Jorge
Hessen
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James Cracknell, um medalhista Olímpio (1), considerado um
dos esportistas mais vitoriosos da Inglaterra, expôs no livro escrito em
parceria com sua esposa, a profunda transformação de sua personalidade, ocorrida
após ter sido atingido na cabeça pelo impacto do retrovisor de um caminhão. Em
face das lesões no lobo frontal do cérebro, Cracknell foi advertido pelo
neurologista que enfrentaria doravante as dificuldades com a memória e perda
significativa do vocabulário. O traumatismo encefálico igualmente comprometeu
drasticamente seu relacionamento com a mulher e o filho. Após o acidente, sobrevieram
os surtos psicológicos de violência nas suas reações, chegando a ameaçar a
segurança de sua esposa, Beverley Turner. Ele conta que quando Turner estava
grávida, tiveram uma discussão violenta e ele tentou estrangulá-la.
Não ignoramos que o cérebro é um órgão bastante enigmático,
porém, em face da avaria encefálica, qual seria a responsabilidade de James
diante da sua mudança comportamental? A neurociência vê o ser humano apenas
como uma máquina, um autômato programado pelo acaso e que, tomando como base a ocorrência
acima, Cracknell nem pode ser responsabilizado pelas suas atitudes. Afiançam os
especialistas que determinadas regiões comprometidas do cérebro são decisivas
para controlar emoção e conduta agressiva.
Sob os auspícios das apreciações espíritas, como podemos abeirar-nos
da temática, considerando o trauma encefálico como agente causal da mudança de comportamento
(livre arbítrio) de alguém? Se uma pessoa tem uma lesão encefálica, é responsável
ou não para assumir seus atos? Deve responder por eles? Garantem os
pesquisadores que a conquista do livre-arbítrio jamais foi completa. Para tais
estudiosos o livre-arbítrio não é mais que uma quimera. Ensaios concretizados
há anos permitiram mapear a essência da atividade cerebral antes que a pessoa
apresentasse consciência do que iria fazer. Seríamos quais computadores carnais
e a tela do monitor seria representada pela nossa consciência. Coloca-se o
livre-arbítrio em suspensão e tenta-se demonstrar que uma província do cérebro,
compreendida na coordenação da atividade motora, apresenta atividade elétrica
uma fração de segundos antes de uma pessoa assumir uma decisão. (!?...)
Articulam os materialistas que a consciência é um produto
da atividade cerebral, que surge para dar coerência às nossas ações no mundo. O
cérebro toma a decisão por conta própria e ainda convence seu “titular” que o
responsável foi ele. Destarte, somos um só: o que é cérebro também é mente. A
sensação de que existe um eu que habita e controla o corpo é apenas o resultado
da atividade cerebral que nos ilude. Então não há nenhum “fantasma” na máquina
cerebral.
Será mesmo? É óbvio que as muitas deduções dos múltiplos
experimentos da neurociência reducionista são ardis da ficção. "A mente
tem a dinâmica de um mosaico de luzes que se projetam pela consciência, que se
contrai ou expande diante do que nos emociona.". (2) Desse Universo
abstrato "emanam as correntes da vontade, determinando vasta rede de
estímulos, reagindo ante as exigências da paisagem externa, ou atendendo às
sugestões das zonas interiores.". (3)
Há estudos consistentes que comprovam a total
impossibilidade de se medir com precisão o tempo entre o estímulo cerebral e o
ato em si, o que, aliás, já derruba
todas as precipitadas teses mecanicistas. A consciência e a inteligência não
são um curto-circuito nem o subproduto casual do intercâmbio de quaisquer
neurônios. Enquanto a ciência demorar-se abraçada à matéria e não alcançar a
dimensão do que não pode palpar, ver e ouvir, ficará ainda extremamente
distante de tanger as imediações da verdade que investiga.
Embora o tentame de explicar materialmente, pela prática
dos neurocientistas, toda a categoria de fenômenos intelectuais, e até "metafísicos",
por meio das ações combinadas do sistema nervoso; e, em que pese a Ciência ter
alcançado certezas conclusivas, como por exemplo a de que uma lesão orgânica
faz cessar a manifestação que lhe corresponde, e que a ruína de uma rede
nervosa faz apagar uma faculdade, ela, contudo, está imensamente limitada para elucidar
os fenômenos espirituais. Em face disso, não podemos afastar o fato da
influência espiritual no cérebro. Faz-se forçoso também compreender não a alma isolada
do corpo mas ligada a esse corpo, o qual representa a sua forma concreta, com
um amontoado de matérias indispensáveis à sua condição de tangibilidade, animadas
por sua vontade e por seus predicados eternos.
