Jorge Hessen
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Permanecer sem comer um ou dois dias por semana pode resguardar o cérebro contra doenças degenerativas como mal de Parkinson ou de Alzheimer, segundo estudo efetivado pelo National Institute on Ageing (NIA), em Baltimore, nos Estados Unidos. Para Mark Mattson, líder do laboratório de neurociências do NIA, “reduzir o consumo de calorias poderia ajudar o cérebro, mas fazer isso simplesmente diminuindo o consumo de alimentos pode não ser a mais perfeita maneira de ativar a memória. É melhor alternar períodos de jejum, em que não se ingere praticamente nada, com períodos em que se come o quanto quiser.” (1)
Nessa linha de pesquisa, os cientistas japoneses do Instituto Metropolitano de Ciências Médicas de Tóquio, no Japão, também afiançam que “passar fome” pode ampliar a memória. Embora necessitem de mais tempo para extrair conclusões categóricas, demonstram, porém, que a “fome desejada” queima toxinas corporais, acorda um hormônio redutor da glicose no organismo e ativa uma proteína no cérebro adequada para auxiliar a memória. Declaram distintos estudiosos que durante o estágio da fome almejada (jejum) a mente fica mais desperta e as percepções aumentam a audição, a visão, o olfato; tudo fica mais fulgente. Isso pode ser um indicativo de que ocasiões de fome programada podem ser benéficas à memória e ao organismo como um todo.
É conveniente desdobrar e comentar esses curiosos elementos para apreciação do papel desempenhado pela tal memória; ir mais adiante, a fim de levantar pontos para estudo, sem a ingênua pretensão de oferecer a palavra final nesta anotação. Afinal, o que é a memória? Para o dicionarista, memória é faculdade pela qual o espírito conserva ideias ou imagens, ou as readquire sem grande esforço.(2) Onde a sede da consciência e do pensamento? Do que são feitas as “vozes” e imagens da reminiscência? Onde enxergamos as imagens produzidas pela recordação? O que é o inconsciente e de onde brotam as lembranças antes de as termos conscientemente? O que é a mente e o que anima o corpo? São questões que o orbe academicista não dá conta de explicar.
A mente é o espelho da vida em toda parte e o cérebro é o centro de suas sinuosidades, originando a força do pensamento que tudo move, instituindo e alterando, destruindo e recompondo para acrisolar e sublimar. “Comparemos a mente humana (espelho vivo da consciência lúcida) a um grande escritório, subdividido em diversas seções de serviço. Aí permanece o Departamento do Desejo, em que operam os propósitos e as aspirações, acalentando o estimulo ao trabalho; o Departamento da Inteligência, dilatando os patrimônios da evolução e da cultura; o Departamento da Imaginação, amealhando as riquezas do ideal e da sensibilidade; o Departamento da Memória, arquivando as súmulas da experiência, e outros ainda que definem os investimentos da alma.”(3)
Sob o guante das teses materialistas, porém, a memória somente advém dos miolos encefálicos. O que está registrado no cérebro provém dos sentidos. A percepção dos sons, imagens, odores, sabores, pressões, aflições, frio, calor, equilíbrio e todas as outras possíveis sensações não se dão nos órgãos sensoriais, mas no cérebro, que interpreta as sensações com base em tudo que tem registrado. Atestam os academicistas que a consciência é a operação cerebral de municiar a pessoa do conhecimento de algo percebido ou processado. Para eles, inexiste o tal espírito.
Para esses defensores, o "eu" é a consciência de si próprio, isto é, uma operação exclusiva do cérebro em reconhecer-se a si mesmo e ao organismo que o contém como algo distinto do resto do mundo. Tudo isso é gravado nas conexões neuronais que formam a memória. Afirmam os catedráticos que todas as operações psíquicas, como pensar, sentir, querer são procedidas sobre os registros da memória, que incluem não só imagens de sensações, mas também registro de operações. Tudo isso pode perfeitamente ser reproduzido em aparato artificial, capaz de ter consciência, emoções etc.
