Os sonhos são cargas emocionais armazenadas no inconsciente, que projetam imagens e sons. Fazendo uma analogia, poderíamos pensar numa espécie de "fotografia" do inconsciente naquele momento. Por isso, o sonho sempre demonstra aspectos da vida emocional. Nos sonhos sua linguagem são o que Freud denomina de simbólicas. Para entender seus variados conteúdos, temos que reconhecer o que os símbolos representam nesse sonho. Os sonhos são a estrada fidedigna para o conhecimento da mente.
Carl Gustav Jung, baseado na observação dos seus pacientes e em experiências próprias, tornou mais abrangente o papel dos sonhos, que não seriam apenas reveladores de desejos ocultos, mas sim uma ferramenta da psique que busca o equilíbrio por meio da compensação. Ao contrário de Freud, as situações absurdas dos sonhos para Jung não seriam uma fachada, mas a forma própria do inconsciente de se expressar. Ele aponta os sonhos como forças naturais que auxiliam o ser humano no processo de individualização.
Um aspecto muito importante em se atentar nos sonhos, segundo a linha junguiana, é saber como o sonhador, o protagonista no sonho (que representa o ego) lida com as forças malignas (a sombra), para se averiguar como, na vida desperta, a pessoa lida com as adversidades, a autoridade e a oposição de ideias.
Dormimos cerca de um terço de nossas vidas e o sono, além das propriedades restauradoras da organização física, concede-nos possibilidades de enriquecimento espiritual através das experiências vivenciadas enquanto repousamos. Os quadros simbólicos que os Espíritos fazem passar sob nossos olhos podem nos dar úteis advertências e salutares conselhos, se são Espíritos bons, ou “induzir-nos ao erro ou lisonjear paixões, se são Espíritos imperfeitos.". (1)
O Codificador indagou aos Espíritos "por que não nos lembramos de todos os sonhos?". Os Benfeitores responderam: "Nisso que chamas sono só tens o repouso do corpo, porque o Espírito está sempre em movimento. No sono ele recobra um pouco de sua liberdade e se comunica com os que lhe são caros, seja neste ou noutro mundo. Mas, como o corpo é de matéria pesada e grosseira, dificilmente conserva as impressões recebidas pelo Espírito durante o sono, mesmo porque o Espírito não as percebeu pelos órgãos do corpo.". (2)
Encarnados, não temos consciência das ocupações que podemos assumir durante o momento do sono. Apesar disso, esses trabalhos são inexprimíveis. “Infelizmente porém, a maioria se vale de repouso noturno para sair à caça de emoções frívolas ou menos dignas. Relaxando-se as defesas próprias, certos impulsos longamente dominados durante a vigília extravasam-se em todas as direções por falta de educação espiritual verdadeiramente sentida e vivida.". (3)
Os amigos podem visitar-se durante o sono. “Muitos que julgam não se conhecerem, costumam reunir-se e falar-se. Podemos ter, sem que o suspeitemos, amigos em outros países. É tão habitual o fato de irmos nos encontrar, durante o sono, com amigos e parentes com os que conhecemos e que nos podem ser úteis, que quase todas as noites fazemos essas visitas.”. (4) No transcurso do sono, desapertam-se os laços que “nos prendem ao corpo e nos lançamos pelo espaço, entrando em relação mais direta com os outros Espíritos.”. (5) Quando dormimos, temos “mais capacidades do que no estado de vigília. Lembramos do passado e algumas vezes prevemos o futuro. Adquirimos maior potencialidade e podemos nos colocar em comunicação com os demais Espíritos, quer deste mundo, quer do além.”. (6)
Recomendamos a tarefa preparatória do repouso físico noturno, através dos trabalhos diários honradamente consagrados, a fim de que a noite organize uma região de reencontro das nossas almas, em preciosa reunião de forças, não unicamente a benefício de nossa experiência pessoal, mas sobretudo a benefício dos que estão mergulhados na dor.
Referências bibliográficas:
(1) Kardec, Allan.O LIVRO DOS MÉDIUNS, 59a ed. Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001
(2)Kardec, Allan.O LIVRO DOS ESPÌRITOS,Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001 questão 403
(3) Xavier, Francisco Cândido. Missionário da luz, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB 2000
(4)Kardec, Allan.O LIVRO DOS ESPÌRITOS,Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001 questão 414.
