segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

KARDEC PONTO COM ENTREVISTA JORGE HESSEN


KARDEC PONTO COM ENTREVISTA JORGE HESSEN
“Brasília, lamentavelmente, tem sido o laboratório de observações onde constatamos os mais inquietantes procedimentos de prática doutrinária.
Confiamos, porém, que essa panorâmica modifique-se para melhor. Acreditamos que sob a liderança do confrade Paulo Maia, atual presidente da Federação Espírita do Distrito Federal, o vagão doutrinário possa deslizar sobre os trilhos seguros, rumo à estação do bom senso.”




 KPC - O movimento espírita, em razão de sua missão, tem compromisso com a própria comunidade e com a sociedade em geral. Ele vem cumprindo bem essa missão?

 JORGE HESSEN - Para o movimento cumprir a sua tarefa sócio-doutrinária, urge a difusão do Espiritismo na sua demonstração mais simples e isso tem sido um desafio. Pairam o egocentrismo, a idolatria e glorificação em torno de médiuns e oradores “carismáticos”.
Obviamente essa postura ingênua desdoura a proposta dos Espíritos. É forçoso, pois, esquadrinhar a lógica e compatibilidade da difusão espírita com base na Codificação. Não se justifica o movimento espírita endeusar e sacralizar médiuns e oradores.


 KPC - O caráter dialético e científico do Espiritismo, a nosso ver, sugere uma constante discussão dos seus métodos e até mesmo dos ensinamentos doutrinários. Por que deixaram de discutir a dinâmica da Doutrina dos Espíritos sob alegação de que toda a sua metodologia está pronta e acabada?

 JORGE HESSEN - Concordamos. O Espiritismo é um compêndio de revelações composto de conceitos evolucionistas. Não se concebe o conhecimento doutrinário estacionado no tempo. Sua metodologia filosófica é de natureza dialética e se fundamenta na experiência (mediúnica).
Entretanto, não esqueçamos que a metodologia “científica” espírita transcende aos métodos experimentais empregados pelos cânones da ciência academista. O universo espiritual é matéria interdita nos intramuros acadêmicos. Os cientistas estão presos nas grilhetas dos interesses utilitários.
O homem de ciência não “perde” tempo na caça dos elos perdidos da reencarnação, da imortalidade, da comunicabilidade dos “defuntos”


 KPC - Como o senhor analisa o atual sistema federativo e a sua contribuição para a unificação do ideal espírita?

 JORGE HESSEN - O modelo federativo atual foi consubstanciado há mais de 60 anos, através do “Pacto Áureo” junto à Federação Espírita Brasileira, graças ao esforço e liderança de confrades do quilate moral de um Leopoldo Machado, um Lins de Vasconcellos, dentre outros.
Contudo, a contemporânea massificação da informação espírita tem provocado trágicas deformidades e prejuízos nas características simples da mensagem e do exercício do Evangelho. Há os que desvalorizam as ações dos órgãos de unificação, conferindo-lhes caráter puramente administrativo, burocrático, com precário sentido prático.
Talvez, em face dos dirigentes comprometidos com órgãos “unificadores” não compreenderem que o Espiritismo veio para o povo e com ele conversar. Por essa razão, recomendamos a tais dirigentes federativos o primado da simplicidade doutrinária, a fim de se evitar tudo aquilo que lembre castas, discriminações, evidências individuais, privilégios injustificáveis, imunidades ou prioridades.


 KPC - Fala-se muito em “pureza doutrinária” dos ensinamentos espíritas. Em que consiste realmente essa pureza?

 JORGE HESSEN - O termo “pureza doutrinária” só é aplicável ao movimento espírita, posto que aí se consolida (na prática) a teoria, a experiência e o emprego que se faz dos conceitos doutrinários na vida dos espíritas. “Pureza doutrinária nada mais é do que a observância dos métodos, rigores, teorias e padrões científicos no trabalho de investigação e incremento de novas informações!
A confusão deriva do conceito de “pureza doutrinária” como artifício de estagnação.
A programação espírita não abriga “novidades” antes de se averiguar todos os seus juízos críticos de validade. A inclusão de novas informações e conhecimentos ao Espiritismo deve passar pelo crivo da razão e, quando, possível, da demonstração.
Não será aceitando, sem discernimento e lógica, opiniões esotéricas, métodos pseudocientíficos e inovações estranhas de todo o tipo que o Espiritismo vai se desenvolve.


 KPC - Como está o movimento espírita no Distrito Federal?

 JORGE HESSEN - Brasília, lamentavelmente, tem sido o laboratório de observações onde constatamos os mais inquietantes procedimentos de prática doutrinária. Confiamos, porém, que essa panorâmica modifique-se para melhor.
Acreditamos que sob a liderança do confrade Paulo Maia, atual presidente da Federação Espírita do Distrito Federal, o vagão doutrinário possa deslizar sobre os trilhos seguros, rumo à estação do bom senso.


 KPC - O que a Confederação Espírita Pan-Americana tem a oferecer ao movimento brasileiro para uma melhor compreensão do pensamento kardequiano?

 JORGE HESSEN - Admitimos ignorância sobre os embasamentos programáticos da CEPA, portanto, não conseguiríamos tecer comentários sobre seus desígnios.


 KPC - Há realmente necessidade de se criar instituições de estudos e pesquisas para desenvolver o aspecto científico do Espiritismo?

 JORGE HESSEN - Nas atuais hostes espíritas não conseguimos divisar esse imperativo. Não obstante, acatar os frutos das pesquisas realizadas pelos saudosos e prodigiosos Hernani T. Santana e Hermínio Miranda, cremos que os admiráveis métodos científicos permaneceram em grande monta adstritos ao século 19.
Apesar do avanço do saber quântico nas academias, as pesquisas espíritas e metapsíquicas do passado, mormente na área dos efeitos físicos, são atualíssmas, satisfatórias e carecem ser melhores aproveitados para nossa reforma íntima, a fim de que futuramente façamos jus a novas informações do além.


 KPC - Suas considerações finais, com o nosso sincero agradecimento.

 JORGE HESSEN - Foi uma honra corresponder-me com os editores e leitores da gazeta digital Kardec Ponto Com. As ponderações finais são de proposta aos espíritas para que não desconsideremos o momento de comprovada transição global que estamos passando, que é o período, segundo Emmanuel em “A Caminho da Luz”, de avaliação e seleção dos valores morais. Portanto, uma estação bastante grave, porque temos os compromissos individuais e pactos coletivos.
Com relação aos responsáveis pela condução do movimento espírita espírita, é muito importante avisar que a tarefa deve ser alicerçada no propósito de legítima união de corações, tendo como meta a “benevolência com todos, indulgência com as imperfeições dos outros, perdão das ofensas”, segundo anota O Livro dos Espíritos, na questão 886.

João Pessoa (PB), Janeiro de 2014.
Carlos Antônio de Barros,
Jornalista responsável e secretário de redação.
DRT-PB / FENAJ 1938 - API 2290