Reconhecemos que há neurocientistas circunspectos,
sensatos, explicando que um mundo sem livre-arbítrio provocaria ruptura da paz.
Eles se encorajam notadamente para harmonizar suas teses com o problema da
responsabilidade individual. Mesmo sob um automatismo determinista, eles
reconhecem que todos devem ser responsáveis por suas ações, não fosse assim a
estrutura social embarcaria na desordem caso alguém pudesse violentar, roubar e
matar com embasamento no contexto simplista de que o cérebro decretou fazer
isso ou aquilo. O cérebro assemelha-se a complicado laboratório, "onde o
espírito, prodigioso alquimista, efetua inimagináveis associações atômicas e
moleculares necessárias às exteriorizações inteligentes.”.
O atributo essencial do ser humano é sem dúvida a
inteligência, mas a causa da inteligência não reside no cérebro humano, mas sim
no ser espiritual que sobrevive ao corpo físico. Graças ao Espiritismo, no seu
aspecto filosófico e experimental, está sendo possível construir a sólida ponte
sobre o abismo que separa matéria e espírito. Todo brado de coroados Nobeis de
física alça a sua voz para nos expressar a morte da matéria.
Já é tempo de nos instruir ante os ensinos da ciência
pós-mecanicista do século passado e de nos livrarmos da camisa de força que o
materialismo do século XIX infligiu aos nossos julgamentos filosóficos. Neurocientistas,
“químicos e físicos, geômetras e matemáticos, erguidos à condição de
investigadores da verdade, são hoje, sem o desejarem, sacerdotes do Espírito,
porque, como consequência de seus porfiados estudos, o materialismo e o ateísmo
serão compelidos a desaparecer, por falta de matéria, a base que lhes
assegurava as especulações negativistas.”. (4)
O Homem não é o resultado ocasional de contingências
aleatórias e casuais. “Sem o livre-arbítrio o homem seria uma máquina.”. (5) A
Doutrina Espírita está no extremo oposto do materialismo e é sua missão
desmistificar estas teorias reducionistas que teimam depreciar o ser humano e o
sentido da sua existência. “O cérebro é o órgão sagrado de manifestação da
mente, em trânsito da animalidade primitiva para a espiritualidade humana.”. (6)
Kardec, conhecedor das ideias de Franz Josef Gall, médico
alemão, anatomista e fundador da frenologia (que liga cada função mental a uma
zona do cérebro), interroga os Benfeitores: “Da influência dos órgãos se pode
inferir a existência de uma relação entre o desenvolvimento dos do cérebro e o
das faculdades morais e intelectuais?”. A explicação dos Espíritos não admite
margens a equívocos: “Não confundais o efeito com a causa. O Espírito dispõe
sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos que dão as
faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos.”. (7)
É bem verdade que a neurociência tem envidado esforços
para algemar o Espírito no cérebro, como se a alma fosse uma prisioneira da caixa craniana, e
tentam dissecá-la a fim de comprovar que
o cérebro é a matriz da consciência. Contudo, o Espírito – origem da consciência
humana – tem resistido bravamente ao decrépito reducionismo acadêmico.
Referências bibliográficas:
(2) Facure Nubor Orlando. Operações Mentais e como o Cérebro Aprende, disponível no Site www.geocities.com/Nubor_Facure acesso em 22/03/2013
(3) Xavier, Francisco Cândido. No Mundo Maior, Ditado pelo Espirito André Luiz, RJ: Ed.. FEB, 1997, cap. 4
(4) Xavier, Francisco Cândido. Nos domínios da mediunidade, Ditado pelo Espírito AndréLuiz, “prefácio” do Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1999.
(5) Kardec, Allan. O Livro dos Espiritos, RJ: Ed. FEB, 1977, perg. 843
(6) Xavier, Francisco Cândido. No Mundo Maior, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro:Ed FEB, 1947, cap.4
(7) Kardec, Allan. O Livro dos Espiritos, RJ: Ed. FEB, 1977, perg. 370