Será que são razoáveis tais assertivas dos arautos do materialismo contemporâneo?
Do ponto de vista espírita, “o cérebro é o dínamo que produz a energia mental, segundo a capacidade de reflexão que lhe é própria. No entanto, na vontade, temos o controle que a dirige nesse ou naquele rumo, estabelecendo causas que comandam os problemas do destino. Sem ela, o desejo pode comprar ao engano aflitivos séculos de reparação e sofrimento; a inteligência pode aprisionar-se na enxovia da criminalidade; a imaginação pode gerar perigosos monstros na sombra, e a memória, não obstante fiel à sua função de registradora, conforme a destinação que a natureza lhe assinala, pode cair em deplorável relaxamento.”(4)
Na verdade, a comunidade científica já comprovou que o pensamento, aliás, os pensamentos são correntes eletromagnéticas - eletricidade e magnetismo, portanto energia! Para aqueles que arrazoam que o pensamento ocorre dentro do cérebro - precisam aceitar que são apenas aparelhos eletromagnéticos e que os pensamentos vêm de fora e não do interior da cachola física. No arcabouço perispirítico, a memória tudo armazena, e pelo mecanismo da criptomnésia(5) são guardadas as conquistas da própria memória, conservando, provisoriamente apagadas, as lembranças de outras vidas pretéritas, por exemplo, o que não significa dizer que não se pode ter acesso a esses acervos de forma natural ou provocada.
Mas será que verdadeiramente a reminiscência do Espírito está armazenada na contextura perispiritual? Memória é a aptidão de evocar informações guardadas em nosso “cérebro psissomático”. Mas como essas imagens ou sensações são arquivadas? Há espíritas que negam tal probabilidade, assegurando serem o corpo físico e o perispírito apenas os veículos de manifestação do espírito. Alegam que o corpo físico não pensa, não raciocina, não memoriza, e portanto a memória não está sediada no corpo físico nem no perispírito, mas reside exclusivamente no próprio espírito, pois o perispírito apenas reflete o pensamento do espírito. Contudo, avaliando que todos os espíritos possuirão para sempre um envoltório perispiritual, até mesmo os espíritos puros (que conterão um invólucro mais divinizado), a questão da sede essencial da memória ainda não estaria elucidada.
Entendemos que os subsídios que adquirimos nas experiências de vidas pregressas, os fatos que desvendamos incorporam-se à nossa memória, cujos registros fundamentais se localizam no “cérebro perispiritual”, e, conquanto gravadas no ocaso do dito inconsciente, jazem ali, à nossa disposição. Quão mais informações tenhamos alcançado no pretérito, mais simplificado se torna decidir com êxito as circunstâncias novas, porque trazemos uma espécie de banco de dados mais amplo, contra o qual checamos comparativamente os episódios novos, as novas conjeturas, as novas experiências. É sempre mais fácil erguer sobre a fundação já solidificada.
Como elucubramos sobre a memória, há, igualmente, por aqui, semelhanças observáveis com a informática, pois os computadores atuais não são mais do que “cérebros artificiais”, embora extremamente primitivos e limitados em comparação com o cérebro perispiritual. São simples bancos de dados que deliberam entre duas alternativas, conforme um programa preestabelecido e de acordo com o estoque de informações que têm gravado em suas memórias.(6) É evidente que não ansiamos expor que o computador seja inteligente, nem que tenha intuição, todavia é correto dizer que se aproveita de um dos atributos da inteligência humana, isto é, a memória.
Referências:
(1) Disponível em , acessado em 17/02/2013;
(2) Disponível em , acessado em 17/02/2013;
(3) Disponível em ;
(4) Disponível em ;
(5) Criptomnésia sf (cripto+mnese+ia) = Memória subconsciente;
(6) Dispositivos de um computador ou sistema informático que permite o registro, a conservação e a restituição dos dados.