(5)idem questão 401
(6)idem questão 402
http://aluznamente.com.br
Para determinados ortodoxos da academia, o sonho é uma experiência de imaginação do inconsciente durante o estágio de sono. Os neurocientistas, de modo geral, afiançam que o sonho é apenas uma espécie de tráfego de informação sem sentido, que tem por função manter o cérebro em ordem. É verdadeiramente estranho que um fenômeno tão corriqueiro quanto o dos sonhos tenha sido objeto de tanta indiferença pelos arautos do conservadorismo da ciência mecanicista, e que ainda se esteja a desprezar a causa dessas visões.
A metodologia da ciência dominante analisa tão somente os aspectos fisiológicos das atividades oníricas e ainda não conseguiu conceituar com clareza e objetividade o sono e o sonho. Contudo, algumas janelas estão se abrindo. Recentemente os cientistas do laboratório de Yukiyasu Kamitani, do Instituto Internacional de Pesquisas de Telecomunicações Avançadas (ATR) de Kyoto, Japão, organizaram interessante “dicionário” para definir por comparação os sinais do cérebro provindos das imagens do orbe dos sonhos. O estudo objetiva a interpretação plausível dos conteúdos das imagens oníricas através de um dispositivo decodificador das representações dos sonhos.
A análise da atividade cerebral foi realizada por ressonância magnética, permitindo registrar as “imagens” que os voluntários “viam” durante os sonhos, e compará-las a uma tabela de correspondências entre a atividade do cérebro e objetos ou temas de diversas categorias. Para obtenção das imagens sensíveis era necessário que o voluntário fosse acordado durante o sono, a fim de descrevê-las. Será mesmo que uma pessoa que dorme pode ter consciência de que está sonhando? Sim, garante o psiquiatra holandês Dr. Frederick Willem van Eeden, com absoluto respaldo do Dr. Stephan Laberge, da Universidade de Stanford (EUA).
Os sonhos são cercados de mistérios desde os primórdios da existência humana. Para os povos antigos, eles carregavam algo de “sobre-humano”. Eram vistos como um meio de alguém receber orientações e mensagens do além, tanto das divindades quanto dos espíritos. Narrações sobre sonhos são recorrentes nas Escrituras. O texto bíblico reúne mais de 700 citações de sonhos e visões. Grande parte do conteúdo do Corão – livro do Islã – foi revelada a Maomé em sonho.
A “oniromancia” (previsão do futuro pela interpretação dos sonhos) tem ampla confiabilidade nas tradições judaico-cristãs – consta na Torá e na Bíblia que Jacó, José e Daniel possuíam a habilidade de decifrar os sonhos. No Novo Testamento, José é avisado em sonho pelo anjo Gabriel de que Maria traz no ventre uma Criança divina, e depois da visita dos Reis Magos um “anjo” em sonho o avisa a fim de fugir para o Egito e quando seria seguro retornar a Israel. No Islamismo, os sonhos bons são inspirados por Alá e podem trazer mensagens divinatórias, enquanto os pesadelos são considerados armadilhas de “Satã”.
Defendem alguns estudiosos que as imagens consistentes na mente das pessoas no instante do sono são, muitas vezes, resultado de percepções e de memórias antigas que vêm à tona e se encaixam. Isso explicaria os sonhos que parecem trazer soluções para a vida real, como a história do físico alemão Albert Einstein, que concluiu a Teoria da Relatividade depois de um “’cochilinho”. Paul McCartney, certa vez acordou com uma música maravilhosa na memória. Foi até o piano e começou a achar as notas. Tudo seguiu uma ordem lógica. Gostou muito da melodia e como havia sonhado com ela, não podia acreditar que tinha escrito aquilo. “Foi a coisa mais mágica do mundo”, disse o cantor. É dessa maneira que McCartney explicou a criação de "Yesterday", meio século atrás. Abraham Lincolnviu, em sonho, cenas de seu próprio velório, uma semana antes de ser assassinado, relatando-o ao amigo Ward Lamon, que escreveu o episódio em seu diário.
Pensadores, cientistas e filósofos como René Descartes e Friedrich August Kekulé von Stradonitz também tiveram em sonhos visões reveladoras. Descartes, em viagem à Alemanha, teve uma visão em sonho de um novo sistema matemático e científico. Kekulé propôs a fórmula hexagonal do benzeno após sonhar com uma cobra que mordia sua própria cauda. O pai da tabela periódica, Dmitri Mendeleiev, afirmou ter tido um sonho no qual era mostrado o modelo da tabela periódica atual.
Em 1900, com a publicação do livro A Interpretação dos Sonhos, Sigmund Freud propôs dar um caráter científico à matéria. Os sonhos são cargas emocionais armazenadas no inconsciente, que projetam imagens e sons. Fazendo uma analogia, poderíamos pensar numa espécie de "fotografia" do inconsciente naquele momento. Por isso, o sonho sempre demonstra aspectos da vida emocional. Nos sonhos sua linguagem são o que Freud denomina de simbólicas. Para entender seus variados conteúdos, temos que reconhecer o que os símbolos representam nesse sonho. Os sonhos são a estrada fidedigna para o conhecimento da mente.
Carl Gustav Jung, baseado na observação dos seus pacientes e em experiências próprias, tornou mais abrangente o papel dos sonhos, que não seriam apenas reveladores de desejos ocultos, mas sim uma ferramenta da psique que busca o equilíbrio por meio da compensação. Ao contrário de Freud, as situações absurdas dos sonhos para Jung não seriam uma fachada, mas a forma própria do inconsciente de se expressar. Ele aponta os sonhos como forças naturais que auxiliam o ser humano no processo de individualização.
Um aspecto muito importante em se atentar nos sonhos, segundo a linha junguiana, é saber como o sonhador, o protagonista no sonho (que representa o ego) lida com as forças malignas (a sombra), para se averiguar como, na vida desperta, a pessoa lida com as adversidades, a autoridade e a oposição de ideias.
Dormimos cerca de um terço de nossas vidas e o sono, além das propriedades restauradoras da organização física, concede-nos possibilidades de enriquecimento espiritual através das experiências vivenciadas enquanto repousamos. Os quadros simbólicos que os Espíritos fazem passar sob nossos olhos podem nos dar úteis advertências e salutares conselhos, se são Espíritos bons, ou “induzir-nos ao erro ou lisonjear paixões, se são Espíritos imperfeitos.". (1)
O Codificador indagou aos Espíritos "por que não nos lembramos de todos os sonhos?". Os Benfeitores responderam: "Nisso que chamas sono só tens o repouso do corpo, porque o Espírito está sempre em movimento. No sono ele recobra um pouco de sua liberdade e se comunica com os que lhe são caros, seja neste ou noutro mundo. Mas, como o corpo é de matéria pesada e grosseira, dificilmente conserva as impressões recebidas pelo Espírito durante o sono, mesmo porque o Espírito não as percebeu pelos órgãos do corpo.". (2)
Encarnados, não temos consciência das ocupações que podemos assumir durante o momento do sono. Apesar disso, esses trabalhos são inexprimíveis. “Infelizmente porém, a maioria se vale de repouso noturno para sair à caça de emoções frívolas ou menos dignas. Relaxando-se as defesas próprias, certos impulsos longamente dominados durante a vigília extravasam-se em todas as direções por falta de educação espiritual verdadeiramente sentida e vivida.". (3)
Os amigos podem visitar-se durante o sono. “Muitos que julgam não se conhecerem, costumam reunir-se e falar-se. Podemos ter, sem que o suspeitemos, amigos em outros países. É tão habitual o fato de irmos nos encontrar, durante o sono, com amigos e parentes com os que conhecemos e que nos podem ser úteis, que quase todas as noites fazemos essas visitas.”. (4) No transcurso do sono, desapertam-se os laços que “nos prendem ao corpo e nos lançamos pelo espaço, entrando em relação mais direta com os outros Espíritos.”. (5) Quando dormimos, temos “mais capacidades do que no estado de vigília. Lembramos do passado e algumas vezes prevemos o futuro. Adquirimos maior potencialidade e podemos nos colocar em comunicação com os demais Espíritos, quer deste mundo, quer do além.”. (6)
Recomendamos a tarefa preparatória do repouso físico noturno, através dos trabalhos diários honradamente consagrados, a fim de que a noite organize uma região de reencontro das nossas almas, em preciosa reunião de forças, não unicamente a benefício de nossa experiência pessoal, mas sobretudo a benefício dos que estão mergulhados na dor.
Referências bibliográficas:
(1) Kardec, Allan.O LIVRO DOS MÉDIUNS, 59a ed. Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001
(2)Kardec, Allan.O LIVRO DOS ESPÌRITOS,Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001 questão 403
(3) Xavier, Francisco Cândido. Missionário da luz, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB 2000
(4)Kardec, Allan.O LIVRO DOS ESPÌRITOS,Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001 questão 414.
(5)idem questão 401
(6)idem questão 402